Maldição da terceira temporada atinge também a menina dos olhos de ouro da CW.
Assim que terminou a ótima, mas também controversa, segunda temporada do seriado The Flash que conta a história do CSI Barry Allen que se tornou, não só o velocista defensor de Central City, mas o principal defensor da Terra-1, qualquer fã de quadrinhos se empolgou com a deixa do Season Finale para a terceira temporada – Ponto de Ignição.
Apesar de a segunda temporada já ter bagunçado a adaptação do herói para a tevê, deixando inúmeros furos, o mais importante foi cumprido – contar uma boa história, e mesmo com toda suspensão de coerência, o entretenimento ainda era garantido. Assim, o público estava pronto para receber a terceira temporada que começa com o universo alternativo criado por Barry Allen – Grant Gustin, o Sebastian de Glee, o qual homenageou a antiga série com Melissa Benoist e Daren Criss nesta temporada – após ter retornado no tempo para impedir que Eobard Thawne, o Flash Reverso matasse sua mãe Nora Allen – Michelle Harrison – fazendo com que seu pai Henry Allen – John Wesley Shipp, o Barry Allen do seriado antigo e que retornou como Jay Garrick, o Flash da Terra-3 – nunca fosse preso e Barry nunca se tornasse o Flash. Para quem não sabe, este é o princípio da saga Ponto de Ignição – Flashpoint – que serviu de retcon para os quadrinhos da DC Comics entre a Era Moderna e a Nova Era em 2011. Na saga, Barry após salvar sua mãe, acorda sem poderes num mundo distópico onde Aquaman e Mulher Maravilha estavam em guerra pela posse da Europa, Batman era Thomas Wayne, Ciborgue era agente do governo, Kal-El nunca se tornou o Superman, Hal Jordan nunca se tornou o Lanterna Verde, e tudo isso era resultado do tempomoto causado pelas ações de Barry, e mesmo tentando corrigir, acaba causando um paradoxo onde o universo nunca mais voltara a ser o mesmo.
A confirmação de que a terceira temporada iria realmente adaptar o Flashpoint empolgou de inúmeras maneiras, até porque a rede propagou de forma como se fosse uma mudança inacreditável para o seriado, a expectativa era de que fôssemos ver Robert Queen, o pai de Oliver Queen, como Arqueiro Verde, entre outras mudanças, mas então a temporada começa e não vemos nada de tão caótico – o mais parecido com o Flashpoint realmente aconteceu no episódio crossover com Arrow, onde os personagens vivem uma realidade em que Oliver nunca entrou no Queen Gambit para naufragar no Purgatório e mudou a vida de todos, e também o episódio de Legends of Tomorrow onde o grupo de vilões Legião do Mal – liderado pelo próprio Eobard Thawne – cria um universo distópico em que os heróis perderam. Para falar a verdade, no novo universo do Flash, não havia nada de realmente caótico, a vida de todo mundo estava para melhor – os pais de Barry estavam vivos, Wally West – Keynan Lonsdale – era o Flash, Cisco Ramon – Carlos Valdez – era um milionário e inexplicavalmente Barry ainda tinha seus poderes, o que contradiz todas as regras de viagem do tempo. E por nenhuma razão suficientemente boa do enredo, tivemos que nos convencer de que aquele universo havia fugido de controle porque Wally havia gravemente se ferido – ele não é um velocista? É só esperar algumas horas que ele se cura! – e então a melhor parte do piloto da temporada era os diálogos com Eobard Thawne – aliás, Matt Letscher interpretou muito bem o papel de vilão, não só em Flash, mas como também o vilão principal na segunda temporada de Legends of Tomorrow – para ler a crítica, clique aqui.
