No dia 24 de setembro, The Big Bang Theory completou 15 anos de estreia. Exibida no Brasil pela Warner Channel desde 07 outubro de 2007, e atualmente em maratonas no prime time, a série ainda atrai grande público e é uma das campeãs de audiência no canal mesmo apesar de muitos hoje reconhecerem sua controvérsia.
Para quem nunca viu, ou não se lembra, a trama de The Big Bang Theory (Big Bang: A Teoria no Brasil)a princípio é sobre um grupo de amigos nerds e uma garota. Foi escrita pelos criadores de Two and a Half Men aproveitando o hype crescente da comunidade nerd nos anos 2000, mas utilizando-se de estereótipos que rapidamente foram ficando ultrapassados. No começo, era um grupo de doutores da Caltech em que Três deles eram físicos teóricos e um deles era engenheiro, o que já era motivo para bullyng com este da parte de Sheldon Cooper (Jim Parsons), o mais complexo dos personagens. Sheldon é um caso clássico de estereótipo de nerd que ganhou força nos anos 80 por muitas vezes relacionarem os sindrômicos de Aspenger – apesar de haver discussões sobre a condição de Sheldon, que é bem mais explorada na série spin-off Young Sheldon.
Os personagens principais de The Big Bang Theory:
Sheldon foi ganhando força como a parte mais cômica da série, o que sempre achei problemático, não só por tirarem sarro de um Aspenger, mas por usarem sua arrogância de super-inteligência como contexto humorístico humilhando a Penny (Kaley Cuoco) que era a única não-cientista entre eles. Penny era o estereótipo da vizinha bonita e loira que não tinha qualificações (no ponto de vista dos cientistas) e mantinha-se trabalhando como garçonete enquanto tentava a carreira de atriz.
Por alguma razão, acharam engraçado esticar como piada as humilhações de Sheldon a Penny que passou a estender-se até mesmo a seus outros companheiros como Leonard Hofstarder (Johnny Galecki) que era a princípio pra ser o protagonista que fica com a garota bonita por ser o mais social dos quatro nerds. Howard Wolowitz (Simon Kerberg) que era a representação do nerd mais machista possível, invasivo com as garotas, recusando-se a admitir que não conseguia namorada por ser uma pessoa horrível, mas sim, culpando a atração física por isso, e que ainda morava com sua mãe com a qual trocava gritos. E Rajesh Koothrapli (Kunal Nayyar) que era o estereótipo do indiano imigrante e que tinha uma condição ainda mais complexa que era a de que simplesmente ficava mudo na presença de alguma mulher, o que era bem engraçado no começo até cansarem-se da piada e deixarem-no mais sociável quando alcoolizado – ou quando achava estar alcoolizado.
As temáticas de The Big Bang Theory:
Alguns temas e elementos se tornaram populares. Dando o título, a série em grande parte se concentrava na ciência, especialmente na física. Assim frequentemente brincando sobre teorias ou notícias científicas a ponto mesmo destas as vezes intervir na vida romântica dos personagens como quando Leslie termina com Leonard por este ficar ao lado de Sheldon apoiando-o na teoria das cordas ou quando Sheldon desdenha do campo de pesquisa de sua namorada Amy Farrah Fowler (a estrela adolescente Mayiam Bialik conhecida por Blossom) que é bióloga e mais precisamente neurocientista – curiosamente a mesma formação da atriz que também é doutora em neurociência.
Porém, mais do que a ciência, a temática mais recorrente era a mídia nerd. Os personagens compartilham interesses em ficção científica, fantasia, histórias em quadrinhos e são colecionadores. A principal franquia referenciada é Star Trek, principalmente se tratando das similaridades de Sheldon com Spock, por ter dificuldades de se envolver com sentimentos humanos. E também a ponto de ter participações de membros do elenco como William Shatner, George Takei, o próprio Leonard Nimoy, Brent Spiner, LeVar Butron e Wil Wheaton que se tornou personagem recorrente interpretando a si mesmo. Além de haver conversas dos personagens através da língua Klingon.
