Eleonore Koch (Berlim, 1926 – São Paulo, 2018) foi uma pintora e escultora de origem judaico-alemã que chegou ao Brasil ainda criança, quando sua família fugiu de seu país de origem durante o regime nazista.
Lore, como foi conhecida pelos mais próximos, era filha de Adlheid Koch, pioneira no processo de institucionalização da psicanálise no Brasil, sendo a primeira atuante da área na América Latina.
Conhecida por ser a única aluna de Alfredo Volpi, um dos artistas mais importantes da segunda fase do modernismo, Lore aprendeu a técnica de pintura à têmpera, que explora contrastes e tensões.
Celebrando sua obra e vida, chega aos cinemas, no dia 13 de fevereiro, o documentário As Cores e Amores de Lore, dirigido por Jorge Bodanzky, com produção, roteiro e montagem de Bruna Callegari e trilha sonora de Flavia Tygel.
A sinopse do documentário apresenta registros dos últimos cinco anos de vida da artista, que trabalhou com a mãe de Bodanzky em São Paulo durante a década de 1950. A partir da curiosidade em saber mais sobre ela, o diretor nos conduz a uma viagem pela trajetória de Lore, explorando sua intimidade, seu processo artístico e temas como feminismo, sexualidade e amadurecimento.
Um elemento que claramente se destaca durante os 80 minutos de exibição do documentário é a sensibilidade da direção ao retratar a jornada de Lore com uma perspectiva imersiva e íntima, levando-nos, de forma cada vez mais profunda, à complexidade de sua personalidade e visão de mundo, que se mostra muito à frente de seu tempo.
Essa proximidade se deve à posição do narrador, interpretado pelo próprio Bodanzky, e sua relação indireta com a artista pela sua mãe, o que nos proporciona uma experiência de companhia enquanto espectadores. Não apenas conhecemos Koch e sua vida, mas também Rosa e os elementos que ambas as famílias tinham em comum, como o fato de serem imigrantes.
A trajetória de Lore é apresentada não apenas por meio de seu próprio relato, fotos e recortes de jornal, mas também através de suas cartas. Esse recurso representa não apenas um registro histórico da comunicação em tempos menos tecnológicos, mas também fragmentos de diversos períodos da artista, sua expressão e seus sentimentos transmitidos pelas palavras.
E, por meio dessas palavras, conhecemos os romances que teve e sua visão como mulher décadas à frente de seu tempo, em uma época em que tudo era tão conservador que não se permitia expressar afeto livremente.
Todo esse conjunto de histórias nos mostra como cada experiência de sua vida se agrega e, de alguma forma, se transforma em parte de sua arte. Isso nos evidencia que um artista expressa não apenas uma mensagem por meio de seu trabalho, mas também sua personalidade.
Além de sua vivência, sua perspectiva sobre o processo artístico e sua relação com Volpi – influência marcante em sua identidade como pintora – se mostram impactantes até mesmo nos registros em que analisa suas próprias obras. Da mesma forma, suas reflexões ao longo da trajetória profissional revelam momentos de conquistas, fracassos e como cada etapa desse processo a impactava.
O documentário conclui com os relatos dos últimos dias de Lore, refletindo sobre sua vida como um todo e sobre as escolhas que fez, encerrando com a concretização de um desejo, ainda que postumamente.
As Cores e Amores de Lore emociona por ser um mergulho profundo nos pensamentos de uma artista tão importante, permitindo-nos compreender com clareza a intensidade de sua vida e de sua obra.