Finalmente terminei de assistir a temporada de How I Met Your Father, novo spin-off no universo da sitcom How I Met Your Mother,e vou soltar aqui algumas considerações gerais:
Ao contrário do que muita gente presumiu, a série não tenta repetir completamente o clima de HIMYM. Tirando, é claro, a proposta que é a mãe contando pro filho a longa jornada de como conheceu seu pai e também a abertura semelhante e outros easter eggs como a casa, o bar, e participações especiais como Robin (Colbie Smulers), Carl, Becky e o Capitão (Kyle MacLachlian), – que inclusive entrega o mistério do abacaxi. Tem algumas diferenças até mesmo como no estilo de edição – fades sem whoosh são estranhos e difíceis de compreender as vezes, mas você se acostuma – e as histórias não necessariamente começando no bar, mas o que gera surpresa positivas para o final.
Sophie (Hilary Duff), ao contrário do que parece, não é só uma versão feminina do Ted, pois a própria compartilha em algum momento alguns sentimentos da Robin, tendo de ser aconselhada pela própria em algum momento. A protagonista é muito mais extrovertida e dinâmica do que introspectiva e controladora, mas ainda assim super sentimental e idealista. Ao mesmo tempo em que não sabemos quem é o pai, pois pode ser qualquer um dos caras apresentados no primeiro episódio, o par romântico que todo mundo torce para ficar com Sophie, Jesse (Chris Lowell), é alguém muito mais parecido com o Ted – porém, bem menos controlador e muito mais adaptável. Por falar em Ted e Robin, diferente do final da primeira temporada do clássico, onde o casal fica junto e acaba estendendo uma temporada onde namoram e depois terminam, o que acaba tornando o romance de Ted e Robin bem chato depois, Sophie e Jesse, para surpresa de muitos, não terminam a temporada juntos, o que pode acabar gerando muito mais anos com o público torcendo pelo casal, diferentemente de Ted e Robin que era só cansativo.
O que me lembra: os personagens desta vez tem trabalhos muito mais relacionados à criatividade como fotografia, assessoria, moda, música, ao contrário do elenco clássico que tinha empregos muito mais sensoriais – tirando por exemplo talvez a Lily que era professora e também queria ser artista, tal como Jesse. O que serve até mesmo de tema a ser debatido na nova série quando Sophie se desaponta por seu namorado Drew (Josh Peck) incentivar Jesse a desistir de seu sonho musical para investir mais na carreira pedagógica por ser mais pé no chão, enquanto Jesse compartilha da visão de mundo idealista de Sophie. O que é bem triste, porque é até legal e nostálgico ver Lizzie Maguire e Josh Nichols (Drake & Josh) protagonizando como casal de ex-estrelas adolescentes dos anos 2000 – nostalgia essa inclusive tema de um episódio.
E por falar em contemporanização, a série inclui de forma normalizada o uso excessivo da tecnologia e das redes sociais. Não tem como um roteiro sobre jovens em Nova York em 2022 pós-pandemia do Covid-19 não incluir a pós-modernidade, é claro. Falo aí sobre o uso repetido do Tinder, Instagram, Tiktok, YouTube, entre outras mídias como piada ou ferramenta de roteiro como o fato de Sophie ter saído com dezenas de caras diferentes que conheceu no Tinder só no mês de janeiro e uma outra que, até mesmo repete o tema de um episódio de HIMYM, sobre investigarmos nas redes sociais da vida da pessoa que está saindo. Mas diferente do que o próprio HIMYM previu, em 2022 não temos videochamadas holográficas. Porém, me desaponta não aproveitarem tal modernidade para recursos gráficos ou mais planos e edição mais interessantes utilizando-se da linguagem pós-moderna, coisa que até mesmo HIMYM já fazia nas temporadas mais recentes.
Enquanto isso, temos uma gama muito maior de personagens coadjuvantes, o que até mesmo dificulta no tempo de tela e consequentemente em afeiçoar-se por tais como os estereotipados Ellen (Tien Tran) e Charlie (Tom Ainsey), respectivamente a irmã lésbica de Jesse – o que gera uma situação engraçada onde Jesse sai com uma garota que já ficou com Ellen, algo bem recorrente em cenários menos heteronormativos, como se espera de Nova York – e o namorado britânico de Valentina (Francisca Raisa) – este vem para ser o novo personagem vindo de um país exterior de língua inglesa, tal como Robin, o que acaba sendo repetitivo e bem menos engraçado, pois nós já vimos muitas vezes a piada de americanos com britânicos. Nesse caso, se era pra não repetir a piada com canadenses, poderiam ter incluído talvez um australiano, mas pelo menos não fazem piada com o fato de Ellen ser asiática, Valentina ser mexicana e Sid (Suraj Sharma) ser indiano – talvez algumas, mas bem suaves. Porém, por incrível que pareça, apesar dos personagens serem apresentados de forma irritantemente mal trabalhada, acabam, até o final, tornando-se os mais fofos do elenco.
E podemos destacar aqui que o elenco tem muito mais diversidade do que os cinco amigos brancos da série clássica. O fato também de ter uma mulher como protagonista, além de uma a mais no elenco e uma delas ser homossexual já confronta uma das principais críticas quanto ao machismo da série clássica – apesar de que, na minha opinião, faz falta, sim, um personagem como o Barney Stinson para ser aquele que serve de sátira a masculinidade tóxica. Não a toa, o arco de desconstrução do Barney fazia dele o melhor personagem até o final da série – arco que aqui eu sentirei falta, mas talvez seja melhor assim. Logo num dos primeiros episódios já se desconstrói toda a masculinidade tóxica dos caras quando Charlie busca impressionar os novos amigos tentando ser o que não é, mas eles acabam gostando dele sendo natural mesmo.
E por falar em Valentina, o casal Tina e Charlie não são nenhuma repetição de Marshall e Lily, pois tal função é direcionada para Sid e Hannah, sendo noivados no primeiro episódio, porém com dificuldades matrimoniais por conta de Hannah ter de trabalhar na Califórnia, entre outras discussões como Sid tomar decisões enormes sem consultá-la, o que acaba resultando num plot twist não-previsível – porém menos emocionante – no final. Eu realmente achei que o final deles seria mais uma separação como a de Marshal e Lily na primeira temporada, destino que foi direcionado a Tina e Charlie, por razões muito mais explícitas e menos surpreendentes.

Eu havia me interessado por Sid e Jesse terem empregos liberais como dono de bar e motorista de Uber, Mas tais trabalhos mal servem de plot, especialmente Jesse, já que sua trama gira principalmente em torno de ser um músico frustrado por sua ex-namorada, que era de sua banda, ter recusado sua proposta de casamento ao vivo e o vídeo ter viralizado – uma piada interna realmente engraçada quando repetida. E falando nisso, é natural uma sitcom não ser totalmente engraçada no começo, pois você ainda não se afeiçoou por todos os personagens ou pelas piadas internas – eu mesmo não gostei de How I Met Your Mother de primeira. Quando você assiste a temporada inteira você acaba comprando a tensão entre os principais núcleos e até mesmo criando graça por suas gagues que ainda não foram completamente estabelecidas, mas, digo aqui, que a série tem potencial para mais alguns anos e que estou ansioso por uma segunda temporada ainda mais divertida.
A primeira temporada de How I Met Your Father tem 10 episódios e está saindo no Star+.