“O Contato”, de Vicente Ferraz, é um documentário que explora os impactos da colonização na Amazônia, especialmente na vida dos povos indígenas em torno de São Gabriel da Cachoeira. O filme acompanha a jornada de três famílias em trajetos entre a cidade e aldeias, revelando os efeitos duradouros da colonização na religião, saúde e no cotidiano desses povos.
Diferente de documentários tradicionais, “O Contato” apresenta relatos orgânicos e íntimos, com memórias dolorosas da colonização e imagens de arquivo que contrastam com uma perspectiva mais neutra do diretor. Embora o filme possa parecer roteirizado em certos momentos, a honestidade dos relatos prevalece.
O impacto na vida desses povos, principalmente na saúde mental, causado pelo capitalismo, fica claro logo nos primeiros minutos do documentário, em que vemos o aumento na taxa de suicídio de diversos jovens e homens da família por não conseguirem emprego. Outro aspecto impactante é o preconceito entre pessoas da tribo que perderam o hábito de falar sua língua materna, o que faz com que aqueles nascidos fora da aldeia sejam vistos como párias, mesmo que sejam crianças. Isso é observado em um dos filhos de uma das famílias, uma criança que tem celular e, em vez de brincar com outras crianças da aldeia, fica isolado diante da tela do aparelho.
Poderia citar muitos outros aspectos que ficam nas entrelinhas do documentário, mas o diretor tenta distanciar-se da visão colonizadora comum de outros filmes sobre indígenas, mostrando respeito pela complexidade cultural influenciada pela colonização. Apesar de a estrutura do filme, sem narração, poder gerar certa confusão, essa escolha estilística desafia convenções e convida o público a uma reflexão mais profunda sobre a narrativa, demonstrando que o diretor tem total controle sobre o que deseja apresentar neste material.