A primeira temporada de Dandadan chegou de surpresa, parecendo um daqueles animes esquisitos que misturam maluquices só pelo choque. Mas logo mostrou que era muito mais que isso.
Entre as lendas urbanas japonesas, elementos alienígenas e casos sobrenaturais, descobrimos que o bizarro era apenas a superfície de uma obra que mergulha em temas mais profundos, incluindo ecos de injustiças sociais e até referências a true crimes. O episódio da Sedosa Acrobata foi o ponto em que todos entenderam: Dandadan não é apenas sobre excentricidade, mas sobre como o fantástico pode iluminar o sombrio. Com isso, a expectativa para a segunda temporada estava no auge, ainda mais com o gancho intenso deixado no arco do verme Tsuchinoko e da casa do Jiji.
A continuação não perdeu tempo em expandir esse universo, trazendo Jiji para o grupo de híbridos entre humano e yokai, ao lado de Okarun e Aira. Entre os momentos mais memoráveis, a temporada entregou uma das sequências musicais mais marcantes da história recente do anime: a tentativa de exorcismo com uma banda de metal japonesa – vale destacar que a versão ocidental da música Hunting Soul, foi gravada pela banda Dragon Force e ficou na cabeça de todos que assistiram por semanas. O espetáculo transformou algumas páginas simples do mangá em minutos de pura energia, com direito a espíritos saindo das lápides para curtir o show. É o tipo de ousadia que mostra como a direção do anime sabe reinterpretar o material original sem perder sua essência. Ainda assim, nem tudo brilhou. A nova abertura, que carregava o peso de suceder a anterior que foi vencedora do Anime Awards de Melhor Abertura do Ano, não teve o mesmo impacto inicial. Foi preciso tempo para se acostumar, mas nunca alcançou o status de hino como a primeira, apesar de boa também.
No entanto, nem todos os momentos musicais conseguiram encantar. O episódio que trouxe a batalha contra os espíritos da classe de música acabou soando repetitivo e, para muitos, chato. A ideia de usar notas musicais como ataques parecia criativa no papel, mas lembrou demais a já conhecida batalha musical de Doutor Estranho no Multiverso da Loucura e acabou sem o mesmo frescor da sequência metal. Apesar disso, a temporada continuou a impressionar na parte visual, mantendo aquele estilo rabiscado, quase caseiro, que transmite a sensação de um adolescente ilustrando situações absurdas. Outro ponto positivo foi a redução do ecchi exagerado, reforçando um ponto que sempre proclamei: por mais coroas gostosas e menos adolescentes sexualizadas — um equilíbrio que deixa a obra mais interessante e menos apelativa em comparação a tantas outras do gênero.
O romance entre Momo e Okarun segue sendo desenvolvido com um tom doce, embora às vezes seja difícil acreditar que um garoto como ele, ainda no colegial, consiga atrair tantas disputas amorosas. A evolução de sua autoconfiança e físico até justifica em parte, mas a disputa ainda parece pouco crível em alguns momentos. Mesmo assim, o anime constrói o relacionamento de forma gradual, culminando no cliffhanger do final, que revisita a revelação do nome de Okarun no primeiro episódio, só que agora em um contexto de ciúmes e confusão. Novos personagens foram inseridos com naturalidade, ampliando o círculo de amizades e mantendo a narrativa fresca. Vale destacar também que, apesar da dublagem oficial da Crunchyroll ter até Guilherme Briggs como o Camarão Boxeador, ela ainda perde muito para a dublagem da Netflix, que soube adaptar as referências culturais e memes japoneses para equivalentes brasileiros, mantendo a graça da obra original.
No balanço geral, a segunda temporada de Dandadan mantém o espírito ousado e experimental que conquistou os fãs, mesmo com alguns tropeços pelo caminho. A ousadia visual, os momentos musicais e a expansão do grupo de protagonistas mostram que a série ainda tem muito a oferecer. Mas fica claro que, se o tempo entre temporadas for longo demais, o ritmo e a intensidade podem perder força. Felizmente, a promessa de continuidade rápida mantém a chama acesa e deixa os fãs ansiosos para os próximos absurdos maravilhosos que só Dandadan consegue entregar.