Poucas são as vezes em que um jogo consegue cativar tão gradualmente, de uma maneira tão despretensiosa, que sem perceber, nos encontramos num completo estado de paixão. Essa foi a sensação que tive ao jogar OneShot.
Logo nos primeiros minutos de jogo já é possível reconhecer a necessidade de explorar todo o ambiente para concluir determinado objetivo, sendo feita de maneira intuitiva, similar aos jogos da geração 16 bit. Nesse mesmo momento também somos apresentados a uma de suas mecânicas mais surpreendentes quando, de repente, o jogo quebra a quarta parede conversando com o jogador.
Mas afinal, o que seria a quarta parede? Imagine-se atuando numa peça de teatro, a parede atrás de você é a primeira, nas laterais se encontram a segunda e a terceira, em frente ao ator há uma parede imaginária, a quarta, que o separa do público, mantendo ativa a crença do espectador.
Ao contrário do que é feito no teatro, em que a quebra da quarta parede tem o objetivo de fortificar o fato de que aquela obra é uma ficção, tal quebra em OneShot cria um processo de imersão fantástico com o jogador, nos tornando peça fundamental do jogo.
Além dessa principal mecânica, de trazer o jogador para dentro da história, OneShot possui outras funcionalidades que, apesar de serem similares a muitos outros jogos, constituem todo o seu charme.
Um dos principais exemplos são seus puzzles cuja única maneira de serem solucionados é a completa busca por pistas em todo o mapa da região. Tendo alguns deles a quebra da quarta parede como única resolução. Apesar dos desafios, aparentemente, simples de serem resolvidos, a diversão por sua busca é constante do início ao fim do jogo.
Em OneShot o protagonista é um menino, com olhos e chapéu de gato, chamado Niko. Ele é o messias desse mundo, incumbido por um ser divino a salvar o mundo da escuridão. No jogo você é essa divindade, um Deus conhecido e idolatrado por vários personagens ao longo da história.
O mundo de OneShot é constituído por três regiões: Terras Áridas, O Vale e O Refúgio. Ao longo da jornada, Niko e o jogador encontram vários personagens com histórias únicas e mesmo não havendo diálogos que revelem seu passado, é possível conhecê-los um pouco melhor a partir dos inúmeros textos espalhados pelo mundo. No entanto, suas histórias não são muito desenvolvidas e aprofundadas. Você sabe que eles possuem um background e sente o desejo de conhecer toda a sua trajetória, mas, devido as pouquíssimas informações reveladas, o jogo acaba deixando uma sensação de vazio em sua narrativa.
Como vários jogos de aventura clássica, o personagem é uma pessoa comum jogada num estranho mundo, cabendo ao jogador conhecê-lo ao máximo para salvá-lo de uma eminente catástrofe.
A quebra da quarta parede fica mais evidente através do contato com Niko, que em diversos momentos conversa com o jogador, desde assuntos relacionados ao destino do mundo a saudade de sua casa e o carinho materno.
Através de uma narrativa com toques similares a literatura intimista aliada a um design artístico atraente e carismático, é fácil se apaixonar por OneShot. Sendo um dos poucos jogos que quebram a barreira imaginária de uma maneira tão natural e imersiva, a misteriosa jornada de Niko cria uma experiência mágica para qualquer apaixonado por videogames.
OneShot está disponível em português na plataforma Steam
Nota: 4/5 — ÓTIMO
Pontos positivos:
+ Interação imersiva com o jogador cria uma experiência única de gameplay
+ Gráficos retrô atraentes
+ Puzzles de divertida resolução
Pontos negativos:
– Pouco aproveitamento narrativo dos personagens secundários
– Jogo relativamente curto