“Iracema, uma transa amazônica” é um filme teuto-brasileiro de 1974, gravado em 16mm para um programa de TV alemão, antes de ganhar versão para os cinemas. Foi exibido em Cannes, mas censurado no Brasil até 1980. Só então teve sua estreia por aqui. Em 2024, o filme foi restaurado em Berlim, São Paulo e Rio de Janeiro.
Essa nova versão é DISTRIBUÍDO PELA GULLANE+ E ESTREIA EM 24 DE JULHO.
Iracema é uma garota de 15 anos que acaba de chegar a Belém para o Círio de Nazaré. Mesmo com a pouca idade, decide ficar na cidade e entra para o mundo da prostituição, recebendo dicas e conselhos de mulheres mais velhas. Um dia, em um dos cabarés, conhece Tião, Brasil Grande — caminhoneiro que cruza a Transamazônica transportando madeira. Ele leva Iracema em suas viagens, até que simplesmente se cansa dela e a deixa num prostíbulo de beira de estrada.
O filme é semi-documental. A história desses dois personagens se mistura com cenas reais, captadas enquanto eles atravessam o Brasil profundo. São conversas com o povo sobre como o país anda, como é preciso se virar pra sobreviver, sobre progresso, política, exploração, religião, desigualdade. Nada muito estruturado — só o Brasil sendo o Brasil diante de uma câmera ligada.
O elenco é ruim. A atuação é ruim. A direção parece amadora, e o filme inteiro tem cara de bagunça. O roteiro tenta contar algo, mas vive se perdendo, saltando no tempo sem aviso, jogando cenas que não servem pra nada. Dá uma sensação constante de estar boiando no meio da narrativa.
Mas aí vem o ponto.
Esse filme não te conta uma boa história. Ele é a história. Um punhado de fragmentos que te joga dentro de um Brasil que pouca gente conhece. Mesmo com pouco, a gente vê cultura, religião, comida, bebida, festa, estrada, poeira e suor. Vê a importância da estrada como artéria da sobrevivência de um povo.
“Iracema” é uma mistura crua de brasilidade tentando contar uma história coesa — e falhando. Mas nessa falha, ele revela algo real.