Obra tenta construir um legado próprio, dentro e fora das telas, mas comete equívocos na maneira em que recorre ao passado.
Terceiro capítulo da trajetória de Adonis Creed é interessante, embora esteja aquém de seus predecessores. É necessário ressaltar, no entanto, que ao me referir ao sucesso pregresso estou direcionando foco aos longa-metragens mais recentes da franquia, em particular ao excelente “Creed: Nascido para Lutar” (2015) e não àqueles protagonizados por Sylvester Stallone. Olhá-lo sob uma ótica retrospectiva é pertinente uma vez que esse filme tenta novamente eludir e superar o passado, mas não sem usar seus antecedentes como artifício para justificar decisões narrativas.
Agora, encaminhando-se à aposentadoria, Adonis Creed precisa mais do que nunca lidar com dilemas emocionais, pois, de acordo com sua própria esposa, ele não terá mais no esporte a válvula de escape para seus problemas e precisa estar mentalmente estável para criar sua filha. Não fosse o bastante, um adversário resurge das sombras trazendo consigo antigas memórias, além de um espírito revanchista e destrutivo contra o qual nosso herói terá de lutar sem o amparo de seu treinador, Rocky Balboa.
Admito que assisti ao filme sem saber das intrigas nos bastidores que levaram à ausência de Sylvester Stallone. Imaginei, portanto, que sua saída tinha sido planejada pelo próprio, ainda mais considerando que a trajetória dele se concluiu no segundo filme. Essa lacuna na história seria bem-vinda, em tese, pois daria uma chance para mais personagens se desenvolverem e permitiria que trilhassem seu próprio caminho. Entretanto, ela se apresenta como um obstáculo quando começa a gerar incongruências (não entrarei em detalhes, mas apenas direi que a ausência de Rocky Balboa após um determinado acontecimento do filme é nada além de inverossímil).
Apesar disso, creio que o filme entretém e invariavelmente agradará o público geral, muito por causa da base sólida criada pelos últimos dois, mas também devido às adições. Mantém-se o entrosamento maravilhoso entre os personagens de Tessa Thompson e Michael B. Jordan. Ademais, no que se refere à inovação, destaque para a influência de animações japonesas na concepção das sequências de luta. Em meio a um amálgama de novidades e lembranças, essa poderia ser uma digna conclusão da trilogia, mas paira no ar uma obstinada atmosfera de continuidade.