“Meu Pior Vizinho” surge como uma comédia romântica sul-coreana que acena aos fãs de doramas com aquele charme leve, porém não se contenta em apenas decorar fórmulas. A história abre com Lee Ji‑hoon no papel de Lee Seung-jin, músico sonhador que se muda para um novo apartamento com a promessa de recomeço e logo descobre que a promessa vinha acompanhada de uma parede finíssima e de um “fantasma” do outro lado. Esse “fantasma” é na verdade Han Seung‑yeon como Hong Ra-ni, designer reclusa, ansiosa, barulhenta — e vulnerável, assim como ele.
O filme brinca com os paradoxos urbanos: juntos e sozinhos, divididos por uma parede e ainda assim próximos o bastante para escutar — e ser escutado. Ele tem a leveza típica do entretenimento (tem humor, encontros atrapalhados, tensão romântica) e, ao mesmo tempo, uma profundidade que se infiltra nas fissuras da vida contemporânea como a solidão, o barulho que incomoda, a busca por conexão em espaços que nos isolam.
Um dos pontos altos está nos dilemas bem delineados dos protagonistas. Seung-jin quer tranquilidade, mas encontra ruído; Ra-ni quer silêncio ou talvez redenção, mas gera barulho. A convivência forçada vira terreno de descoberta: não só do outro, mas de si mesmo. E o roteiro deixa que esse processo aconteça com naturalidade — não sentimos que o filme nos empurra para “gostar” deles, nos envolve sem forçar.

Por outro lado, o filme também peca por seguir um padrão de gênero em que os personagens secundários não ganham tanto espaço ou nuances. O foco permanece quase todo em Seung-jin e Ra-ni, e as figuras ao redor servem mais como ecos ou reflexos do que como centros de transformação. Isso é típico de comédias românticas, especialmente no estilo dorama e o filme adota isso com consciência.
No que tange ao romance, há uma semelhança curiosa com o formato de “encontro às cegas” (como o reality Casamento às Cegas) – dois estranhos, separados por um muro ou uma barreira, descobrem afinidades, vulnerabilidades, nunca se veem e a narrativa os aproxima. Claro: há aquele momento de “ora, se ao menos tivessem pesquisado online um sobre o outro” — ou seja, a trama exige suspensão de descrença ainda mais em tempos de redes sociais que invadem o dia a dia. Mas talvez o encanto esteja exatamente nisso: na improbalidade assumida, no “e se isso desse certo mesmo?”, e no modo como o filme abraça o improvável com alegria.
Visualmente e atmosfericamente, o filme acerta pelo estilo contido, pela ambientação urbana, pela metáfora da parede como separação + ponte emocional. A montagem não arrasta, o humor nunca vira caricatura pesada, e o filme consegue equilibrar riso e melancolia sem cair nos dois extremos. A fotografia e direção – embora não sejam “grandiosas” – dão à produção o que ela precisa.

O desfecho merece menção especial: o filme aposta num ar “mágico”, improvável, típico do cinema oriental – aquele instante de beleza silenciosa, aquela imagem que prolonga o afeto depois do “último diálogo”. Aqui, a cena final funciona como epílogo emocional, um momento digno de fecho e de respirar. É o tipo de fim que não resolve tudo com lógica, mas com sensação — e, para quem está aberto a isso, é belo e comovente.
“Meu Pior Vizinho” não revoluciona o gênero, não inventa a roda da comédia romântica coreana. Mas o que faz é moldar bem essa roda — com personagens cativantes, dilemas humanos, risos e suspiros no lugar certo, e a elegância de não exagerar em artifícios. Lembrando que o filme é distribuído pela Sato Company e estreia no dia 13 de novembro nos cinemas!


