Festival Nova Brasil 2022 | O fim da saudade com o melhor da música brasileira

O tempo definitivamente não foi o maior dos aliados do Festival Nova Brasil. O público, porém, se manteve firme e forte, mesmo quando a chuva apertou.

Após dois anos sem acontecer, o Festival Nova Brasil voltou com tudo em sua edição ‘Chega de Saudade’. Nos dias 15 e 16 de outubro, o evento organizado pela Rádio Nova Brasil agitou o Sambódromo do Anhembi, em São Paulo.

Dia 15

O primeiro dia do Festival foi agraciado com um line-up de peso. Inaugurando as festividades, tivemos os Gilsons, banda que é um dos maiores sucessos da Nova MPB, trazendo a maravilhosa Liniker como participação especial. Escolha sábia da produção: com os descendentes de Gilberto Gil abrindo o evento, o público compareceu em peso desde o primeiro show. Afinal, quem consegue não cantar quando toca ‘Várias Queixas’?

Com um intervalo de exatamente 20 minutos entre os shows, logo pudemos curtir o samba de raiz de Jorge Aragão. O sambista embalou o público com diversos sucessos de longa data – entre eles, o clássico ‘Eu e Você Sempre’, entoado pela multidão em coro.

Logo depois, foi a vez dela. Destaque no line-up do primeiro dia, Adriana Calcanhotto segurou só com voz e violão a uma hora de show, mantendo o público completamente cativo. Apesar de todos os protestos devido à substituição do show de Gal Costa, por questões de saúde, Calcanhotto não se abalou; mostrou a que veio de forma simples e crua, sem arranjos complexos ou iluminação espalhafatosa. Receita de sucesso para manter a plateia hipnotizada. A participação de Rubel na apresentação foi um tempero a mais, que complementou, mas sem ofuscar, o sabor de um show que me deixou com os olhos brilhando.

Zeca Baleiro comandou a apresentação em seguida, abrindo a noite. Representando o rock nacional no line-up do primeiro dia, o cantor trouxe sucessos de sua carreira, como ‘Heavy Metal do Senhor’, e ainda contou com a participação de Juliana Linhares e Vinícius Cantuário para agitar ainda mais o setlist da noite. Aqui, a chuva apertou; mas o público se manteve leal, abusando das capas de chuva distribuídas pela produção do evento. Foi um show empolgante, mas senti falta de uma coisa. Passo pano, pois imagino que Zeca Baleiro já não aguente mais, mas que faltou Telegrama, isso faltou.

No auge da chuva, entram em cena Baby do Brasil e Pepeu Gomes. Sem convidados, claro, pois o palco já é pequeno demais pra conter a grandiosidade artística de Baby, que ofusca Pepeu em 99% do tempo. Apesar de eu ter lá minhas implicâncias com Baby, é inegável que sua performance é majestosa. É impossível não se deixar hipnotizar por seu carisma em cima do palco, que persiste como se a artista jamais tivesse envelhecido. Como concluímos juntos na sala de imprensa: o Brasil tem a Cher que merece.

Encerrando a noite, o Lab Fantasma, representado por Emicida, Drik Barbosa e Fióti, representou o rap no Nova Brasil pela primeira vez em todas as edições do festival. Em momento de coletividade, os artistas receberam convidados ilustríssimos: Marissol Mwaba, cantora brasiliense que vem se destacando em meio as novas vozes brasileiras; Tuyo ,que já é queridinha do público da nova MPB; e Salgadinho, ex-Katinguelê que trouxe o agito do pagode 90 para incrementar o show.

Dia 16

O segundo dia não deixou nada a desejar em relação ao primeiro. Às 14h, com o tempo ameaçando abrir, o Bala Desejo subiu ao palco, entregando a performance de milhões. Confesso que eu não esperava muito da banda queridinha do momento no cenário da nova MPB; estava mais animada para a participação da imaculada Duda Beat (que, como sempre, foi perfeita). Porém, fui surpreendida pela intensidade do show como um todo. Figurinos, entrosamento entre si e com o público… e, pra completar, Julia e Dora, as frontwomen do Bala: mais que mulheres, acontecimentos. Fiquei tão impressionada que tive de me colocar em posição de fazer justiça às apresentações que se seguiram.

Deu tudo certo, amém. Até porque, a atração seguinte era mais uma mulher-acontecimento: Vanessa da Mata, com toda sua fluidez e uma força delicada que envolveu o público do início ao fim do show. Essa atmosfera só teve pausa quando Marina Sena fez sua participação, performando ‘Por Supuesto’, também conhecida como a música mais superestimada dos últimos tempos. O restante do show entregou tecidos esvoaçantes, flores, sol e sucessos da carreira de Vanessa, como ‘Ai Ai Ai’, ‘Boa Sorte’ e ‘Não me deixe só’, além de uma performance lindíssima de ‘Leãozinho’, de Caetano Veloso.

