Jurassic World: Recomeço chega carregando um peso duplo: o de ressuscitar uma franquia que vinha cambaleando e o de justificar sua própria existência após o fraco Domínio(2022). Ainda assim, o filme dirigido por Gareth Edwards e roteirizado por David Koepp (roteirista do Jurassic Park original) tenta responder com um retorno à essência da saga: personagens em missão perigosa, uma ilha isolada, e dinossauros gigantes à solta. Visualmente impressionante e com um elenco promissor, Recomeço entrega ação suficiente para entreter, mas tropeça quando tenta dar profundidade a personagens e ideias já exaustas.
A trama se passa alguns anos após os eventos de Domínio, com os dinossauros quase extintos por mudanças climáticas e doenças. Os poucos que restam estão confinados a uma zona equatorial isolada, onde, claro, uma nova operação secreta é montada. Liderada pela agente Zora (Scarlett Johansson), a missão consiste em coletar material genético de três espécies titânicas, com a desculpa corporativa de desenvolver um tratamento para doenças cardíacas. A missão, financiada por um farmacêutico inescrupuloso vivido por Rupert Friend, não demora a se cruzar com uma família civil em apuros, repetindo a velha fórmula da franquia: colocar crianças em perigo para gerar tensão emocional — uma técnica que aqui parece mais automática do que eficaz.
Apesar do elenco talentoso, incluindo Mahershala Ali e Jonathan Bailey, os personagens são arquétipos reciclados: a heroína corajosa, o cientista idealista, o vilão ganancioso, e o durão com passado sombrio. Poucos ganham desenvolvimento real, e quase todos seguem trajetórias previsíveis. A tentativa de equilibrar duas narrativas paralelas (a missão e a sobrevivência da família) acaba fragmentando o ritmo e diluindo a tensão. Ainda assim, Gareth Edwards demonstra domínio técnico ao construir cenas de ação espetaculares — como o ataque do Mosassauro ou o encontro com o novo dinossauro mutante: Distortus Rex — mesmo que nenhuma delas traga o impacto visceral que a série teve no passado.
Se falta originalidade ou emoção genuína, Recomeço compensa com um espetáculo visual digno de tela grande. As sequências envolvendo dinossauros são bem coreografadas, o design de som é potente e há momentos de pura diversão, ainda que breves. A ambientação, com névoas densas, flares vermelhos e florestas fechadas, evoca os melhores momentos de suspense da trilogia original. Edwards, experiente em lidar com monstros em larga escala, sabe como filmar criaturas com peso e presença. Porém, por mais que a direção tente resgatar o senso de maravilhamento, o roteiro pouco ousa: repete ideias, referencia o passado e evita qualquer risco narrativo.
Jurassic World: Recomeço é, no fim das contas, um reboot que entretém sem surpreender. Funciona como blockbuster de verão e agrada ao fã casual com suas criaturas gigantes e corre-corre na selva. Mas se o título sugere uma “renascença”, o filme entrega mais uma reciclagem elegante do que uma reinvenção ousada. A pergunta que paira, portanto, não é se Recomeço vale o ingresso — vale, pelas cenas de ação — mas se ainda há vida criativa suficiente nesta franquia para justificar mais capítulos.