Novo épico histórico do diretor Ridley Scott traz uma amálgama de pontos de vista sobre a figura controversa de Napoleão Bonaparte e o resultado é uma mistura de sentimentos que quase se anulam e no final há uma indiferença à vida pessoal do personagem quando se leva em consideração as consequências das Guerras Napoleônicas.
Napoleão é retratado desde a Revolução Francesa como um grande estrategista militar, com batalhas muito bem filmadas para que o público consiga visualizar suas decisões estratégicas com facilidade. Ele também é retratado como um homem de masculinidade e orgulho frágeis, sendo um mau perdedor em diversos momentos ou simplesmente ignorando sua derrota – seja no lado militar ou no íntimo com sua esposa Josefina. Todas as faces dele aqui tem um certo embasamento histórico e bastante interpretação pessoal do diretor e dos atores que retratam o casal protagonista, citando até mesmo passagens verdadeiras das cartas trocadas por Josefina e Napoleão quando o próprio estava em missões no exterior. O problema é que há um desequilíbrio entre as vontades da produção e o que de fato aconteceu.
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Esse filme já estava gerando controvérsia antes mesmo de sua estréia por conta de críticas de historiadores – até mesmo que foram consultados na produção – com relação às liberdades tomadas na história sobre os feitos de Napoleão. Claro que filmes de época raramente tomam o caminho da fidelidade aos acontecimentos. Entretanto, vivemos na era da informação nas pontas dos dedos e certas alterações são mais graves que outras. Não digo que há uma fabricação completa dos eventos retratados no filme, mas há mudanças que vão além de um simples ponto de vista. Por isso recomendo que se importe menos com a precisão histórica mais com os simbolismos e o que eles representam para quem foi Napoleão Bonaparte.
Por outro lado, é um belíssimo filme, com a qualidade esperada de Ridley Scott. Cenários e figurinos impecáveis, saídos diretamente de pinturas neoclássicas, dando a sensação de caos e rebelião que havia na sociedade francesa do final do século XVIII. A fotografia das batalhas simplifica a visão estratégica de Bonaparte e cria uma tensão de tirar reações do público – destaco aqui a Batalha de Austerlitz, na Áustria. A edição de som é a cereja no topo, trazendo as batalhas para o entorno do público – recomendo ir a uma boa sala de cinema, como IMAX ou a Xplus do UCI.
Uma coisa fica clara em “Napoleão”: estamos acostumados a acompanhar histórias de personagens minimamente carismáticos – mesmo quando são vilões – e não é o caso aqui, principalmente mais para o final após a morte de Josefina, quando fica claro que o que resta acompanhar é sua derrota militar e exílio final que resulta em sua morte. Não há mais o que explorar de sua personalidade e esses momentos se tornam vazios pois não há mais nada de interessante a se ver a não ser esperar pelo óbvio.
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