Se a primeira temporada de Gen V apresentou a Godolkin University como uma sátira afiada à indústria do entretenimento e à juventude superpoderosa moldada pela Vought, a segunda vem para fechar o ciclo — e, honestamente, faz isso com dignidade. Não é sobre escalar o absurdo ou o grotesco, mas sobre encerrar os arcos que realmente importam. E é curioso como, mesmo num universo que vive de exageros, a série encontra uma forma de se despedir com algo raro: coerência emocional. O sentimento é unânime entre nós — não precisa de mais. Gen V cumpre sua função como duas partes de uma mesma história, e termina exatamente onde devia: na resistência, na união e no amadurecimento desses jovens que começaram acreditando em heroísmo e terminaram sobrevivendo à verdade.
O que mais chama atenção nesta segunda temporada é como a narrativa se assume mais política e menos caricatural. Ainda há o humor ácido, o sangue em câmera lenta e as mortes tão absurdas que se tornam comentários sociais, mas tudo isso vem filtrado por uma lente mais dramática. A relação de alguns personagens com o passado, como foi inserida e trabalhada de forma bem sensível e natural a morte do Andre (Chance Perdomo), ganha um peso real, e o roteiro acerta ao não transformar reconciliação em redenção. É mais sobre aceitar o que restou.
Ainda assim, é difícil reclamar quando Gen V continua sendo um live-action de X-Men, ou melhor, um Sky High para maiores — uma escola que forma vilões em vez de heróis, com bullying, egos e hormônios como armas de destruição em massa. Essa comparação não é só nostálgica, mas um espelho do conceito. Enquanto lá existiam heróis e ajudantes, aqui temos heróis e atores — todos tentando provar o próprio valor em um sistema que já decidiu quem vai brilhar e quem vai servir de escada. É a mesma hierarquia, só que pintada com o cinismo que o universo de The Boys domina tão bem. E é justamente isso que diferencia Gen V: ela não cria supervilões, porque o mundo de The Boys já deixou claro que os vilões são os próprios heróis. A série entende isso e, ao contrário do que muitos derivados fariam, não tenta inventar ameaças maiores que o original. Ela apenas mostra o processo — como o sistema fabrica monstros, um trote por vez.
No fim, a segunda temporada entrega um encerramento mais redondo do que muita gente esperava. A união dos protagonistas com a resistência dá uma sensação de propósito e conclusão, algo raro em spin-offs. É até um alívio perceber que a baixa audiência pode salvar a história de ser esticada sem necessidade. Sem hype, sem mil teorias tiradas do nada, Gen V pôde encerrar jovem e digna — como muitas das suas vítimas. E se o portal de cu virou parte oficial do time (e, surpreendentemente, útil), é só mais uma prova de que a série nunca perdeu o senso de humor absurdo que a define.
No fim das contas, Gen V encerra sua segunda temporada como viveu: com sangue, sarcasmo e uma pontinha de verdade sobre o que é crescer num mundo que só te ensina a sobreviver.


