Acerto de Contas, Parte 1 é o mais novo episódio (chamarei assim e você irá entender no decorrer do artigo) da franquia Missão: Impossível estrelado por Tom Cruise e dirigido por Christopher McQuarrie que acompanha a franquia desde o quinto episódio – Nação Secreta.
Pra começar, quero adiantar que mais uma vez vemos Tom Cruise fazendo as suas próprias cenas, mas desta vez de uma forma mais cautelosa, após ter sofrido um acidente nas gravações do último filme da franquia – Efeito Fallout – agora ele tem sido um pouco mais pé no chão, por mais que ainda tenha alguns momentos alucinantes. Inclusive, é presente no roteiro dando a entender que o personagem Ethan Hunt está perto de se aposentar como agente campo. O roteiro inclui vários personagens jovens integrando ou interessados no IMF, como um novo entregador de mensagens, um agente federal que defende as ideias de Ethan e uma ladra que busca por uma chance nova para recomeçar sua vida intepretada por Hayley Atwell. Inclusive, vemos também flashbacks de como Ethan entrou para o IMF. Essa abordagem pode ser vista como uma maneira de permitir descanso para Tom Cruise caso ele não consiga mais realizar cenas de ação nos próximos filmes
O filme não supera o antecessor, Efeito Fallout, nem mesmo supera o terceiro e o Protocolo Fantasma, mas creio que parte da culpa disso é por ser Parte 1, o que dá a sensação de que não vimos o filme por inteiro, tal como acontece em Homem-Aranha Através do Aranhaverso, mas diferente deste que parece que o filme é cortado no começo do terceiro ato, aqui não, aqui vemos um filme completo, mas com gancho para a parte dois. Como se fosse um episódio duplo da série clássica de mesmo nome que inspirou a franquia de filmes, só que ao invés da duração de episódios para tv, são dois episódios bem grandes e para o cinema. Na verdade, o mesmo já havia sido feito em Nação Secreta e Efeito Fallout que, apesar de não se chamarem Parte 1 e Parte 2, tem a história contínua e com o mesmo vilão.
E por falar no vilão, quero destacar um parágrafo para isso. Me surpreendi como a temática foi bem atual desta vez e eu realmente não estava esperando por isso. Desta vez, ao invés de uma bomba nuclear, o mcguffin é uma super IA, mas não do jeito clichê que tenho visto em alguns filmes recentes vilanizando a tecnologia – como no recente Moonfall de Roland Emmerich. Não, a IA existe e ela pode ser, sim, a arma mais letal do mundo, pode simplesmente manipular a verdade, mas o problema real está em quem terá seu controle na disputa – uma crítica bem atual aos bilionários comprando redes sociais ou ao governo manipulando o algoritmo em favor de influenciar em campanhas. E exatemente por isto que existe uma corrida entre as nações para quem vai ter a posse desta tecnologia, denominada a Entidade, coisa que o Ethan está tentando impedir, buscando meios para destruí-la em seu código-fonte, reconhecendo o poder excessivo que ela representa nas mãos de uma única pessoa ou agência. A narrativa destaca a importância de considerar não apenas a existência da IA, mas também a maneira como ela pode ser utilizada e manipulada.
Para isto, Ethan agora terá de enfrentar esta missão, mais uma vez contrariando ordens do governo, sem poder contar com os recursos que ele sempre tem em mão, o que permite novos truques de roteiro para não contar, por exemplo, com as máscaras ou com o GPS, coisas que facilitaram demais a vida do IMF nos últimos filmes, pois, nas palavras do próprio Luther (Ving Rhames), Ethan está agora a jogar um xadrez 4-D contra um algoritmo que pode prever todos os seus passos e que está lutando contra ele, pois não quer ser desativado e fará de tudo para garantir sua sobrevivência, incluindo armar tentativas de matar os protagonistas “de forma acidental”.
Por mais que tenha menos cenas memoráveis que os filmes mais recentes da franquia, o roteiro dessa vez se supera finalmente saindo do enredo cíclico de quase todos os filmes, embora ainda use bastante de alguns clichês típicos da franquia. Os efeitos visuais práticos mesclado com computação gráfica na pós-edição continuam dando realismo e sinto que, desta vez, como Ethan enfrenta um inimigo invisível e que prevê seus movimentos, finalmente podemos sentir tensão e risco de morte para o personagem ou qualquer um de sua equipe. A música e os efeitos sonoros ainda são de arrepiar. E para quem esperava o retorno da Julia (Michelle Monaghan), aqui vai um pequeno spoiler: Não, ela não volta, o arco dela se encerrou no episódio anterior e de forma muito satisfatória. Aqui parece que veremos um começo de um novo arco. E por falar em encerramento de arcos, se prepare para lamentar a morte de quem já nos afeiçoamos.
Apesar de ser apenas a primeira parte de uma história maior, o filme consegue se sustentar como uma obra completa, porém com um gancho para a parte dois. Missão: Impossível – Acerto de Contas, Parte 1 é um lembrete do legado duradouro da franquia e de sua capacidade de se reinventar, ao mesmo tempo em que nos mantém ansiosos pelo próximo capítulo dessa emocionante saga de espionagem.
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