Então eu acabei de terminar de assistir a nova série Andor de Star Wars do Disney+ e devo dizer que me surpreendi muito. Você pode conferir minhas primeiras impressões se quiser e ver que eu não estava tão confiante. Na verdade os três primeiros episódios que foram lançados de uma vez realmente não me prenderam. Tanto é que eu demorei muito para voltar a ver e só retornei quando já estava saindo o sétimo. Foi então que assisti tudo de uma vez e de repente não consegui parar mais e se tornou para mim a melhor série de Star Wars por motivos que vou explicar aqui.
Como o nome sugere, é uma série de origem de Cassian Andor (Diego Luna), o assassino rebelde apresentado em Rogue One. Depois de ser recrutado por Luthen (Stellan Skargard) para ajudar no roubo do mês inteiro de pagamento do império, você passa a ver um arco de filme de assalto em que o são apresentados os personagens da equipe. Cada um com sua especieliade e motivação diferente tornando uma equipe que só faltava este novo membro, que é o nosso ouvido, para ser perfeita. Assim, somos motivados a esperar seu sucesso enquanto é apresentado o Manifesto da Rebelião ao mesmo mais sem motivação possível. É então que a gente percebe que verá como alguém sem interesse em lutar por ninguém além de si mesmo pode passar por tudo para que se torne um guerrilheiro convicto.
Além disso, somos também apresentados a alguns outros dois personagens que também estavam em Rogue One, como é o caso da Senadora Mon Mothma (Caroline Blakiston), personagem presente na trilogia original e trazida de volta pela mesma atriz do Episódio 3 e de Rogue One. Aqui vemos do ponto de vista de como é ser um rebelde diplomata. Como uma senadora em Coruscant, onde o Império mantém uma falsa sensação de democracia para manter a ordem entre os nobres acreditando que estes podem mudar algo com política, enquanto a senadora tenta ao menos criar leis que beneficiem os mais humildes, em segredo ela move a Rebelião enquanto ninguém nem mesmo de sua família pode saber da verdade, como seu próprio marido e filha que são completamente devotos ao sistema que o Império lhes concedeu, o que é algo muito assustador e real.
É aqui que vemos Star Wars na sua forma mais fura: sem lutas de sabres de luz, sem batalhas de nave espacial, somente uma Guerra Fria que remete muito aos Estados Unidos ocupando militarmente os paíse, como no período em que chamamos de Regime Militar aqui no Brasil em que tínhamos aqueles que apoiavam, mesmo sem motivos, a ocupação militar imperialista estrangeira, outros que ousavam enfrentar e eram mortos ou sumidos por isso, e outros que simplesmente não vêem como isso pode afetar a vida deles, o que é o caso de Andor até o momento em que o Império finalmente afeta sua vida o suficiente para despertar sua raiva contra a máquina e, vou te falar, essa é a parte mais magnifica deste seriado.
Além da Senadora também temos Saw Gerrera (Forest Whitaker reprisando seu papel de Rogue One). Este já apresenta um espectro um pouco mais extremista da rebelião, bem mais assumidamente guerreilheiro e combatente, diferentemente da Senadora e outros com vida dupla em Coruscant onde incomodam o Império sem gerar desconfiança, apesar do crescimento da perseguição ao chamado Eixo, a teoria imperial de uma aliança rebelde entre guerrilheiros, dimplomatas e espiões infiltrados no Império.
É aí que vemos pela primeira vez com grande foco o ponto de vista dos imperiais. Nas primeiras impressões eu falei sobre os investigadores Pre-Mor, mas agora você vê a investigação imperial desde seu lado mais adminitrativo caçando o tal Eixo e tentando manter aquela ordem. È muito interessante a forma como é apresentado cada personagem como igual, apesar de um lado fascista, você vê como cada um tem suas motivações humanas. Cada um tem sua fragilidade, sentimentos e ambições.
É importante ressaltar como essa série pode te deixar muito desconfortável, a ponto de você ser apresentado mesmo a um novo tipo de tortura criada pelo Império. A intenção é realmente incomodar para passar a sensação de incômodo que aqueles personagens estão tendo com tudo de ruim que acontece, mesmo que você saiba como termina, é bom torcer e ficar feliz quando aqueles que tanto sofreram finalmente se revoltam contra a opressão.
E tudo isso sem precisar trazer de volta algo que se tornou repetitivo, não só em Star Wars, que é o mito do pai solteiro. Não temos ali um bichinho ou uma criança para o protagonista proteger. Na verdade, acaba esta sendo talvez a única série de Star Wars realmente adulta. Nâo que eu ache que Star Wars deva ser adulto, mas aqui foi e foi muito bem, tal como o filme Rogue One que mantém a mesma atmosfera.
A atmosfera é a de um thriller de espionagem. Você tem esse cenário político com infiltrados dos dois lados, personagens envolventes, motivações envolventes, cenários envolventes e tudo é muito bem feito para te deixar tão tenso quanto satisfeito na hora certa, a ponto de até mesmo torcer pelo Cassian, que nos foi apresentado como um personagem escroto mesmo no filme. Isso tudo somado a uma fotografia que eu acho que é a melhor fotografia de todas as séries de Star Wars e sem muito uso de efeitos especiais. É puro efeito prático, como no velho e bom Star Wars, o que dá aqui uma sensação muito maior de realismo, que é a sensação do seriado. Mas apesar disso, apesar da trilha sonora original ser envolvente em pontos certos, não achei marcante como costuma ser a da maioria dos filmes de Star Wars, mas por que provavelmente não é foco, tal como não fora muito mesmo em Rogue One (com exceção daquela na sequência final com Darth Vader).
Apesar disso eu não acho que todas as atuações são muito boas, algumas bem medianas, principalmente porque muitos dos atores são poucos conhecidos. São poucos ali que realmente se destacam, mas todos fazem um bom trabalho na verdade, nos convencendo – apesar de uns mais, outros menos. Não dá para ficar falando de todos os personagens, na verdade são muitos personagens e inclusive no último episódio praticamente quase todos se encontram. Todos têm tempo de tela o suficiente para você entender a motivação, qual a função dele na história, e ninguém é apresentado à toa, mas queria destacar a presença incrível de Andy Serkis como Kino, sem relação alguma com seu outro persaonagem apresentado nos filmes (Snoke), mas para que o texto não fique enorme sugiro apenas o mais claro: assistam Andor!