Como nunca houve aqui no site Terra Nérdica alguma crítica do seriado Alice in Borderland (Imawa no Kuni no Arisu) farei aqui um resumo das duas temporadas. Para quem nunca assistiu, a série japonesa é uma adaptação live-action de um mangá de mesmo nome. Na história, acompanhamos Arisu (Kento Yamazaki) – ou Alisso, derivado de Alice, – o jovem desempregado que não fazia nada além de jogar o dia inteiro vai parar com seus dois amigos, o técnico em informática Chota (Yuki Morinaga) e o barman Karube (Keita Machida), numa versão inabitada de Tóquio. Neste mundo, descobrem que são obrigados a participarem de jogos mortais toda noite, do contrário, serão mortos.
(Atenção! Spoilers da primeira temporada a partir daqui)
O trio sobrevive até seu terceiro jogo, o 7 de Copas, um jogo onde Arisu passa a ser o único sobrevivente, mas que, mesmo deprimido, acaba unindo forças com a alpinista Usagi (Tao Tsuchiya) que conhecera no segundo jogo, o 5 de Espadas, que acaba se compadecendo ao vê-lo sozinho após a morte de seus amigos.
Arisu e Usagi ficam cada vez mais unidos enquanto exploram este novo mundo. Juntos, participando e vencendo inúmeros jogos, descobrem que, além de cada jogo ter um nível de dificuldade representado por uma carta de baralho, cada naipe significa uma modalidade: Espada – jogo físico, Paus – jogo coletivo, Copas – jogo psicológico, Ouro – jogo de inteligência.
São atraídos então, tal como a maioria dos sobreviventes deste mundo, para um hotel conhecido como A Praia, local gerenciado pelo Chapeleiro (Nobuaki Keneko) que tem como objetivo coletar todas as cartas a fim de retornar para seu mundo, fazendo assim uma missão coletiva para todos os que passam a viver na Praia.
Faltava somente a carta 10 de Copas para completar o baralho numérico, mas antes que pudesse concluir seu objetivo, o Chapeleiro é morto, perturbando os ânimos da Praia, que começou uma bagunça até que Asahi (Mizuki Yoshida) é encontrada morta no salão do hotel, revelando ser o começo do jogo final das cartas numéricas: o 10 de Copas, o jogo psicológico mais difícil até o momento, que põe a desconfiança de todos os membros da praia em questão, onde o jogo só acabaria quando a bruxa, a assassina de Momoka, fosse morta, fazendo com que Aguni (Sho Aoyagi), o segundo em comando, mas que se torna o principal gerente após a misteriosa morte do Chapeleiro, decide matar todos em busca da bruxa, causando a maior chacina já vista até agora nesse País como o Chapeleiro chamava.
O jogo explora a origem de todos os personagens através de flashbacks pondo-os uns contra os outros e só termina quando Momoka (Kina Yazaki), melhor amiga de Asahi que foi morta para dar início ao 10 de Copas escolhida pelos Game Masters simplesmente por ter cansado-se de ser uma Dealer, revela-se a Dealer do 10 de Copas sendo morta pelos Game Masters e pondo fim ao jogo.
A Praia então é queimada e o grupo principal agora formado não só por Arisu e Unagi, mas também por Shuntaro (Nijiro Murakami), Ann (Ayaka Miyoshi), Hikari (Aya Asahina) e Tatta (Yutaro Watanabe), descobre através da gravação do celular de Momoka, informações sobre onde se reuniam os dealers apostando a vida dos jogadores. Ao chegar no local, encontram os apostadores mortos e Mira Kano (Riisa Naka), uma colega da Praia, se revela ser a Game Master e que como eles haviam zerado os jogos numéricos agora começariam os de maior dificuldade. Eis que então aparecem no céu balões com cartas de figura (Rei, Rainha e Valete) de todos os naipes também e aí termina a primeira temporada.
Segunda temporada:
A segunda temporada começa com o grupo principal escapando do Rei de Espadas. Uma chacina rola no centro do País causada por balas anti-tanque e um encapuzado metralhando pessoas para que estas se afastem das ruas e sejam obrigadas a participar dos outros jogos. Os jogadores resolvem então zerar os jogos de figura enquanto descobrem mais sobre este mundo e como voltar para casa.
(Atenção! Spoilers da segunda temporada a partir daqui)
É no jogo do Rei de Paus que descobrem que os dealers eram antigos jogadores que se tornaram cidadãos após zerarem todos os jogos. O jogo do Rei de Paus é uma espécie de pique-bandeira que põe o grupo de jogadores contra um grupo de cidadãos e o grupo perdedor seria morto no final.
Ao decorrer da temporada vemos jogos muito mais interessantes do que na primeira, como foi o caso do Valete de Copas, um jogo onde os desafiantes se reuniriam numa prisão e teriam que confiar uns nos outros para dizer-lhes o naipe certo na nuca da coleira de cada um e que só acabaria quando o Valete de Copas errasse, fazendo uns desconfiarem dos outros até sobrarem somente poucos.
