Por: Marcelle Souza
Mademoiselle Paradis não me ganhou de primeira. O filme possui alguns altos e baixos, mas, sem dúvida, suas qualidades são maiores que suas falhas. O longa é baseado na história real de Maria Theresia Paradis (Maria-Victoria Dragus), uma jovem pianista cega que é encaminhada, pela família, a um tratamento para voltar a enxergar.
Seu maior ponto negativo é o ritmo. O filme possui apenas 1h37, no entanto, seu primeiro ato é arrastado e faz parecer que gasta muito mais tempo que sua extensão real. Além disso, o longa se divide para abordar vários enredos de diferentes personagens, porém, nenhum deles é devidamente elaborado, o que distancia e distrai o espectador do tema central. A impressão que fica é que o roteiro queria se manter o mais próximo possível da história verdadeira, mas não teve tempo, ou não conseguiu informações suficientes para aprimorar alguns detalhes. No fim, você se pega pensando “o que aconteceu com tal pessoa?” ou “poxa, mas eu quero saber mais dela?” o que é prejudicial para qualquer narrativa.
Agora, vamos falar dos pontos positivos porque eles são muito mais marcantes. Para começar, a direção de Barbara Albert parece seguir os sentimentos de Maria Theresia Paradis, sendo assim, é contida quando a personagem se sente acuada, mas se solta de uma forma belíssima quando a pianista está confortável. O plano final é a justificativa perfeita do porquê esta história está sendo contada.
Além da direção, outro fator (o principal fator, na verdade), que transforma a experiência do filme, é a atuação de Maria-Victoria Dragus. Que atuação! Saí da sala de cinema ainda na dúvida se ela era uma cega que interpretava brilhantemente uma pessoa que enxerga ou uma pessoa que enxerga que interpretava brilhantemente uma pessoa cega. Maria-Victoria traz para o espectador toda a inocência da personagem de maneira leve e verdadeira. Mesmo adulta, ela é como uma criança que começou, recentemente, a conhecer o mundo e escolheu seus melhores amigos no primeiro dia de aula. Seus momentos de crise atingem o coração da plateia e começamos a nos questionar com ela, se a cegueira não seria sua melhor opção. Isso tudo sem falar das cenas ao piano! Os sentimentos, tanto bons, quanto ruins, são tão verdadeiros em seu semblante que conseguimos ler cada pensamento que passa em sua mente. Por último, ainda fiquei interessada em saber mais sobre a vida de deficientes no século XVIII. Um assunto pouco tratado e necessário, inclusive, para a representatividade dessas pessoas na tela do cinema.
Sendo assim, mesmo se você conseguir se manter aberto para a história de Mademoiselle Paradis, o filme não irá te divertir, mas irá te apresentar uma história delicada e repleta de belíssimas cenas, graças, principalmente, ao talento das mulheres à frente da produção.