Tesouro, dirigido por Julia von Heinz, é um drama com toques de comédia que aborda a relação entre pai e filha enquanto explora o trauma geracional e o legado do Holocausto. Baseado no romance autobiográfico Too Many Men (1999), de Lily Brett, o filme acompanha Ruth (Lena Dunham), uma jornalista nova-iorquina, que viaja à Polônia em 1991 com seu pai, Edek (Stephen Fry), um sobrevivente de Auschwitz. Ruth deseja se reconectar com suas raízes e entender o passado de sua família, mas enfrenta a resistência de Edek, que prefere evitar reviver memórias dolorosas. A viagem os leva à cidade natal de Edek, Łódź, e ao campo de concentração de Auschwitz-Birkenau, onde confrontam histórias e sentimentos guardados há décadas.
O filme combina humor e drama, com Ruth representando a busca pela memória e verdade, enquanto Edek personifica o desejo de seguir em frente. Ruth está consumida pelo passado e luta com questões pessoais, como um transtorno alimentar e autolesões, enquanto Edek, carismático e espirituoso, tenta desviar sua atenção dos horrores que viveu. Apesar das tensões iniciais, ambos passam por transformações emocionais ao longo da jornada, desenvolvendo uma conexão mais profunda e enfrentando suas respectivas dores. A química entre Dunham e Fry, somada à intensidade emocional trazida por suas próprias experiências de vida, confere autenticidade aos personagens e suas trajetórias.
Visualmente, o filme recria com detalhes o cenário da Polônia pós-Cortina de Ferro, com uma atmosfera sombria e decadente que reflete o peso histórico da narrativa. Filmado em locações na Alemanha, os cenários pintam uma Varsóvia e uma Łódź descoloridas, marcadas por tons cinzentos e marrons, simbolizando a vergonha e o luto do passado. As interações com outros personagens, como moradores poloneses e turistas, ajudam a ilustrar como a memória do Holocausto é tratada tanto local quanto globalmente. Momentos de humor surgem da dinâmica entre pai e filha, mas o tom permanece profundamente marcado pelo peso histórico e emocional dos eventos retratados.
Embora o filme evite a ambição de incorporar elementos sobrenaturais presentes no livro, como o fantasma do comandante de Auschwitz, ele aborda questões complexas de forma sincera. Ao tratar de temas como o antissemitismo institucionalizado, a transmissão de traumas entre gerações e as formas de lidar com o passado, Tesouro consegue emocionar e trazer reflexões importantes. Apesar de algumas escolhas narrativas parecerem superficiais, a intensidade emocional dos protagonistas e a honestidade da direção de von Heinz garantem que a história ressoe com o público, oferecendo um lembrete poderoso sobre a importância de lembrar e enfrentar os horrores da história.