O sarcasmo do vilão faz qualquer herói se enfurecer, manipulando-o a fim de convencê-lo que ele sempre iria vencer, obrigando Barry a dizer com todas as palavras Eu quero que você mate a minha mãe para que este respondesse Com prazer. E assim foi feito, mas é aí que a cagada fede mais, pois a produção não entendeu o princípio do Flashpoint, onde a causa só serviu para criar uma trama de novela em que o Paradoxo é pior simplesmente por motivos como – discussão na Família West; Dante, o irmão de Cisco, morreu atropelado; Barry tem um novo colega de escritório, Julian Albert – Tom Felton, o Draco Malfoy da franquia Harry Potter – que é insuportável e que – ah! – por acaso ele é o supervilão Dr. Alquimia que trabalha para o vilão principal da temporada; Caitlin Snow – Danielle Panabaker, a Layla de Super Escola de Heróis – tem os poderes da Nevasca; Iris West – Candice Patton – não se lembra de seu beijo com Barry; e John Diggle – David Ramsey – agora tem um filho, John Jr. e não uma filha, que antes era chamada de Sara – okay, né?
Tudo isto para culminar na melosa filosofia de que o vilão é o protagonista, com indícios desde que os Legends recebem uma mensagem do futuro onde Barry avisa para que não confiem nele – para saber mais, leia aqui – e o Team Flash está ameaçado por um novo velocista que se auto proclama Savitar, deus hindu do movimento, e que está usando o Dr. Alquímia para transformar os moradores de Central City, que eram metahumanos no Flashpoint, em metahumanos na Terra-1, só para irritar e para transformar Wally West no velocista Kid Flash para que liberte Savitar de sua prisão na Força de Aceleração para que este pudesse matar Iris West e causar mais uma longa intriga de efeito borboleta em que o Team Flash quanto mais tentasse impedir que tal fato ocorresse, mais o provocava, para que inevitavelmente acontecesse a sofrência que causasse a decisão mais arriscada de Barry, que era de criar suas cópias temporais para deter o vilão e uma destas cópias se tornasse o próprio vilão, na mais preguiçosa das decisões, onde o inevitável desfecho em que Iris morre fosse tomado pela morte do descartável H.R. Wells em seu lugar – eu nem mencionei o personagem no artigo, né? Pois é.
Tivemos alguns poucos episódios bons, tudo bem. A introdução de Sam Scudder, – o vilão Mestre dos Espelhos interpretador por Grey Damon, o Chris Rodriguez de Percy Jackson e o Mar de Monstros – Rosa Dillon – a supervilã Peão, que nos quadrinhos é um homem, e foi uma boa mudança para o seriado, interpretada por Ashley Dickards, a protagonista da série Awkward – e do vilão Abra Kadabra, – interpretado por David Dastmalchian, que já participou de Batman: O Cavaleiro das Trevas, Homem-Formiga e Gotham – membros importantes da Galeria de Vilões do Flash; o crossover com Arrow, Supergirl e Legends of Tomorrow que foi bem legal e curiosamente descobrimos que o Flash se tornou o dono da Sala da Justiça; a participação do Kid Flash, do Jay Garrick e da Jesse Quick – Violett Beane – na qual, sinto dizer, perderam a oportunidade de inseri-los no mesmo ambiente; o crossover musical com Supergirl, que não serviu de nada, mas foi divertido; a Nevasca; o episódio duplo focado em Gorilla Grodd; o episódio no futuro; e a participação do Leonard Snart, – o anti-herói Capitão Frio, interpretador por Wentworth Miller, protagonista de Prison Break, o qual trouxe inúmeras referências – são alguns pontos altos da temporada, mas que não acrescentam tanto na nota final.
E por fim, toda a maluquice temporal provoca uma tempestade cósmica que destrói a Star Labs e periga destruir a Terra-1 – finalmente uma decisão corajosa? Não, pois o final de novela mexicana onde Barry vai embora com sua mãe para tomar o lugar na Força de Aceleraçao como uma espécie de redenção dá ao seriado The Flash o pior desfecho de temporada, numa possível referência a Crise em Infinitas Terras – que por sinal, já foi referenciado em Legends of Tomorow – em que Wally se tornará o velocista principal da Terra-1, mas que aparentemente não por muito tempo, pois vai chegar a próxima temporada, em que vamos ver Wally finalmente sendo o Flash, mas apenas por um episódio pois tudo vai voltar ao normal e irão criar uma desculpa paradoxal para enrolar o público por mais um ano inteiro sem apresentar nada de novo. Tal como aconteceu em Arrow – a terceira temporada é quando a série desanda. Ficamos no aguardo pela terceira temporada de Supergirl e Legends of Tomorrow que já não são séries boas, então vai que melhora.
Nota: 2.5/5