Quando olhamos para o tempo suspenso que vivemos durante a pandemia, parece até brincadeira. O filme do aclamado cineasta francês Olivier Assayas traz essa ideia de retratar, com simplicidade, os momentos delicados que passamos. Tempo Suspenso (Hors du Temps) participou de dois festivais de cinema e mistura comédia e poesia na telona.
A aproximação da história narrada no filme à história vivida por bilhões de pessoas torna o enredo do filme muito próximo ao espectador. A gente se enxerga em diversas cenas e ri delas porque “Poxa! Eu também ficava nervosa quando as pessoas se aproximavam sem máscara de mim”. Nossas neuroses estão retratadas no longa e isso, hoje, é até engraçado.
O filme autobiográfico conta a história de um cineasta, Paul (Vincent Macaigne), e seu irmão Etienne (Micha Lescot), um jornalista musical, que se confinaram durante o isolamento de 2020 na casa de campo da família no interior da França. Eles e suas parceiras Morgane e Carole (Nine D’Urso e Nora Hamzawi) vivem as angústias de um momento inédito da História e situações divertidas e animadas repletas de memórias da infância.
A narrativa tem um bom andamento, a atuação traz veracidade e, de fato, facilmente nos enxergamos no desespero de pessoas que não aguentavam mais estar confinadas ou que reclamavam que em um determinado mercado os funcionários não usavam máscara. Pode parecer um enredo meio pobre, mas, ao contar sobre esse momento, com cenas entremeadas de poesia, devaneios e cenários exuberantes do interior da França, o espectador é um pouco transportado para dentro da tela.
Algo que me chamou à atenção no filme, além das sequências brilhantes, foi a temática do futuro. Todos vivemos um tempo suspenso e nos perguntamos “como vamos fazer compras agora?”, “o que será do meu trabalho?”, “como serão as relações?”… Bom, eu sou jornalista e escrevo no Qual é a das quintas? desde 2013, e uma questão que, não apenas passou pela minha cabeça, mas eu escrevi no blog, foi pensando sobre o futuro do cinema (que você pode ler aqui). Era impossível eu, Aline, não me identificar tanto com Paul como com Etienne.
Após algum tempo de confinamento, algumas coisas se tornaram menos inconvenientes e mais normais, mas o temor ainda resistia. Sim, estou falando do filme, mas também da vida real. O final do longa me trouxe apenas a reflexão sobre tudo o que passou: momentos difíceis, com medo, mas também divertidos e junto com pessoas que amo. Talvez, essa seja mesmo a proposta do cineasta, de nos fazer relembrar e pensar que, felizmente, já passou, no entanto, o que carregamos de tudo isso?
De segunda a sexta, esse é um filme sexta-feira à tarde, numa tarde chuvosa em que você fica de moletom na sala tomando um chocolate quente assistindo na TV.