Gosto muito de uma frase que li esses dias, tanto que coloquei no meu site profissional e nos marcadores de livros que levei para a Flim: “Imaginamos o que não existe para criar o que sonhamos” (autor desconhecido). A 9ª Festa Literária Internacional de Maricá me trouxe para esse lugar de sonhar e imaginar, e não podia ser diferente quando o homenageado era ninguém mais e ninguém menos que Ziraldo.
“Ziraldo era um especialista em infância (…) e o maior artista plástico do Brasil” (Aroeira).
Infelizmente, só consegui participar mesmo do primeiro final de semana da Festa, mas trago aqui algumas das minhas descobertas e um (nem tão) breve resumo de como foi a experiência.
Para quem não conhece, a Flim é produzida pela Prefeitura de Maricá, é totalmente gratuita e com incentivos das secretarias de Educação e Cultura. Os alunos da rede pública e de programas, como o Passaporte Universitário, recebem vouchers para comprar livros. Além disso, outras secretarias municipais participam com instrução e serviços aos munícipes e visitantes.
A programação deste ano trouxe nomes excepcionais e eu tive a oportunidade, também, de conversar com algumas autoras moradoras de Maricá. A Laura Costa, por exemplo, foi secretária de educação na década de 1990 e trouxe Ziraldo para a Bienal do Livro na cidade. Para ela, que escreveu dois livros, o evento é uma ótima oportunidade para difundir a leitura na população, uma vez que Maricá não possui livrarias, apenas bibliotecas públicas nas escolas.
Essas autoras me contaram sobre o sonho de escrever, como chegaram a publicar e, além disso, as temáticas que envolvem seus trabalhos, sempre trazendo a importância de falar sobre assuntos que precisam ser mais difundidos, inclusive, na infância. Joselene Negra Black fala em poesias, contos e crônicas sobre inclusão e representatividade da mulher, do negro e TEA. Ana Luísa Magalhães estava extremamente feliz por participar da Flim e ofertar seus livros de poesia sobre mulheres e para mulheres, e um infantil que é inspirado em sua própria filha.
Luciana Pinheiro, Liliane Mesquita e Danielle Viana me contaram sobre suas lindas trajetórias no mundo da escrita, tendo o estar na Flim vendendo seus livros a realização de um sonho. Elas abordam em suas produções a fome, a pobreza, o abuso sexual infantil, educação parental e dicas para viver nos dias atuais.
A autora Andreia Prestes esteve em uma roda de conversa junto com o professor e doutor Celso Vasconcellos, quando falaram sobre a importância de resgatar a memória familiar e identidade coletiva. Dentre os assuntos tratados no encontro, destaco a necessidade de manter a memória da população acesa e a apresentação para a criança e o jovem daquilo que ainda não é difundido, a abertura para todos os temas. Andreia, por exemplo, é autora do livro infantil “Era uma vez um quintal”, em que conta sobre João Massena Melo, seu avô, que, um dia, saiu de casa para uma reunião e desapareceu durante a ditadura militar.
Paulinho Moska e Lenine estiveram no palco do Papo Flim, conversando com Maurício Pacheco. Eles falaram sobre como a música tem o poder de contar histórias e como a poesia e as regionalidades são protagonistas dos seus trabalhos. Os dois destacaram a importância de ir além da rima pela própria rima, entregando sentido às letras e à musicalidade. Não preciso nem falar dos shows de Sandra Sá e Lenine que foram incríveis no palco, não é?
A linda homenagem a Ziraldo contou com uma roda de conversa que trouxe outros grandes nomes do chargismo e desenho brasileiros: Aroeira e Miguel Paiva. Adriana Lins (sobrinha e presidente do Instituto Ziraldo), conversou com os cartunistas e Laura Costa sobre a influência do homenageado em suas obras e eles contaram várias histórias divertidas e emocionantes sobre seu relacionamento com o escritor. Miguel e Aroeira, por exemplo, levavam seus desenhos para a avaliação de Ziraldo, que amava trabalhar em grupo e, basicamente, inventou o design gráfico no Brasil.
“Da mesma forma como a gente não se esquece de Shakespeare, (…) não vamos nos esquecer de Ziraldo” (Aroeira).
Confesso que eu fiquei tão maravilhada durante a roda de conversa entre Igor Pires, Thalita Rebouças, Felipe Fagundes, Andressa Santos e Tuca Andrada que nem consegui anotar nada. Meus olhos brilhavam! O bate-papo super leve e descontraído revelou como os autores se relacionam com a escrita e com o público, além de ressaltar a relevância dos temas tratados por eles nos contextos familiares e da adolescência e juventude. Leia aqui a entrevista exclusiva que fiz com Igor Pires.
A Festa Literária Internacional de Maricá continua até dia 10 de novembro, na Orla do Parque Nanci, com a presença de Roberta Sá, Vanessa da Mata, MV Bill, Geraldo Azevedo e muitos outros grandes nomes.
Se eu pudesse resumir meu primeiro final de semana de Flim, seria exatamente isso: desejo renovado por ler mais e me dedicar mais à escrita. Claro que foi super cansativo, mas extremamente recompensador. Foi uma oportunidade ímpar de estar próxima a pessoas que amam ler e escrever e que foram resgatadas pelo poder que a palavra tem.