Thunderbolts, que chega às telas carregando o peso de fechar a instável Fase 5 da Marvel, poderia facilmente ter sido apenas mais um apanhado de personagens B tentando imitar o sucesso de O Esquadrão Suicida ou Guardiões da Galáxia. Mas sob a direção afiada de Jake Schreier, o filme foge da fórmula cansada e entrega algo mais íntimo, vulnerável e existencial. O longa acerta logo de cara ao dispensar ameaças intergalácticas e cenas de destruição apocalíptica para começar com a imagem de uma assassina exausta à beira do colapso. Florence Pugh, como Yelena Belova, não só carrega a narrativa como confere a ela um coração partido e sarcástico que guia toda a experiência.

O grande mérito de Thunderbolts está justamente em reunir personagens que o próprio MCU parecia não saber mais o que fazer — Bucky Barnes, Guardião Vermelho, Fantasma, Agente Americano — e transformar suas falhas, traumas e ressentimentos em combustível narrativo. A dinâmica entre eles funciona porque existe um desconforto constante, uma sensação de cansaço e deslocamento que os aproxima mais do público do que os Vingadores jamais conseguiram. Eles não são heróis nem vilões clássicos; são sobreviventes de um universo que os usou, descartou e agora pede que se reinventem. E é dessa honestidade emocional que o filme tira sua força.
Narrativamente, o roteiro não se limita a entregar boas sequências de ação (que, aliás, são muito competentes), mas explora questões de trauma, identidade e propósito com mais seriedade do que o MCU costuma permitir. O personagem Bob, vivido por Lewis Pullman, é a peça mais surpreendente e dolorosa dessa engrenagem. Sua transformação no Sentinela — ou Vácuo — serve não apenas como clímax visual, mas como uma alegoria explícita de como poder e dor reprimida podem se tornar uma combinação destrutiva quando negligenciadas. A condução desse arco é corajosa e eleva o filme acima do mero entretenimento escapista.

No meio disso tudo, o humor aparece em doses precisas, sem jamais suavizar os temas sombrios. David Harbour mantém seu Guardião Vermelho tragicômico, enquanto Julia Louis-Dreyfus finalmente ganha espaço para fazer de Valentina uma vilã burocrática assustadora, manipulando vidas como quem organiza papéis de escritório. A trilha sonora de Son Lux e a fotografia cuidadosa de Andrew Droz Palermo criam um clima denso, de melancolia discreta e ameaça constante, que tornam o filme visualmente mais claro e coeso do que vários de seus antecessores da Fase 4.
Thunderbolts talvez não corrija todos os problemas do MCU, e algumas pontas soltas e personagens subaproveitados (como Fantasma) ainda evidenciam o desgaste da fórmula. Mas ao aceitar que seus protagonistas são imperfeitos, quebrados e improváveis, o filme encontra autenticidade onde outros se perdem no espetáculo vazio. Ele funciona porque entende que, no fundo, ninguém está lutando para salvar o mundo — só para sobreviver mais um dia. E se é isso que a próxima fase da Marvel promete, finalmente há motivo para se importar de novo. Um dos melhores filmes da franquia em anos.


