Prisão nos Andes é o filme de estreia na direção de Felipe Carmona, que explora os últimos dias de poder de ex-militares do regime de Pinochet, condenados por crimes contra a humanidade.
A história se passa em uma prisão luxuosa nos Andes, onde esses homens vivem em condições que se assemelham mais a um resort do que a uma punição real. O filme revela a recusa desses antigos líderes em reconhecer suas responsabilidades e a forma como tentam preservar seus privilégios, mesmo após a queda do regime. Quando uma entrevista pública dada pelo General Contreras gera uma reação negativa fora da prisão, as tensões internas aumentam, resultando em violência e caos.
Destacando como esses homens ainda agem com arrogância e autoridade, mesmo dentro do confinamento. Personagens como Miguel Krassnoff ainda treinam os guardas, mostrando que, embora tenham sido oficialmente despojados de seu poder, eles fazem de tudo para manter qualquer influência que possam ter. A dinâmica entre os prisioneiros e os guardas também é um ponto central, especialmente a relação entre o jovem guarda Navarette, que, submisso e inseguro, ainda sente o peso da autoridade desses homens. O filme sugere que as cicatrizes do regime de Pinochet ainda afetam a sociedade chilena, mesmo décadas depois de sua queda.
As cenas de violência casual são impactantes e ilustram a facilidade com que os personagens falam sobre os atos bárbaros que cometeram, sem demonstrar qualquer remorso. Essa frieza, combinada com o diálogo aparentemente trivial sobre suas atrocidades, cria um efeito perturbador e reforça a mensagem de que o poder corrompe profundamente. Um dos aspectos mais fortes do filme é seu estudo de personagens, que questiona se esses homens sentem algum tipo de arrependimento — o filme responde com um claro “não”. A falta de empatia por parte dos protagonistas é o que torna a narrativa ainda mais assustadora e cativante.
Visualmente, o filme impressiona com seu uso inteligente de luz e cores, destacando a frieza e a dureza dos personagens. Embora o ritmo da narrativa pudesse ser mais ágil em alguns momentos e algumas subtramas, como a do guarda Navarette, se sintam desconectadas do enredo principal, “Prisão nos Andes” se destaca pela forma como equilibra momentos de humor sombrio e situações desconfortáveis.
A reflexão final que o filme propõe sobre o trauma coletivo e a relação entre o passado e o presente faz dele uma obra provocante e essencial, que aborda questões de poder, responsabilidade e moralidade.