Um Pai para Lily é o tipo de filme que poderia facilmente escorregar para o melodrama barato ou para o sentimentalismo forçado, mas graças à direção sensível de Tracie Laymon e a um trio de interpretações notáveis, o longa se sustenta como um drama tocante e honesto. Inspirado em uma experiência pessoal da própria diretora, o filme conta a história de Lily, vivida com profundidade e autenticidade por Barbie Ferreira, uma jovem marcada pela rejeição e pelos abusos emocionais do pai, e que acaba encontrando, por acidente, no Facebook, um homem com o mesmo nome dele, mas com uma alma oposta. Esse encontro improvável entre duas pessoas solitárias resulta em uma amizade reparadora, sem nunca soar forçada ou artificial.
A força do filme está justamente nesse equilíbrio delicado entre a dor e a ternura. Ferreira entrega uma atuação de surpreendente alcance emocional: sua Lily é uma mulher que sorri para disfarçar as rachaduras internas, e cujas lágrimas nunca pedem pena, mas compreensão. John Leguizamo, por sua vez, interpreta o outro Bob Trevino com uma serenidade discreta e comovente. É um personagem que também carrega suas frustrações e decepções, mas que encontra no cuidado por Lily uma forma de ressignificar sua própria solidão. Juntos, eles constroem uma relação de afeto e acolhimento, que substitui os laços de sangue por algo mais verdadeiro: a escolha mútua.
Do outro lado dessa história está o Bob Trevino original, interpretado de maneira assustadoramente real por French Stewart. Conhecido pelo viés cômico em outros papéis, aqui Stewart entrega uma atuação inquietante e desconfortável. Seu personagem não é apenas um pai ausente ou negligente — é um manipulador, um homem emocionalmente abusivo que usa sua filha para alimentar o próprio ego. Em momentos que poderiam cair na caricatura, Stewart escolhe a via da sinceridade, fazendo com que sua crueldade soe ainda mais perturbadora, pois nasce de uma incapacidade genuína de enxergar o outro.
Ainda que o filme apresente algumas irregularidades no ritmo e certas soluções de roteiro um pouco previsíveis, Laymon consegue contornar boa parte dessas armadilhas com uma direção atenta às nuances emocionais dos personagens. Os diálogos silenciosos, os olhares demorados e os pequenos gestos ganham mais importância do que os grandes discursos, e mesmo os momentos mais dramáticos são conduzidos com leveza e humanidade.
Um Pai para Lily é uma história sobre encontrar família onde menos se espera e sobre a difícil, mas necessária, reconstrução emocional depois de anos de abandono e desilusão. É daqueles filmes que podem fazer o espectador derramar algumas lágrimas, mas de forma honesta, não manipulativa. Com interpretações poderosas e uma mensagem reconfortante sobre afeto e pertencimento, Laymon entrega um pequeno drama independente que merece ser descoberto.