Também teve a Rainha de Espadas, uma espécie de dama corrida. Numa estrutura de metal, os participantes divididos em equipe teriam que enfrentar a equipe adversária através de 16 rodadas de 5 minutos tentando capturá-los para seu time e no final a equipe com menos participantes seria morta.
Também teve o Rei de Paus onde os jogadores deveriam chutar um número de 0 a 100 em que no final de cada rodada a média seria multiplicada por 0.8 e os quatro jogadores com resultado mais distante perderiam pontos até serem eliminados um a um e mortos.
A cada jogo vencido, um balão no céu caía e aquela área se tornava liberada para o Rei de Espadas, fazendo com que, no final, enfrentar o Rei de Espadas fosse inevitável. Ao juntarem-se para vencer o Rei de Espadas numa manhã, muitos são mortos e eis que sobra o jogo final: a Rainha de Copas, onde Arisu joga croquete contra a própria Mira Kano e o único desafio era o de jogar até o final sem que desistisse, mas curioso para saber do que se tratava este mundo, Arisu é manipulado e quase desiste, mas é salvo por Usagi que lhe traz de volta a seu objetivo de voltar para casa. Assim, a Rainha de Copas é morta e todos os jogos são zerados, mas antes, diz a Arisu que independente de sua escolha final, este iria perceber que vida é um jogo.
É então que é dada a escolha aos sobreviventes: de ficar neste País como cidadãos, ou seja, Dealers dos games para os próximos desafiantes, ou retornar para casa. Alguns aceitam ficar e outros retornam. Os que retornam, acordam no hospital após sobreviverem ao impacto de um meteoro que atingiu Tóquio. Os que morreram nos games são os que não acordam. Os sobreviventes passam a ter lembranças bem vagas do outro mundo e termina a série mostrando que o nível de dificuldade agora era o Curinga.
Atuação:
Sobre a atuação, o elenco deste é um dos melhores que já vi em obra japonesa. Estamos acostumados a ótimas atuações em filmes ou séries coreanas como a recente Round 6 que fez muito sucesso também na Netflix e que tem uma temática bem parecida por sinal, apesar do contexto muito mais real e sócio-econômico enquanto Alice in Borderland é mais filosófico. O elenco principal é muito expressivo. Confesso não gostar muito da atuação de Kento como Arisu, mas todos os outros principais brilham demais, especialmente Tao como Usagi, Nijiro como Shuntaro e Aya como Hikari, que são os que tem a maior carga dramática da série.
Edição e Ritmo:
E por falar em drama, a série tem um ritmo viciante que faz você querer saber logo onde tudo vai dar. Você fica tenso e preso na tensão dos personagens. Não só curioso em saber do que este mundo se trata, mas também em saber se os personagens sobreviverão e poderão retornar para suas casas.
Como um mangá sem muita fantasia como monstros ou poderes pôde ser adaptado ao live-action com muito mais facilidade do que outros mangás de sucesso, permitindo-se a criação do excelente cenário apocalíptico que vemos, além da ação e sanguinolência super bem produzida para os moldes asiáticos.
O ritmo frenético que muitas vezes intercala com o drama extenso também é uma característica das produções asiáticas, mas que estão acostumados e sabem fazer isto muito bem. O espectador pode até não se prender no início, mas da metade para o final está completamente vidrado.
Quanto a edição, era notável que na primeira temporada cada jogo era adaptado em um episódio, não a toa que era fácil diferenciar cada episódio por seu jogo em foco, mas já na segunda temporada os episódios passaram a terminar em momentos chaves, assim criando mais cliffhangers e prendendo mais a atenção a fim de que o espectador não parasse de ver no final de cada episódio, e como a plataforma Netflix já começa o episódio seguinte em 10 segundos após o final do anterior, esta temporada pôde ser reproduzida com muito mais entusiasmo do que a primeira.
Achei cansativo somente o episódio final que tem o dobro de duração e é o que menos ação tem, tal como é costume em séries asiáticas (como no próprio Round 6), a ação termina e fica só as conclusões dramáticas.
Conclusão:
É claro que o final deixa em aberto para uma possível terceira temporada, com uma conclusão que pode ser frustrante para quem esperava respostas definitivas. A Rainha de Copas dá várias explicações possíveis sobre o que o outro mundo é, explicações estas que podem ser aceitas ou não. No fim, tudo se resume a luta de cada um para sobreviver.
Se haverá uma terceira temporada? Bom, eu soube que a segunda temporada realmente encerra com o final do mangá original, mas que existe um mangá que serve de continuação e que se a Netflix quiser renovar pode ser que adaptem esta continuação. Porém, é normal em séries e novelas asiáticas ter um final natural que realmente encerra tudo. Ou seja, a esperança de novas temporadas é um costume muito mais ocidental, pois o costume oriental é de simplesmente tê-lo bem encerrado e assim fiquemos com novas histórias, mas aparentemente o gancho no final foi proposital para deixar em aberto caso renovem. Ficamos ansiosos então, pois gostamos bastante desta série, mas preocupados, pois dar continuidade ao que foi finalizado nem sempre é uma boa história.