Por: Marcelle Souza
Até mais ou menos a metade do filme, não sabia se A Vida de Diane iria render uma crítica interessante. Mas foi com a cena do bar que tive um estalo e comecei a apreciar mais o que eu estava assistindo. O longa de Kent Jones é um típico filme que levaria uma atriz a ser indicada ao Oscar. O enredo me lembrou um pouco Para Sempre Alice, de 2014, por abordar questões como perda, envelhecimento e memória. Somos apresentados a Diane (Mary Kay Place), uma viúva aposentada, cuja essência da vida é se preocupar com os outros, seja ajudando moradores de rua, ou visitando parentes e amigos. Ao longo do tempo, enquanto ela lida com várias ausências, também tenta se reaproximar do filho viciado em drogas e entender o significado de sua própria vida.
Estamos tratando de um filme duro na forma que demonstra a realidade de uma mulher que vive rodeada de pessoas, porém, é solitária. Por isso, o longa é lento e até um pouco monótono. O silêncio é imprescindível para ressaltar cada barulho fora do padrão que soam como uma metralhadora. A fotografia se alterna entre cores quentes e frias a medida que ela vai se deparando com cada perda. A câmera do diretor observa a vida de Diane de longe, nunca deixando sua perspectiva aparecer em cena. Nunca não, há um elemento que se repete diversas vezes durante o longa e é a única vez que vemos o que a personagem vê: as estradas. A estradas que são utilizadas, não apenas como transições de tempo e espaço, mas como caminhos, rotinas, decisões, algumas mais retas e acessíveis, outras mais curvas e perigosas.
É difícil não se pegar imaginando como serão nossas vidas no futuro. Ver Diane perdendo cada amigo nos faz questionar sobre a sorte – ou não – de uma vida longa. A inversão de papéis sociais também é abordada. Filhos que viram pais de seus pais e começam a achar que possuem autoridade sobre eles, pais que dependem dos filhos, mas não podem admitir para si próprios tais posições. Qual amor é o correto? Os filhos podem realmente interferir na vida dos pais? Os pais devem insistir em se envolver nas vidas dos filhos já adultos? É melhor ficar sozinho e não atrapalhar ninguém? Todas essas questões são colocadas aqui e cabe ao espectador tirar suas conclusões sobre ela.
O longa se empenha na construção de cada personagem, não importando sua relevância na trama. Mary Kay Place está excelente como alguém que cansou de correr atrás da própria vida e agora espera a morte – de seus amigos e a sua. A renuncia a si mesma é dolorosa durante todo o filme, mas é preciso destacar o momento do bar onde choro e riso se confundem e acalentam um pouco de nossos corações. Jake Lacy consegue captar as duas principais fases do filho Brian de forma bem completa. É possível ver e sentir a mudança do personagem com o passar dos anos. É uma pena que a relação com sua mãe nunca pareça completa. Além disso, todos os coadjuvantes, as pessoas queridas que Diane vai perdendo com o passar do tempo, são presentes durante o filme. Sentimos essas faltas assim como a personagem principal e, enquanto nós preenchemos esse vazio com mais um pouco da história, Diane escreve poesias e recados para ela mesma.
A Vida de Diane pode parecer um filme simples, mas é áspero, denso e contemplativo. O drama não é para chorar, mas para nos questionar como as relações interpessoais mudam durante a vida e se estamos preparados para os vários possíveis futuros que nos aguardam.