A segunda temporada de O Senhor dos Anéis: Os Anéis de Poder trouxe uma série de acertos e alguns deslizes que, no geral, consolidam o que a série se propõe a ser: uma expansão grandiosa do universo de Tolkien, mas com suas próprias liberdades criativas. A trama ganhou mais complexidade e desenvolvimento em comparação à primeira temporada, e, no entanto, algumas escolhas de roteiro levantam questionamentos. Vamos por partes.
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A trama envolvendo Khazad-dûm foi, sem dúvida, uma das melhores partes da temporada. A forma como eles construíram o mistério em torno do Balrog foi simplesmente sensacional. Toda essa questão do Rei Durin ser controlado pelo anel para continuar escavando até encontrar o coração da montanha, onde tem Mithril o suficiente para minerarem por séculos. O Balrog, que vive ali, foi apresentado de uma maneira brilhante. Apesar de visualmente ser similar ao que vimos na trilogia original, a ideia das asas de fumaça que permitem a ele voar foi uma adição impressionante. A sequência em que o Rei Durin se sacrifica para manter o Balrog preso é forte, mas inicialmente pareceu um pouco sem sentido. Contudo, ao entender que aquilo era necessário para preservar Khazad-dûm, o impacto foi maior. E o que achei mais interessante é que esse sacrifício não altera a ordem das coisas como conhecemos nos livros, já que o Balrog volta a ser enterrado. Mas agora, os anãos sabem que ele está lá — o que nos deixa com a dúvida: será que o Durin VI, futuro neto de Durin IV, vai manter essa promessa de nunca mais escavar tão fundo?
Agora, esse Mago Sombrio que introduziram… sinceramente, ainda não entendi qual é a função dele na trama. Ele tem uma vibe meio Saruman, com toda aquela coisa de tentar convencer o Estranho a se juntar a ele, mas o discurso dele soa vazio. Ele fala de paz, mas com intenções egoístas de se tornar o sucessor de Sauron. Isso soa batido, e parece que o arco dele está lá só para preencher espaço. Talvez ele se revele mais importante nas próximas temporadas, mas por enquanto, é um personagem que pouco acrescenta.
Ah, os halflings… gosto desses pequenos, mas a série não soube o que fazer com eles. A forma como chamaram o Estranho de Grandelfo, tentando associar isso ao Gandalf, foi extremamente mal executada. Não é que o nome não faça sentido, mas a maneira como foi revelado pareceu forçada e tosca. E a dinâmica entre Gandalf e Nori foi se desintegrando ao longo dos episódios, com cada um seguindo seu próprio caminho, o que já era esperado. Mas o tom cômico, com Gandalf tropeçando no próprio cajado, foi de uma tolice desnecessária. O arco dos halflings chegou ao fim, e, sinceramente, já era hora, mas acho que a série poderia ter feito muito melhor com eles.
Por outro lado, Númenor foi um dos grandes destaques da temporada. A guerra civil ali se tornou o melhor ponto da série, adicionando camadas de tensão política e intriga. A resposta sobre como Elendil se tornaria o rei de Gondor foi bem amarrada, com a Miriel entregando a espada que simboliza o direito de liderar os numenorianos, espada essa que passará depois para Isildur e, mais tarde, para Aragorn. Essa transição de poder foi bem executada e serve para pavimentar o que já conhecemos da história de Elendil. Contudo, o subplot envolvendo Isildur se envolvendo com uma mulher casada… ainda estou tentando entender qual o propósito disso. A série parece ter inserido esse detalhe para gerar algum conflito futuro, mas até agora, não foi muito explorado de forma relevante.
Agora, vamos falar da guerra em Eregion. Eu entendo que eles tentaram recriar a grandiosidade das cenas de batalha vistas na trilogia original, especialmente em Minas Tirith. Mas aqui, os elfos cometeram alguns erros grotescos. Como aquele arqueiro que tinha toda a vantagem no terreno alto, mas decidiu pular para o térreo só para tomar uma machadada. Sério? Isso foi desnecessário e meio frustrante de assistir. E a morte de Celebrimbor? Bem, era algo esperado, dado o desenrolar da história. A fala final dele foi interessante, reconhecendo que Sauron, apesar de se achar o mestre da Terra-média, não passa de um Senhor de Anéis que será destruído pelos próprios anéis que ele tanto preza.
O arco do Adar continua sendo um dos mais intrigantes. Desde o início, ele não queria a volta de Sauron, mas sim um lugar para sua “família” de orques. No entanto, seu chefe-orque começou a questioná-lo, e com razão. Adar mentiu sobre não sacrificar os orques, mas acabou fazendo exatamente isso. Agora, esse orque se aliou ao Sauron, sem saber que Sauron não se importa nem um pouco com os orques. A cena do Adar sendo curado e voltando à sua forma original foi surpreendente, e por um instante achei que revelariam que ele era, na verdade, Celeborn. A traição dos orques contra Adar foi impactante, especialmente com Galadriel assistindo tudo.
A luta entre Galadriel e Sauron nas ruínas foi outro ponto alto. A forma como Sauron se transformava, zombando dela, foi uma maneira inteligente de explorar os poderes dele. E quando Galadriel fingiu que entregaria o anel e se jogou da montanha, foi uma cena de tirar o fôlego. Contudo, acho que ela deveria ter mantido o anel, pelo menos para se curar. A sequência final com Elrond aceitando o anel para salvar Galadriel não foi exatamente uma surpresa, já que sabemos que ele eventualmente usa o anel que era de Gil-Galad, mas foi bem construída para esse ponto da narrativa.
O final da temporada leva os personagens a um novo refúgio, e o Gil-Galad menciona que o local é protegido pelos anéis. Estamos vendo o embrião do que será Valfenda. A série, de maneira geral, amarra bem suas tramas principais, mas ainda deixa muito espaço para futuras reviravoltas.
No geral, a segunda temporada de Os Anéis de Poder entregou ótimos momentos, mas ainda peca em certos detalhes e escolhas narrativas. O potencial da série está lá, principalmente nos núcleos de Khazad-dûm e Númenor, mas outros arcos, como o dos halflings e do mago sombrio, ainda precisam ser melhor trabalhados para não perderem relevância. Porém, tivemos grandes melhorias nessa temporada como, conseguirem utilizar alguns dos elementos que até então não puderam usar na primeira temporada, o que permitiu o Annatar, por exemplo, que foi excelente e redimiu o ator do Halbrand. Isso é o exemplo da diferença que uma boa direção faz. Espero que a próxima temporada venha trazendo coisas boas assim também. Ansioso para… daqui a dois anos?