O MCU (Universo Cinematográfico da Marvel) continua enfrentando desafios na transição de fases, e Capitão América: Admirável Mundo Novo surge como mais um exemplo das dificuldades da franquia em manter a qualidade e a relevância de seus filmes. Desde sua concepção, a produção enfrentou inúmeros problemas, incluindo mudanças no título, refilmagens extensas e recepções mornas em testes de exibição. Tudo isso levanta a questão: será que este novo capítulo conseguirá fazer jus ao legado do Capitão América ou se tornará apenas mais um filme esquecível da era pós-Ultimato?
O maior desafio de Admirável Mundo Novo está na aceitação de Anthony Mackie como o novo Capitão América. Embora nos quadrinhos Sam Wilson tenha assumido esse papel em 2014, no cinema sua jornada tem sido mais questionável. Mackie nunca teve a mesma presença de tela que Chris Evans, e mesmo após protagonizar a série Falcão e o Soldado Invernal, sua versão do herói não conseguiu conquistar unanimidade entre os fãs. O filme, portanto, funciona não apenas como um novo capítulo do MCU, mas também como um teste definitivo para a aceitação de seu protagonista.
A trama se concentra na missão de Sam Wilson para recuperar um objeto crucial, enfrentando vilões como Sidewinder (Giancarlo Esposito) e Samuel Sterns (Tim Blake Nelson). Além disso, há a introdução do presidente Thaddeus Ross (Harrison Ford), o que reforça o tom político do filme, remetendo a O Soldado Invernal, mas sem a mesma profundidade. O roteiro tenta equilibrar múltiplos elementos, funcionando tanto como uma continuação de Falcão e o Soldado Invernal quanto como um semi-sequência de O Incrível Hulk. No entanto, a execução parece dispersa, tornando o filme um amontoado de tramas pouco desenvolvidas.
Visualmente, Admirável Mundo Novo tem seus altos e baixos. A cinematografia de Kramer Morgenthau apresenta um tom escuro que pode prejudicar a experiência, especialmente em exibições IMAX. Além disso, a direção de Julius Onah peca ao usar cortes rápidos e uma edição truncada, que prejudica a compreensão das cenas de ação. Momentos como a luta aérea e o embate entre Capitão América e Hulk Vermelho, apesar de promissores nos trailers, sofrem com a falta de impacto narrativo e com efeitos visuais inconsistentes.
O elenco faz o que pode com o material que tem. Mackie tem um desempenho bom, com um bom time para piadas e drama, mas não chega a ser marcante, enquanto Danny Ramirez consegue trazer certa energia ao papel de Joaquin Torres, o novo Falcão. Harrison Ford, por outro lado, adiciona um peso dramático bem-vindo como Thaddeus Ross, mas Giancarlo Esposito, apesar de seu talento inegável, tem pouco tempo de tela para realmente brilhar. O vilão Samuel Sterns, interpretado por Tim Blake Nelson, acaba sendo um dos pontos mais fracos da trama, desperdiçando uma oportunidade de criar uma ameaça convincente.
Admirável Mundo Novo ainda sofre com uma narrativa fragmentada. A tentativa de resgatar a essência mais séria de O Soldado Invernal não se sustenta, e o filme acaba caindo no mesmo problema de muitas outras produções da Marvel nos últimos anos: a necessidade de conectar múltiplas histórias, sacrificando o desenvolvimento individual de cada uma. Com uma duração de apenas duas horas, a sensação é de que muitas ideias foram apressadas ou simplesmente deixadas de lado.
No fim, Capitão América: Admirável Mundo Novo não é um desastre completo, mas também não é o filme que revitaliza o MCU. Ele entrega um entretenimento básico para os fãs, mas carece da força narrativa e do impacto emocional que fizeram os primeiros filmes do Capitão América tão memoráveis. Se Mackie realmente conseguirá sustentar o manto de Capitão América a longo prazo, ainda é uma dúvida, e o próprio futuro do MCU parece cada vez mais incerto.