Vale a Pena Ouvir | Royal Blood

O que Dave Grohl, Jimmy Page, Matt Bellamy e Matt Helders tem em comum? Os quatro são superestrelas da música e atingiram o status de lenda nos seus países e no mundo. E, mais importante, todos são fãs obstinados da banda inglesa Royal Blood. Em meio a discussões de se o rock morreu ou não, o Royal Blood está aqui pra mostrar que o rock ainda vive — e sua respiração é pesada, monstruosa e barulhenta. O Vale a Pena Ouvir de hoje traz a ascensão meteórica de uma das bandas mais promissoras dos últimos anos.

A dupla — formada por Mike Kerr (baixo, vocais) e Ben Thatcher (bateria) em Brighton, Inglaterra, em 2013 — foi um fenômeno instantâneo. No espaço de apenas um ano, a banda foi impulsionada de “novatos promissores” para uma banda inovadora que “está levando o rock a um novo nível” (palavras de Jimmy Page, não minhas). O caminho da banda se desenrolou tão rápido quanto as furiosas linhas de baixo em “Loose Change” e “Figure it Out”. Logo de cara, assinaram um contrato com a Wildlife Management— gravadora dos gigantes Arctic Monkeys. De quebra, Matt Helders vestiu a camisa da dupla durante seu show como headliner no Glastonbury de 2013. Kerr e Thatcher rapidamente conquistaram a admiração de grandes nomes da música, e na sua primeira turnê, abriram shows de Foo Fighters, Muse, e Queens of the Stone Age. Tudo isso com apenas duas pessoas no palco.

A rota do sucesso também passou pelas terras brasileiras. Em 2015, com a turnê do seu primeiro disco, a dupla foi chamada ao palco do Rock in Rio, esquentando o público para Motley Crüe e Metallica. Esse ano, a banda abriu o espetáculo do Pearl Jam no Maracanã (a resenha do show você lê aqui), subiu no palco do Lollapalooza e esgotou o Cine Joia, na capital paulista, em um dos side shows do festival. Vale notar que no show do Maracanã, Thatcher se apresentou trajando a camisa da banda carioca Nuclei, presente de um fã.

À esquerda: Matt Helders (Arctic Monkeys) veste a camisa do Royal Blood durante o show do Glastonbury em 2013. À direita: Ben Thatcher retribui o favor.

DUAS PESSOAS, MUITO BARULHO

Quando se fala em duplas famosas ativas recentemente, nomes como The Black Keys, The Kills, MGMT e até Twenty One Pilots vem à mente. Royal Blood é sem dúvida mais alto e barulhento que todos eles.

Isso se deve em parte à genialidade do baixista e vocalista Mike Kerr. Ele utiliza seus pedais para criar a ilusão de que há dois instrumentos — uma guitarra e um baixo — onde na verdade há só um. O resultado é uma verdadeira avalanche sonora. Ao ouvir a dupla em estúdio, é fácil imaginar que a banda é composta por umas três ou quatro pessoas. “Eu amo a ideia de pensarem que tem guitarras nisso [nas gravações de estúdio], chegarem em um show e perceberem que somos só nós; esse é o objetivo”, confessou Kerr ao portal Drowned in Sound.

E se esse é o objetivo, Kerr acertou o alvo em cheio e com louvor: frases como “ué, cadê o resto da banda?” e “jura que são só dois caras?” são parte tão essencial do show quanto o som agressivo e vulcânico do Royal Blood, ou mesmo quanto a sua icônica entrada no palco — feita, quase sem exceção, ao som de “99 Problems”, do Jay-Z.

O resultado é bem conhecido, mas detalhes sobre como isso acontece são um grande mistério. Kerr guarda o segredo a sete chaves e se recusa veementemente a dar detalhes sobre os equipamentos que usa e como os usa. Contudo, o princípio geral é duplicar o sinal que sai do instrumento e alterar individualmente cada um dos sinais — adicionando, por exemplo, distorção ou mexendo na oitava. Dessa forma, as mesmas notas são tocadas ao mesmo tempo, mas com efeitos diferentes e saem em amplificadores distintos.

Royal Blood ao vivo no Commodore Ballroom. No fundo (à esquerda), percebe-se os dois amplificadores usados por Mike Kerr para construir seu som único.

As influências da banda misturam o clássico com o novo: entre as influências vocais de Kerr estão Robert Plant, Jack White (e seus projetos The Dead Weather e The Raconteurs) e Jeff Buckley, mas as influências da banda figuram entre Foo Fighters,  Muse no começo da carreira, Queens of the Stone Age, um pouco de Red Hot Chili Peppers (especialmente nas baterias de Thatcher) e At the Drive-In.

O som do Royal Blood é como se Mjölnir — o martelo do Thor — fosse transformado em um arquivo de mp3 e passado por uma distorção feita sob medida. É ensurdecedor (no melhor sentido da palavra), altamente inflamável, e de alta octanagem. Tem gosto de um cruzamento entre hard rock e blues rock, com uma leve pitada de stoner rock que transmite a impressão de ser ao mesmo tempo familiar e inovador. É monstruoso sem deixar de ter um caráter quase dramático, especialmente pelas letras e pelos vocais de Kerr em canções como Don’t Tell ou Blood Hands. E, sem dúvida, vai chamar a sua atenção.

Vale a pena ouvir os 15 sucessos da banda listados abaixo, selecionados a dedo por nós da Terra Nérdica.

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