Também houve inúmeras citações a Star Wars e também partipações especiais de James Earl Jones, Carrie Fisher e Mark Hamill. O grupo também mantém a tradição de visitar uma loja física de quadrinhos na quarta a noite, que é o dia da semana em que nos quadrinhos chegam às lojas. Em várias ocasiões os personagens se fantasiaram como personagens da cultura pop como Flash, Aquaman, Frodo Bolseiro, Superman, Batman, Spock, Doutor, Lanterna Verde, Thor, entre outros. Sheldon passa a ser um personagem particularmente patrocinado pela DC Comics em método de promoção da editora que também faz parte da companhia Time Warner, responsável pelo canal que exibia a série, assim dando ao personagem coleções de camisas que são usadas regularmente.
As problemáticas de The Big Bang Theory:
Apesar do sucesso, até mesmo os espectadores concordam que a série se estendeu mais do que deveria, assim tomando direções preguiçosas fazendo com que os personagens demorassem mais para evoluir a fim de deixar suas conclusões narrativas para o final da série, que teve doze temporadas – mais além do planejado!
Como exemplo dessas soluções controversas para extensão da série foi mais de um casamento arranjado para Raj ou outras tramas batidas que incomodavam até mesmo os próprios atores, principalmente por não usarem tais para debater sua problemática, mas porque estas nem mesmo causavam mais consequências relevantes, deixando-as cada vez menos empolgantes.
O casal Penny e Leonard, tal como de costume dos casais principais em séries de comédia como Ross e Rachel e Ted e Robin, acabam se tornando repetitivos e monótonos quando não sabem mais como desenvolvê-los. Desde o primeiro episódio sabemos que Penny e Leonard vão ficar juntos e pasmem: não é surpresa para ninguém quando isto acontece.
Além disso, o casal teve sérias conversas sobre paternidade ao longo da trama, mas chegaram a concordar sobre não conceber, apesar da relutância de Leonard, mas que apoiara sua esposa até que esta descobre sua gravidez, o que gerou debates sobre o papel da mulher em Hollywood que sempre acaba se encaminhando ao de mãe. Mayiam Bialik, a atriz que deu vida a Amy, chegou até mesmo a publicar um polêmico artigo sobre sobre o papel feminino em Hollywood e gerou controversas sobre o andamento do seriado.
Mas a discussão sobre o sexismo não acaba por aí. Não bastava Sheldon humilhar Penny por anos – a ponto de um episódio fazer um experimento com ela tratando-a como um pet, – não dá pra deixar batido a misoginia de Howard. Mesmo esta diminuindo após casar-se com a microbióloga Bernadette (Melissa Rauch) e sua relação tornar-se um assombroso reflexo de sua relação com a mãe – não só da parte de Howard, mas da própria Bernadette que acabou assumindo a constantemente confusa figura materna de Howard. Sua mãe, esta, dublada por Carol Ann Susi até sua morte, que refletia o estereótipo da mãe judia excessivamente controladora e dependente, fazendo com que a mãe de Leonard, a psiquiatra Beverly Hofstarder (Christine Jane Baranksi), especulasse sobre Howard sofrer algum tipo patologia, referindo-se ao seu relacionamento como edipiano.
Apesar dos altos e baixos, não dá pra negar a importância e a influência que o seriado teve na cultura nerd ao longo dos doze anos de duração. Só é difícil indicar para alguém começar a assistir do início hoje por conta de piadas que, não só se tornaram batidas, como hoje pegam mal. Dando de exemplo a piada transfóbica com a ex-vizinha logo no primeiro episódio, algo comum pra época, mas que está longe de ter graça.
Mas há possivelmente os caos em que o preconceito é abordado de forma autoconsciente, como por exemplo a mãe de Sheldon, Mary Cooper (Laurie Metcalf), que é uma sátira aos reacionários do interior dos Estados Unidos, algo que é muito melhor desenvolvido em Young Sheldon que, por sinal, acaba com o tempo fazendo retcon no próprio The Big Bang Theory também por estender-se demais, pois o personagem não poderia evoluir muito mais do que o nível que o protagonista tem no começo da série, mas ao estender-se acaba tendo que fazê-lo.
