O cinema independente nacional chega com mais uma obra que tem o potencial de chamar muita atenção com a exibição do longa-metragem O Deserto de Akin, que é o terceiro longa-metragem na filmografia do diretor e roteirista Bernard Lessa, conhecido pelos curtas Tejo Mar, Sopro, Uivo e Assobio, e o filme A Matéria Escura.
Com lançamento para os cinemas no dia 31 de julho, estrelado por Reynier Morales, Ana Flávia Cavalcanti, Guga Patriota, Welket Bungué e Patricia Galleto, o filme foi premiado na categoria de Melhor Ator da seção Novos Rumos do 26º Festival do Rio e foi exibido na sessão de abertura da 32ª edição do Festival de Vitória.
A história de O Deserto de Akin é sobre o médico cubano do título do longa, um dos profissionais que estava trabalhando no Brasil em 2018 e, com as eleições, a cooperação entre o Brasil e Cuba chega ao fim e todos são convocados a retornar ao seu país de origem, deixando o protagonista em uma encruzilhada entre se estabelecer no Brasil ou retornar.

O filme, escrito e dirigido por Bernard Lessa, é um longa-metragem muito interessante de assistir, principalmente pela proposta de seu projeto em propor uma reflexão artística sobre um momento histórico recente da política do nosso país, com a eleição do agora ex-presidente Jair Bolsonaro em 2018. O encerramento do programa Mais Médicos foi uma, dentre tantas decisões, que tiveram impacto abrangente na população brasileira, se tratando do acesso à atenção básica da saúde, e desenvolver a narrativa do ponto de vista de um desses profissionais, sua importância na comunidade indígena em que realizava o seu trabalho e até sua ambientação como um estrangeiro no país.
O roteiro me surpreendeu por abordar a narrativa do macro em direção ao micro, como uma decisão para um todo que afeta de forma determinante o destino de um indivíduo e o seu entorno. Conhecemos a rotina do Akin como profissional, algumas questões que enfrenta durante seu trabalho, seu cotidiano e vida afetiva, estabelecendo para nós, como espectadores da obra, que estamos conhecendo a história de alguém adaptado ao nosso país e que precisa mudar tudo devido a essa decisão de viés puramente ideológico.
A direção é bem realizada, aproveitando os elementos naturais das locações, seja pela luz do dia ou a ausência dela durante a noite, aproveitando a sonoridade do ambiente para inserir algo muito mais habitual, trazendo uma cadência ao ritmo do filme que nos permite compreender alguns subtextos e a compreensão do personagem principal. Ao mesmo tempo, também existe uma boa construção de atmosfera a respeito do que aconteceu naquele período, que ficou marcado por tantas incertezas para boa parte da população.
As atuações que mais se destacam são as de Reynier Morales (Akin), ao interpretar o médico cubano que vive não apenas a questão de ficar no Brasil ou seguir para a próxima missão em um ponto de vista profissional, mas a reflexão sobre o desejo de ser pertencente a um lugar e como isso o afeta. Além dele, Ana Flávia Cavalcanti (Erica) também é excelente por trazer para a tela uma mulher que não apenas é parte dos dilemas afetivos do médico, na formação de um trisal que ocorre de forma muito natural, mas também é uma excelente representação dos medos, anseios e da desesperança que a mudança do cenário político irá trazer para o seu futuro.

O Deserto de Akin é uma ótima obra realizada pelo seu diretor e elenco, e um filme que vai aguçar a reflexão do seu espectador em uma perspectiva que, para alguns, será emocionante e, para outros, um confronto impactante sobre um momento político contemporâneo.
Assista ao trailer de O Deserto de Akin lançamento em 31 de julho nos cinemas.