Obra de Wes Anderson é o proscênio das várias histórias sobre o encontro de dois mundos.
Em 1955, numa cidade fictícia do deserto estadunidense, é realizada uma convenção astronômica que reúne estudantes e seus familiares. Tal evento, no entanto, é interrompido de súbito por um tímido alienígena, pondo a cidade e sua miscelânea de personagens em quarentena.
Se “A Crônica Francesa” (2021) utilizava uma alegoria jornalística como estrutura narrativa, “Asteroid City” (2023) utiliza uma alegoria teatral. Sob esse viés, temos uma metalinguagem em que o filme divulgado no material promocional é, na verdade, apenas a representação lúdica de uma peça de teatro dentro do próprio filme.
No que só poderia ser considerada uma sacada minimamente oportuna, Wes Anderson dispõe da desculpa perfeita e do cenário apropriado para exercer todas as suas excentricidades. Dito isso, o senso de artificialidade não gera (ou, ao menos, não deveria gerar) desconforto e o roteiro difícil de seguir encontra, na linguagem teatral, sua razão de ser (embora ainda seja passível de críticas).
Uma temática de sobreposição de mundos aparece de maneira recorrente ao longo da história mas possui, em elementos alienígenas, um mero simbolismo visual, pois não exerce tão significante influência no grande esquemas das coisas. Essa temática é, por sua vez, muito mais sutil e põe os personagens em foco nesse amálgama de cinema com teatro. Seja pelo conflito de identidade entre intérpretes e personagens, por uma mudança pitoresca na ordem de certos adjetivos, ou até mesmo um momento cômico bastante inteligente envolvendo o narrador do longa-metragem. Não darei mais detalhes a fim de preservar a experiência dos leitores.
Uma belíssima direção de fotografia, além de planos, composições de cena e movimentos de câmera simples – mas, ainda assim, chamativos – permeiam as menos de duas horas desse filme. Creio, entretanto, que ele encontrará obstáculos em uma hipotética tentativa de agradar ao grande público, muito por conta do teor de sua linguagem, que pode ser considerado um tanto inacessível. Em suma, uma obra que encapsula tudo o que há na filmografia do excêntrico cineasta, muito provavelmente agradará aos fãs e tenho minhas dúvidas se em algum momentos ele precisou (ou sequer se propôs) fazer mais do que isso.