A evolução de Sheldon:
E por falar na humanização de Sheldon, ele é um personagem que, tal como Shelock Holmes, Dr. House ou até mesmo Batman, são apresentados como frios e arrogantes por serem super-inteligentes, mas que aos poucos vão melhorando suas habilidades sociais a ponto do relacionamento de Amy e Sheldon ser considerável ironicamente o mais saudável do seriado, como reafirmado por nosso colega e redator Lucas Nogueira.
A relação de Amy e Sheldon começa no final da terceira temporada quando Raj e Howard invasivamente inscrevem Sheldon num site de namoro para buscar uma mulher compatível com Sheldon e assim descobrem a Drª Fowler. Curiosamente a mesma apresenta histórico de inaptidão social e participava do site de namoro apenas para cumprir um acordo com sua mãe, gerando assim um enredo em que Sheldon e Amy se comunicam diaramente apesar de insistirem não serem romanticamente envolvidos. Após uma série de temporadas em que os dois vão de mal se encostarem para finalmente se beijarem. Amy dá um ultimato para que Sheldon diga algo de seu coração ou seu relacionamento está acabado e então ele repete o discurso de Peter Parker para Mary Jane Watson no primeiro filme do Homem-Aranha e com o tempo explicando-lhe também nunca havia pensando num envolvimento íntimo com alguém antes de Amy.
Após uma série de idas e vidas, Amy pensa em confessar que ama Sheldon, mas este o surpreende dizendo que a ama também, o que leva-a a um ataque de pânico. Quando este está prestes a propô-la em casamento, Amy termina por sua falta de comprometimento, deixando-o o sozinho com o anel que ela não sabia, enquanto Sheldon referencia-se a si mesmo como o Smeagol, solitário e portando Um Anel. Somente depois de o apartamento de Amy ser inundado que ambos decidem morar juntos num experimento de cinco semanas para determinar a compatibilidade de hábitos um do outro, o que acaba correndo bem até que finalmente de casam.
Na última temporada é posto a prova toda a humanidade de Sheldon, não só para com Amy, mas para com todo mundo, logo que este está para receber o prêmio Nobel por sua teoria, acabando por ter ataques de pânico e voltando a ser arrogante com seus companheiros. Mas, por fim, admitindo publicamente em discurso que não seria nada sem eles, reconhecendo sua colaboração em seu estudo.
O sucesso de The Big Bang Theory:
É muito importante que hoje possamos sim reconhecer a necessidade de discutir que nos dias atuais muitos contextos antigos são problemáticos e deixá-los no passado, mas também reconhecer o valor e a influência que uma sitcom de 15 anos atrás tem na cultura pop até hoje. Atualmente em maratonas no prime time, a série ainda atrai grande público e é uma das campeãs de audiência no canal Warner Channel.
No primeiro semestre deste ano, as maratonas no horário nobre tiveram um aumento de audiência de 36% entre jovens de 18-34 anos, em relação ao segundo semestre de 2021. Isso fez com que a Warner Channel subisse sete posições no ranking de PayTV, ficando no Top 5 de maior audiência, liderando de forma isolada a categoria de Filmes & Séries. Já entre o público de 25-54 anos, o aumento foi de 42%, colocando o canal em 6º lugar entre os mais assistidos da PayTV, oito posições acima do mesmo período do ano anterior, provando que a série tem fãs de todas as idades.
No terceiro trimestre deste ano, The Big Bang Theory já é a série mais vista da Warner por diversas faixas etárias durante o prime time, como 18-34, 25-54, 35+, e curiosamente com destaque para o público feminino acima de 18 anos. Ao considerar todas as faixas de horário, o programa é o mais assistido do canal no terceiro trimestre de 2022, entre o público de 18-24, considerando as 24 horas do dia. Leia mais sobre séries de TV aqui.