Duas meninas desaparecem na mata de sua cidade e retornam sem memórias do que ocorreu. A partir daí, acontecimentos inexplicáveis cercando as duas faz o pai de uma delas ir atrás de Chris MacNeil (Ellen Burstyn), uma mãe que teve sua vida mudada para sempre após o exorcismo traumático de sua filha Regan.
“O Exorcista: O Devoto” é a mais nova empreitada do diretor David Gordon Green que recentemente dirigiu uma trilogia da franquia Halloween que, assim como seu filme mais recente, ignorou todas as sequências existentes e criou uma nova linha temporal a partir do original. A diferença aqui é que Halloween (2018) tinha muito mais tecido conectivo com o original e fazia um mínimo de sentido em existir. Já “O Devoto” carece de conexões tanto em tom quanto em espírito, salvo aparições de personagens clássicos que pouco importam nessa nova história.
A divulgação faz parecer que a história gira em torno de duas meninas, porém fica claro desde o começo que o foco é na família de Victor Fielding (Leslie Odom Jr.). De cara somos informados da perda sofrida por Victor de sua esposa durante o parto de sua filha Angela (Lidya Jewett). Pula para o presente onde somos apresentados à boa convivência dos dois, com brincadeiras pela casa que obviamente servirão de tentativa de susto mais tarde. Até aqui vemos o “arroz com feijão” do roteiro do original: deixar evidente a felicidade no núcleo familiar para partir nossos corações depois. Mas dessa vez temos uma segunda família que não ganha nenhuma profundidade e isso afeta negativamente o filme quando chega no seu terceiro e decisivo ato. Apesar das vítimas serem duas meninas de 13 anos – o que é suficiente para sentir pena das duas – só é apresentada a história familiar de uma delas e, portanto, uma protagonista e uma coadjuvante são criadas na mente da audiência.
Assim como em Halloween Ends (2022), existe uma idéia interessante aqui mas que não é bem trabalhada. Seja falta de sutileza ou falta de entrega ao material, as falas de encorajamento e de união soam muito bregas e nunca inspiram a idéia de Bem contra o Mal. Eu devo ter revirado os olhos mais que as duas possuídas com os momentos de “vamos dar as mãos que tudo passará”. São cenas que lembram novelas de TikTok, é vergonhoso. Oposto a isso estão as atuações muito boas das meninas Angela e Katherine (Olivia O’Neill). São papéis duplos, os de vítimas do que aparenta ser um caso de abdução e os de demônios no corpo das meninas. Apesar de atuarem bem, os momentos que deveriam causar terror e apreensão nunca atingem seu potencial por conta do todo não ser mais do que uma desculpa para encaixar Ellen Burstyn, que retorna como Chris MacNeil. Novamente o diretor Green consegue um bom valor de produção para uma história fraca. O pior é que ainda tem mais dois desses filmes por vir.