Dirigido e escrito pela cineasta Caroline Fioratti, Meu Casulo de Drywall é um drama existencial sombrio que mistura mistério e angústia adolescente. O filme gira em torno da morte misteriosa de Virginia (Bella Piero), que acontece durante sua festa de 17 anos, realizada no luxuoso apartamento de sua família. Desde o início, o ambiente de alta classe cria uma atmosfera inquietante, enquanto os convidados da festa parecem mais distantes e desconfiados do que alegres. A narrativa nos coloca imediatamente diante das consequências dessa tragédia, deixando claro que algo terrível já aconteceu antes mesmo que possamos acompanhar os eventos de forma linear. A obra alterna entre os momentos da festa e as cenas do dia seguinte, quando Virgínia é encontrada morta e a polícia começa a investigar.
Ao longo do filme, Fioratti nos apresenta uma série de personagens que, embora centrais à história de Virginia, lutam com suas próprias questões emocionais e existenciais. Nicollas (Michel Joelsas), o namorado de Virginia, sua mãe Patricia (Maria Luísa Mendonça) e sua amiga íntima Luana (Mari Oliveira) são figuras que expressam diferentes formas de sofrimento e desconexão. A atuação de Mendonça, em especial, destaca-se ao retratar o luto devastador de uma mãe que perdeu sua filha de maneira súbita. No entanto, a estrutura fragmentada do filme, que intercala diferentes momentos no tempo, acaba por diluir o impacto emocional dessas cenas, tornando o sofrimento mais performático do que profundo.
O filme explora temas como abuso, solidão e auto-ódio de forma bastante explícita. Virginia, por exemplo, é uma adolescente popular, mas profundamente solitária, que lida com a negligência dos pais e o abuso do namorado. Fioratti literaliza esse abuso com marcas invisíveis nos braços de Virginia, destacando o impacto psicológico e físico que ela sofre. Outros personagens, como Luana e Nicollas, também enfrentam crises internas, envolvendo sexualidade, automutilação e niilismo. Esse conjunto de traumas cria um ambiente opressivo no qual todos parecem perdidos, presos em suas próprias dores e incapazes de se conectar uns com os outros.
A ambientação em um condomínio de luxo contribui para o sentimento de alienação que permeia o filme. A direção de arte e a cinematografia reforçam essa sensação com planos claustrofóbicos e ângulos que distanciam os personagens do mundo exterior. A cobertura onde acontece a festa parece existir em uma dimensão separada, um lugar onde os impulsos perigosos se manifestam com facilidade. Essa sensação de isolamento também sugere uma crítica às armadilhas da alta sociedade e ao modo como o privilégio e o poder podem ser opressivos. Contudo, o filme não se compromete com uma mensagem clara, deixando em aberto interpretações que vão desde uma crítica a Pais controladores e que não dão espaço na vida de seus filhos, até uma metáfora sobre a pandemia.
Apesar de temas universais e visuais impactantes, Meu Casulo de Drywall não consegue sustentar totalmente suas ambições. A tentativa de Fioratti de construir uma narrativa que combina mistério e drama psicológico resulta em uma experiência que por vezes parece fria e distante. Comparações com outras obras, como As Virgens Suicidas e Thirteen Reasons Why, são inevitáveis, já que o filme toca em temas similares sobre a vida adolescente e tragédias súbitas. No entanto, enquanto Sofia Coppola, por exemplo, consegue criar uma sensação de efemeridade e conexão emocional, Fioratti parece lutar para encontrar um ponto de vista que realmente envolve o espectador.
No fim, Meu Casulo de Drywall é um filme que apresenta atuações notáveis e uma direção visualmente marcante, mas que se perde em sua própria complexidade narrativa e na falta de uma abordagem mais humana e calorosa. A obra explora de forma interessante os perigos da desconexão emocional em ambientes privilegiados, mas o resultado é uma história que, embora intrigante, deixa a sensação de que seus personagens já haviam desistido de si mesmos antes mesmo de começarmos a nos importar com eles.