A segunda temporada da série brasileira Cidade Invisível estreou na Netflix com a difícil tarefa de superar a primeira temporada, que foi muito bem recebida pelo público.
Um dos pontos positivos da nova temporada é a inclusão de cenas que se passam na Amazônia, mais precisamente em Belém do Pará, o que foi uma resposta à crítica da primeira temporada por se passar inteiramente no Rio de Janeiro. Além disso, a segunda temporada apresenta lendas menos conhecidas do folclore brasileiro, como a Matinta Perê (interpretada por Letícia Spiller), a Maria Caninana, a Cobra Honorato, a Mula Sem Cabeça, o Zaori e o Lobisomem em sua versão brasileira.
No entanto, apesar desses elementos positivos, a trama da segunda temporada é corrida e deixa muitas pontas soltas. Não há explicação clara sobre como Eric (Marcos Pigossi) retorna e como ele adquire o novo poder que lhe permite absorver os dos outros. Além disso, a função de sua filha, Luna (Manu Dieguez) e a ligação da lua com a origem de quase todas as entidades ainda não são claramente explicadas. Mesmo Inês (Alessandra Negrini), que acaba assumindo o papel de figura materna para Luna durante a misteriosa ausência de Eric, acaba em determinado momento sendo retirada de toda importância que carregava desde o começo pois, aparentemente, não souberam como inseri-la neste novo meio.
Alguns personagens apresentados acabam ficando sem desenvolvimento a partir de determinado momento, como foi o caso de Telma (Kay Sara), que parecia ter uma função semelhante à de Eric na primeira temporada, sendo uma policial ambiental com fim de proteger as aldeias paraenses, mas que no fim acaba sendo apenas a filha da pajé Jaciara e servindo de ponto para aprofundar Débora (Zahy Tentehar) que é quem acaba surpreendentemente ganhando a trama central da metade para o final, mas de forma corrida. Aliás, o fato de darem mais oportunidades para atores e atrizes da região deu muito mais característica para a temática do seriado.
Ainda assim, fica visível que o grande gasto com gravações externas no Pará diminuiu o orçamento para com efeitos visuais, trilha sonora e acabou limitando o número de episódios assim também apressando a trama, deixando várias pontas soltas.
Apesar dessas críticas, ainda é muito interessante ver um trabalho que se aprofunda de forma madura nas lendas do folclore brasileiro. O tema que na primeira temporada era o de darmos valor a natureza que nos cerca, não só a física, mas também a espiritual, aqui acaba sendo ainda mais literal com a cultura amazônica, a ponto de abordarem o terror do garimpo que invade as regiões protegidas, destrói a mata e assassina povos indígenas. Porém, fica claro que após o fim da primeira temporada não havia planos para dar continuidade a esta história e, por isso, não souberam como dar prosseguimento ou mesmo uma conclusão.
Embora a segunda temporada de Cidade Invisível apresente elementos interessantes, a trama corrida e cheia de pontas soltas não conseguiu atingir o mesmo nível de qualidade da primeira temporada. No entanto, ainda é uma série que vale a pena assistir para quem aprecia o folclore brasileiro e o sobrenatural e espero que, se houver mais temporadas, que explorem a possibilidade de usar de cenário outras regiões e suas culturas locais, além de finalmente nos dar respostas para dúvidas que parecem que talvez nem os autores sabem.