A primeira temporada de Kaiju Nº 8 foi uma grata surpresa para muitos, mas não para todos. Quem já acompanhava o mangá, como eu, já sabia do potencial dessa história que mistura ação, monstros colossais e personagens que carregam tanto fragilidade quanto heroísmo. Ainda assim, foi emocionante ver o público abraçar um shonen que parece feito sob medida para quem cresceu nos anos 90, mas que ainda busca um shonen protagonizado por adultos, ou melhor, millennials, enfrentando dilemas de maturidade.
A segunda temporada, portanto, chegou com grande expectativa, ainda mais porque já partia do ponto alto do confronto de Kafka Hibino contra o Diretor Isao Shinomiya, quando o protagonista quase sucumbe ao modo berserker de seu simbionte. Eu não acho que era um momento ideal para encerrar a primeira temporada, por mim teria encerrado com o Kafka sendo levado após se revelar como o Número 8, sacrificando sua identidade para salvar toda a Terceira Divisão da Força de Defesa Anti-Kaiju do Japão, e isso trouxe, ao meu ver, consequências para o ritmo da narrativa.
Essa nova fase mergulha fundo na questão das Armas Numeradas, revelando sua origem a partir dos corpos dos kaijus derrotados e mostrando os efeitos devastadores que elas têm nos usuários. A temporada também introduz o personagem preferido dos fãs do mangá, o Capitão Narumi, cuja personalidade excêntrica contrasta com sua fama de combatente mais poderoso da Força de Defesa. O detalhe de que ele carrega a Arma Numerada #1, capaz de prever movimentos inimigos, amplia a mitologia da série e reforça o peso da guerra iminente.
Em paralelo, o antagonista Kaiju Nº 9 executa um ataque calculado ao QG da Primeira Divisão, culminando num enorme sacrifício que deixa, não só o luto, mas motivação. Esse arco, por si só, já seria material suficiente para encerrar a temporada com força no treinamento dos numerados para a guerra, mas a produção preferiu ir além, deixando no ar a sensação de que pouco restará para a terceira temporada, a não ser que apostem em filmes para o desfecho, o que tem sido comum para animes do gênero.
Ainda assim, houve tempo para explorar o amadurecimento dos protagonistas. Kafka, cada vez mais consciente de que sua transformação o aproxima do destino de se tornar completamente um kaiju, mergulha em dúvidas existenciais. Seu treinamento com o Vice-Capitão Hoshina é um dos pontos altos da temporada, equilibrando ensinamentos práticos de combate com reflexões sobre a tradição da Força de Defesa, que antes dependia de lâminas para enfrentar demônios.
Do outro lado, Kikoru Shinomiya busca seu próprio crescimento ao treinar com Narumi e se preparar para herdar a Arma Numerada #4 que sua mãe portava em seu sacrifício para deter o Kaiju N° 6, conhecido como Rei dos Kaijus, que por sua vez dá a Reno Ishikawa, que retorna ao foco de vice-protagonista após uma temporada inteira distante, o desafio brutal de se tornar o portador da poderosíssima arma númerada feita dos restos do Nº 6. Essa tríade de treinamentos não só fortalece os personagens, mas também aprofunda o peso da herança e da responsabilidade, mostrando que empunhar uma arma numerada é tão perigoso quanto ser um híbrido como Kafka, que tem de enfrentar toda vez o desafio de não ser dominado pela consciência do numerado.
Se a narrativa mostrou consistência nos dramas e conflitos, tecnicamente a temporada apresentou altos e baixos. A animação continua eficiente, mesmo sem atingir o esplendor gráfico do mangá — um problema recorrente em adaptações de obras com arte muito refinada. Porém, a mixagem de som foi um ponto fraco: momentos cruciais, como os combates da Primeira Divisão contra o Nº 9 e as formigas kaiju, perderam intensidade por conta de trilhas sonoras mal encaixadas ou até ausentes, e efeitos sonoros que não transmitiram o impacto esperado. O enorme sacrifício e maior perda da divisão, por exemplo, que no mangá é carregado de emoção, soou menos impactante no anime justamente pela falta de peso sonoro. Ainda assim, o luto subsequente conseguiu recuperar a carga dramática, equilibrando as falhas técnicas com o carisma dos personagens.
Apesar disso, a série animada continua com as melhores músicas para abertura e encerramento, respectivamente com Aurora e, mais uma vez, com OneRepublic. As canções não trouxeram o peso o impacto das primeiras, mas com o tempo foram caindo no gosto também. No fim, a segunda temporada de Kaiju Nº 8 termina em um clímax que frustra e empolga ao mesmo tempo. É irritante ser deixado no auge da guerra, mas também é impossível não ficar ansioso pela continuação. A pressa no ritmo pode comprometer o futuro da adaptação, mas o material original ainda é forte demais para ser ignorado.
Entre batalhas épicas, perdas dolorosas e dilemas existenciais, o anime reafirma porque conquistou tantos fãs em tão pouco tempo. Agora, resta esperar que a próxima temporada consiga não só manter esse nível, mas também encontrar o equilíbrio certo entre espetáculo e respiro narrativo.
