A segunda temporada de How I Met Your Father terminou de sair no Star+ nesta última quarta-feira e é possível que tenha deixado os fãs com sentimentos confusos. Enquanto o show continua a explorar a dinâmica do relacionamento moderno com facilidade natural, alguns dos personagens e histórias estão lutando para encontrar seu equilíbrio. Vamos mergulhar nos detalhes.
(Caso não se lembre da primeira temporada, confira aqui a crítica completa com spoilers)
A temporada começou com Sophie (Hilary Duff) em meio ao caos, fazendo malabarismos com três pretendentes. Isso foi um grande contraste com o início da primeira temporada, quando ela estava indo a vários encontros e sabotando todos eles, alegando estar em busca do par perfeito. Depois de terminar com Drew (Josh Peck) e finalmente ficar com Jessie (Chris Lowell), as coisas pareciam ótimas até que ele declarou seus sentimentos por ela, fazendo com que ela o afastasse em paranóia. Percebendo que estava mais uma vez sabotando um relacionamento que poderia ter sido ótimo, ela decidiu ir atrás de Jessie novamente, apenas para encontrá-lo de volta com sua ex-namorada Meredith, que o havia deixado no altar durante um show ao vivo, um vídeo viral que voltou várias vezes como uma piada.
Sophie voltou ao caos de sua vida de solteira, enquanto Jessie lutava na sombra de Meredith, fazendo com que ele afastasse seus amigos, inclusive Sid (Suraj Sharma), que já enfrentava problemas em seu casamento à distância, impossibilitado de estar com sua esposa Hannah (Ashley Reyes) devido aos seus empregos em costas opostas do país.
Por outro lado, alguns dos personagens que voltaram nesta temporada eram muito mais interessantes do que antes. Valentina (Francia Raisa) e Charlie (Tom Aisley) se tornaram mais cativantes após a separação. Confesso que finalmente passei a gostar do Charlie após vê-lo solteiro finalmente encontrando seu lugar como personagem lembrando vagamente o Barney Stinson, mas menos exagerado. Falando em Barney, Neil Patrick Harris faz a nostálgica aparição surpresa da vez logo no primeiro episódio, como um spoiler para o final onde serve mais uma vez de personagem de How I Met Your Mother aparecendo para ter aquele momento mágico com Sophie quando ela está mais perdida, fazendo-a se encontrar em propósito.
No entanto, a personagem que finalmente ganhou destaque desta vez foi Ellen (Tien Tran). Era um absurdo o quão mal Ellen foi tratada na primeira temporada, mas aqui ela finalmente tinha suas próprias histórias. Com sua namorada Rachel (Aby James) tendo mais presença, Ellen se tornou a única com um relacionamento que não estava desmoronando, e suas cenas juntas são super naturais e divertidas. É complicado, pois, a série vem apresentado um elenco cada vez maior de personagens centrais e na primeira temporada eu sentia que, por conta disso e do protagonismo maior de Sophie, Jessie e Valentina, os outros personagens acabam ficando apagados e Ellen até então não parecia nem ser do elenco fixo, já que mal ganhava episódios focados nela, o que agora tem.
E por falar na distribuição de tempo de tela, foi ótimo ver que essa temporada teve mais episódios que capturaram a essência de How I Met Your Mother (não que eu ache que tenha defazer isso, mas acabou melhorando ao fazer) no sentido de explorar as possibilidades de uma narrativa não linear e histórias que envolvessem todos os personagens simultaneamente, sem tramas paralelas – inclusive é neste episódio que tem uma divertida referência ao programa que Hilary Duff estrelava na adolêsncia, Lizzie Mcguire, servindo como se fosse de flashback da adolescência de Sophie. O programa também incluiu várias piadas internas, mas ainda não estabeleceu nenhum bordão que grude, ao contrário de How I Met Your Mother, que teve vários memes virais enquanto saía. Mesmo a breve aparição de Barney teve mais bordões do que toda a temporada.
No geral, How I Met Your Father ainda tem seu charme como uma sitcom sobre amigos e aborda questões atuais com facilidade, incluindo o relacionamento entre duas mulheres e algumas insinuações de bissexualidade e poliamor principalmente se tratando das duas solteiras, além de ter um elenco bem etnicamente misto. É uma mudança revigorante da masculinidade tóxica que prevalecia em How I Met Your Mother, embora muitas vezes fosse satírico.
No entanto, os personagens de How I Met Your Father parecem carecer desse mesmo humor satírico, pois são muito passivos, o que pode tornar difícil para uma comédia conquistar, ainda mais no momento em que estamos. Mesmo a trama background, que é a de Sophie contando para seu filho como conheceu seu pai, já se tornou menos interessante e francamente, já não damos mais nem a mínima para o desfecho, mas ao menos estão trabalhando melhor a relação platônica do casal principal que não consegue ficar juntos, mas tem uma naturalidade muito maior do que fora com Ted Mosby e Robin Scherbatsky, que acabaram se tornando super tóxicos juntos (e separados também) a ponto de a gente torcer muito mais por ela e Barney. Isto não acontece aqui, pois os dois tem uma química e o roteiro não entregou o namoro deles de cara, o que foi o erro da série anterior, mostrando que eles estão aprendendo com os próprios erros também.
Mas, não acho que isto seja o suficiente para manter a força da série por muito mais anos, podendo ser talvez cancelada muito antes da antecessora, decretando um desperdício de potencial.