Faça Ela Voltar (Bring Her Back) é o mais novo terror da produtora A24, com muitos acertos e pouquíssimos erros. Para nós, amantes do terror, trata-se, sem dúvidas, uma grata surpresa de 2025.
Sinopse: Após uma fatalidade Andy e sua irmã, Piper, terão seu laço familiar testados ao limite ao participarem de um plano maquiavélico de sua mãe adotiva.
Embora seja uma sinopse com liberdade criativa, não se deixe enganar pela simplicidade. Prepare-se para um daqueles filmes atmosféricos, que constroem tensão de forma crescente, sem sustos gratuitos. A medida que o filme se desenrola as coisas irão escalonando. E acredite, escalona muito.
Os diretores Danny Philippou e Michael Philippou deram aula, mais um vez, de como criar um terror satisfatório sem seguir clichês baratos. Mais conhecidos pelo filme Fale Comigo (2022), acostumem-se com essa dupla, pois Hollywood os adora e já estão em negociação com a Marvel para projetos futuros, além do Fale Comigo 2 (ainda sem previsão de lançamento). 
Diferente de “Fale Comigo”, “Faça Ela Voltar” apresenta personagens mais astutos — algo raro e bem-vindo no terror. Começamos por Andy, um irmão protetor vivido por Billy Barratt. Não sei o futuro de Billy, mas posso garantir que é promissor. Sua atuação é equilibrada e multifacetada: entrega alegria, drama, confusão e raiva com a mesma precisão. Ver uma performance tão refinada, especialmente em um jovem ator, é algo raro.
Seguimos com Piper, interpretada por Sora Wong, que também entrega uma atuação precisa. A personagem possui uma deficiência visual que lhe permite enxergar apenas silhuetas — os detalhes são borrados. Algumas cenas, inclusive, são mostradas sob sua perspectiva, o que aumenta a imersão. Esse aspecto não é apenas um recurso de roteiro: Sora Wong realmente possui essa condição visual, tornando sua estreia ainda mais significativa. Em seu primeiro papel, ela atinge um nível que muitos não conseguem após anos de carreira.
Fechamos com Sally Hawkins, intérprete de Laura, a mãe adotiva. Rapaz, aqui é ouro. Desde o início, o filme deixa claro que há algo de errado com a personagem — e nem tenta disfarçar. No entanto, em determinado momento, somos confrontados com seu lado da história. Não se trata de justificar suas ações, mas de adicionar camadas. “Doidinha de pedra” pode ser apenas um adjetivo fácil para uma depressão profunda — e só sentimos isso porque a entrega de Sally é poderosa.
Depois de tantos elogios ao elenco, fica a dúvida: seria mérito dos próprios atores ou fruto da direção cuidadosa? De qualquer forma, falta mencionar mais uma peça-chave: o pequeno Oliver, interpretado por Jonah Wren. Sobre ele, digo apenas que causará muita aflição — e o resto, deixo para vocês descobrirem.

Grande parte da trama se passa na casa de Laura — um ambiente aparentemente comum. Parece aquela casa de veraneio para onde você viajaria com amigos. O impressionante é como esse lar aconchegante também consegue ser inquietante. Não pela estrutura, mas pelos acontecimentos que o cercam. Laura e Oliver são os maiores empecilhos dos corretores, isso eu posso lhe garantir. A maioria dos personagens são trágicos, cheios de cargas emocionais, tentando lidar com as consequências do passado.
Agora, abordando pontos negativos da obra, esse filme traz personagens safos, certo? Mas por que são tão tapados na mesma proporção? Que agonia. Vários momentos eu gritava dizendo um “não é possível”, para logo em seguir mandar um “boa!”. Sim, talvez isso reflita nosso comportamento na vida real, mas estamos falando de ficção — não precisa nos imitar o tempo todo.
Por fim, admito que a mixagem de som poderia ser melhor. Infelizmente, não assisti com fones de ouvido, mas mesmo no home theater, o áudio não se destacou. O filme prende pela execução da história. Fuja dos clichês, Indústria. E, se for usá-los, que seja com inteligência.
Faça Ela Voltar é o tipo de terror que entrega camadas, clima, personagens marcantes e atuações impecáveis. Uma experiência intensa, emocionalmente carregada e que foge dos moldes tradicionais do gênero. Se você procura algo novo, envolvente e com aquela assinatura da A24, pode ir sem medo.