Quando Diogo Nogueira subiu ao palco, eu ainda estava flutuando na leveza de Vanessa. Porém, bastaram duas ou três músicas pra eu entrar de cabeça no samba do carioca, que trouxe um set recheado de homenagens a grandes nomes da música brasileira e Criolo como convidado especial, em um momento absolutamente memorável. Juntos, os cantores performaram ‘Juízo Final’, mais conhecida na voz de Clara Nunes, em clara referência ao momento político. Como se precisasse de reforço, Criolo emendou com a sua ‘Meninos Mimados’. Ambos finalizaram com ‘Agoniza mas não morre’, mais um clássico, conhecido principalmente na voz de Beth Carvalho. E nesse momento, o pôr do Sol nos agraciou com a iluminação perfeita.

Nesse momento, eu já estava me dando por satisfeita. Até então, havia visto performances inebriantes de alguns dos meus artistas favoritos e tido a oportunidade de conhecer um pouco mais de outros que já admirava. Eu não perdi por esperar.

Abrindo a noite, o festival trouxe Elba Ramalho, que representou o forró com toda a classe e elegância que ele merece através de canções como ‘Xote das Meninas’ e ‘Morena Tropicana’.

Frejat, em seguida, trouxe sucessos do Barão Vermelho, como ‘Dance Pense Dance’ e ‘Bete Balanço’, e agitou o público com sucessos solo, como ‘Amor pra Recomeçar’.

Encerrando a noite e o festival, Nando Reis chegou com o pé na porta, trazendo toda a simpatia que existe sob os cachos ruivos e sucessos como ‘All Star’ e ‘Relicário’.

Banheiro Químico? Que nada!

Apesar de a inimiga #1 de festivais, a chuva, ter marcado presença durante os dois dias do Nova Brasil, tivemos a alegria de não precisar contar com a presença do inimigo #2: os banheiros químicos. Aliás, não apenas nos banheiros, mas de forma geral, a equipe da limpeza do Nova Brasil esteve de parabéns: mesmo a pista estava super tranquila no quesito lixo – e a gente sabe como público de festival costuma ser, especialmente depois de tomar umas e acumular latinhas e copos descartáveis.

A bebedeira, claro, esteve disponível para todos. Os preços, como de costume, não estavam muito amigáveis nem no bar, nem na praça de alimentação; porém, nenhuma surpresa aí. O aspecto transacional do evento também não foi dos mais amigáveis: os cartões recarregáveis foram motivo de descontentamento não só para mim, mas para boa parte do público. Surpresa positiva, porém, foi a escolha das parcerias para o bar: boa cerveja, destilados de qualidade, drinks saborosos.

De toda a estrutura, porém, creio que o quesito ‘souvenirs’ do Nova Brasil foi motivo principal de desapontamento para o público. Foram distribuídos apenas 100 copos temáticos, para os primeiros que responderam à pesquisa de público em cada dia. A meu ver, essa foi uma perda monstruosa de lucro para o Festival, que poderia ter disponibilizado os copos no bar para venda. O mesmo aconteceu com os bottoms. Nada que não se resolvesse com um stand do mesmo tamanho dos utilizados pelas marcas parceiras de vinho e gin.

Para além, só tenho elogios. Eu nunca tinha ido ao Sambódromo antes, e confesso que fiquei surpresa com a qualidade do que a produção conseguiu realizar naquele espaço. O fluxo de pessoas foi muito bem organizado, distribuído pelos portões e entre os setores, com staff sempre atento às credenciais de cada pessoa. A praça de alimentação teve bastantes opções para todos os gostos, e espaços confortáveis para sentar e comer. Caixas estiveram espalhados por toda a área acessível ao público – o que foi essencial, já que optaram por fazer as vendas através do cartão recarregável. As ativações de marca dos patrocinadores interativas e funcionais para o público – inclusive, meus parabéns especiais à patrocinadora que disponibilizou o totem para que as pessoas pudessem se sentar e carregar os celulares entre um show e outro.

Saí do Anhembi no domingo à noite com uma sensação maravilhosa por tudo que o Nova Brasil proporcionou. Foram dois dias de boa música e bons encontros, acompanhados de bons comes e bebes. Celebramos o fim da saudade com estilo, e eu mal posso esperar pela edição do ano que vem!

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