Finalmente depois de uma longa espera chega ao streaming da Amazon Prime Video a nova série spin-off de O Senhor dos Anéis: Os Anéis do Poder (Rings of Power). Com dois episódios liberados nesta última quinta-feira (dia 1), eu devo dizer que estou bastante contente com tudo o que eu vi.
É até difícil fazer um resumo da minha opinião sobre esses dois primeiros episódios sem dar spoiler, pois cada coisa é uma surpresa gigante! Mas posso dizer o que já esperávamos: a fotografia é maravilhosa, o design de produção é incrível, a trilha sonora é emocionante e é muito bom revisitar a Terra Média depois de anos, principalmente depois do desapontamento que foi com a trilogia O Hobbit. A trama se passa durante a Segunda Era. Não existe um livro específico que conta a história desse momento, mas há os relatos dos Apêndices de O Senhor dos Anéis e também de O Silmarillion, Contos Inacabados de J. R. R. Tolkien e outros contos publicados por Christopher Tolkien.
Vou tentar falar então sobre o que já sabíamos: a série começa com foco na jovem elfa valinoriana Galadriel (Morfydd Clark), mostrando sua motivação em caçar os seguidores do deus das trevas Morgoth que não são vistos há séculos até que o Rei Elfo de Lindon Gil-Galad (Benjamin Walker) encerra as buscas e manda o pelotão de Galadriel de volta para Valinor, embora ela ainda acredite que exista resquícios da Sombra de Morgoth na Terra Média.
Lindon que é o mais antigo reino élfico ao Oeste da Terra Média foi criada de forma que lembre a Valfenda, mas um pouco mais arborizada. Já Galadriel tem uma personalidade muito mais guerreira e obstinada do que a que conhecemos com Cate Blanchett e usando armaduras lindas enquanto Gil-Galad, apesar de ser um antigo herói mítico do povo elfo, é retratado apenas como um senhor élfico diplomático e incrédulo – pelo visto qualquer elfo que já tenha sido herói, quando se torna um senhor nobre fica carrancudo, tal como acontece como o próprio Elrond no futuro.
Enquanto isto, nós acompanhamos personagens novos no Sul da Terra Média. Os elfos tem postos avançados por toda a Terra Média para caçar os orques numa espécie de ocupação militar. É neste momento que conhecemos o elfo da floresta Arondir (Ismael Cruz Córdova) e seu interesse amoroso, a humana curandeira Bronwyn (Nazanin Boniadi), numa espécie de recriação do Conto de Beren e Luthien.
Mas é quando Arondir está indo embora que os sulistas são emboscados por um orque como não se vê há muito tempo, assim tendo que reclamar pelo retorno da ocupação élfica enquanto Arondir vai atrás da fonte do mal. Achei muita acertada a decisão de dar a oportunidade para atores de pele escura para fazer os elfos florestais (que no livro são descritos como morenos, apesar de Peter Jackson ter associado isso aos cabelos escuros) e a armadura de Arondir que simula o rosto de um ent é belíssima.
Ao mesmo tempo, conhecemos os pés-peludos, antecessores primitivos dos hobbits. Estes, que nunca se preocuparam com o mal da Terra Média, estranham os motivos por que caçadores estão descendo por suas terras e lobos wargs se aproximando também até que toda a Terra Média vislumbra a chegada de uma estrela cadente em Anduin trazendo um istari, no qual ainda não sabemos de quem se trata (apesar de termos nossas teorias). A vila dos hobbits parece ser uma versão bem mais primitiva e simplória do Condado, com pés-peludos se escondendo de qualquer viajante, morando também em tocas. Mas sem toda a civilização construída mais tarde, e gostei muito também de como finalmente deram a pele escura que é descrita a respeito dos hobbits no prólogo de O Senhor dos Anéis: A Sociedade do Anel.
Também acompanhamos a trama do elfo Elrond (Robert Aramayo), príncipe de Lindon, que aparentemente não quer se envolver no Conselho nobre e prefere servir como um grande ferreiro élfico, mas para isso precisará da ajuda de companheiros anãos e assim recorre ao príncipe Durin IV (Owain Arthur) na incrível Khazad-dum em seu esplendor máximo. Pela primeira vez vemos como são as Minas de Moria em seu funcionamento, com luz, água e plantas, inclusive. Aqui vemos a linda e rústica arquitetura anã que vimos bastante na montanha solitária de Erebor, com traços retos e cubicos, aquedutos bem suspensos e construções moldadas na rocha. Devo dizer, porém, que estou um pouco desapontando pelas anãs fêmeas não terem barba aqui apesar dos próprios filmes reforçarem que este é o motivo pelo qual acreditava-se que não existiam.
Mas a série tenta ao máximo manter a atmosfera dos filmes. Toda a arquitetura e design de produção segue a mesma tendência, assim como a trilha sonora de Howard Shore que retorna também dos filmes. A apresentação de mundo continua majestosa, mesclando os cenários reais gravados na Nova Zelândia com a pós-produção da Weta FX que ainda não deixa em nada a desejar. O ritmo também é bom, apresentando com calma, mas de forma que não fica sonolenta e nos dá cada vez mais vontade de ver daquele universo enquanto te prende na curiosidade dos mistérios que são apresentados e, ah!, com um pouquinho de toque de terror nas cenas de perseguição a orques que, ao meu ver, acrescentou muito bem (terror esse bem característico em alguns capítulos dos livros, mas que fez falta nos filmes)!
Foi um ótimo começo para a série mais cara do mundo, mas ficaremos alerta para os próximos episódios, pois o núcleo numenoriano, que é o que mais tínhamos ressalva quanto ao design de produção (comparando a novelas da Record) será apresentado daqui em diante. Mas estamos confiantes e em breve soltaremos aqui a crítica da temporada completa, além de podcast sobre a Terra Média e o nosso vindouro especial de RPG O Um Anel.