Máquina do Tempo, dirigido por Andrew Legge, é um sci-fi avant-garde que mistura docuficção com uma estética retrô. A trama segue as irmãs órfãs Thomasina (Emma Appleton) e Martha (Stefanie Martini), que criam uma máquina, chamada Lola, capaz de ver o futuro, mudando o curso da Segunda Guerra Mundial ao se tornarem uma arma secreta da inteligência britânica. Ambientado em 1941, o filme é embalado por uma trilha sonora eclética – de art-rock a música clássica – que, junto com o uso de câmeras de época e filmagens em preto e branco, cria uma atmosfera imersiva. A estética é cuidadosamente trabalhada, remetendo aos experimentos visuais de Guy Maddin, e oferece um espetáculo audiovisual raro no cinema contemporâneo.
Visualmente, Máquina do Tempo é uma obra impressionante. A cinematografia de Oona Menges utiliza lentes antigas para criar um efeito de filme encontrado, dando autenticidade histórica às imagens granuladas e sobreposições estilizadas. Essa estética é complementada por uma montagem artística que alterna entre o poético e o alucinatório, imergindo o público em um universo alternativo intrigante. No entanto, essa ênfase no estilo acaba sendo uma faca de dois gumes: enquanto o filme encanta os olhos, ele se torna excessivamente autoindulgente em sua apresentação visual, comprometendo o desenvolvimento narrativo e emocional dos personagens.
A trama apresenta ideias ambiciosas sobre as consequências de manipular o tempo e o impacto cultural da mídia, mas falha em explorá-las plenamente. O roteiro se mostra inconstante, começando com uma exploração promissora da descoberta da máquina e das implicações éticas do conhecimento do futuro, mas logo se desvia para um clichê de “salvar a Inglaterra dos nazistas”. Esse desvio reduz a complexidade filosófica da história e transforma Máquina do Tempo em um filme de guerra previsível. Além disso, o roteiro negligencia o desenvolvimento das protagonistas, que começam como personagens carismáticas e complexas, mas são gradualmente reduzidas a ferramentas do enredo de guerra, perdendo profundidade emocional.
Embora Máquina do Tempo impressione pela sua estética inventiva e atmosfera enigmática, a narrativa irregular e o excesso de estilo sobre substância impedem que o filme alcance um potencial maior. A falta de um foco consistente na história e nos personagens faz com que a experiência pareça desconexa, e as ideias provocativas introduzidas no início acabam sendo abandonadas em favor de cenas de ação previsíveis. Apesar de suas falhas, Máquina do Tempo é uma obra ousada e original, que certamente ganhará status cult pela sua inventividade visual. No entanto, é também um exemplo de como um excesso de ambição estética pode prejudicar a força narrativa de um filme.