Recentemente, ao reassistir Super Mario Bros: O Filme, da Illumination, me deparei com uma questão curiosa: por que Cranky Kong é representado como um chimpanzé se ele é pai de Donkey Kong, que é um gorila? Essa questão talvez não fosse algo que me chamaria a atenção antes, mas, depois de maratonar a franquia Planeta dos Macacos, desenvolvi um olhar mais atento para diferenças entre primatas, símios e prossímios.
A Classificação dos Primatas
Antes de tudo, vale esclarecer as diferenças biológicas entre essas categorias. Os primatas se dividem em duas grandes subordens: os Strepsirrhini (prossímios) e os Haplorhini (símios). A principal diferença é que os símios não possuem cauda e apresentam um focinho reduzido, enquanto os prossímios (como lémures e saguis) têm caudas longas e focinhos mais pronunciados.
Dentre os símios, temos os grandes primatas (hominidae), que incluem gorilas, chimpanzés, bonobos, orangotangos e seres humanos. Estes são exatamente os protagonistas de Planeta dos Macacos, onde nenhum dos personagens tem rabo, confirmando sua classificação como símios.
O Curioso Caso da Família Kong
Donkey Kong sempre foi representado como um gorila, assim como seu antecessor. Isso é coerente com sua inspiração original no King Kong, que também é retratado como um gorila gigante (ou seja, um símio, pois não tem cauda). Entretanto, Cranky Kong, que seria a versão envelhecida do Donkey Kong original de 1981, é claramente representado como um chimpanzé nos jogos mais recentes e no novo filme. Isso causa uma incoerência biológica: gorilas e chimpanzés pertencem à mesma família, mas são gêneros distintos e não evoluem de um para outro.
Outro ponto curioso é que, segundo manuais da Nintendo, Diddy Kong é sobrinho do DK. Porém, ele claramente tem uma cauda, o que sugere que ele não é um símio, mas sim um prossímio, como um sagui ou um macaco-prego. Isso cria uma discrepância dentro da família Kong, pois biologicamente Diddy Kong estaria mais afastado dos outros primatas do grupo.
Outros Exemplos no Entretenimento
O fenômeno da classificação biológica incoerente não é exclusivo de Donkey Kong. Outras franquias famosas apresentam inconsistências semelhantes, como Dragon Ball. No caso da transformação Oozaru, muitas vezes há a impressão de que se trata de um gorila gigante. No entanto, Oozaru possui cauda, o que indica que essa forma não pertence à categoria dos símios. Todos os sayajins do Universo 7 nascem com cauda, o que sugere que, ao contrário dos humanos terráqueos, que pertencem à família dos símios, os sayajins poderiam estar mais próximo dos prossímios.
Já a influência mais direta dos sayajins, o Rei Macaco Sun Wukong, tem uma classificação ambígua. Não há um consenso sobre que tipo de macaco ele representa, pois suas descrições variam ao longo das diferentes versões da lenda. Em algumas representações, ele se parece com um macaco-aranha, em outras com um chimpanzé, e em algumas versões, ele assume uma forma humanoide ou quase-humana. No entanto, a maioria das interpretações modernas o apresentam como um mico-leão-dourado antropomórfico, reforçando sua associação com os prossímios.
Por outro lado, King Kong mantém uma classificação biológica mais coerente. Tanto no filme original quanto no Monsterverse, ele é representado explicitamente como um gorila gigante. Como esperado de um símio, ele não possui cauda, o que está de acordo com a biologia dos grandes primatas.
Conclusão
A mudança da representação de Cranky Kong de gorila para chimpanzé provavelmente é uma escolha meramente artística, sem base biológica. A franquia Donkey Kong nunca foi cientificamente precisa em sua representação dos primatas, mas é interessante notar essas discrepâncias quando analisamos as obras sob uma lente mais atenta. Eu mesmo levei anos para perceber que os gorilas, assim como os chimpanzés, não tinham caudas. Sempre desenhei o Donkey Kong com rabo e, creio eu, pode ter sido por influência do Oozaru em Dragon Ball.
De qualquer forma, a discussão sobre primatas na cultura pop é fascinante e mostra como o conhecimento científico pode enriquecer nossa análise de filmes e jogos, mesmo que não seja essencial para sua apreciação.