O diretor Ken Loach é conhecido pela sensibilidade e pela perspectiva social que acrescenta em seus trabalhos, levando os espectadores a profundas reflexões. Em seu último filme, ele mantém sua convicção cinematográfica. O cineasta renomado, vencedor do Festival de Cannes, Prêmio César, Leão de Ouro e muitos outros, chega aos cinemas brasileiros com “O Último Pub” (The Old Oak).
O longa, que será lançado no dia 8 de agosto, foi roteirizado por Paul Laverty e é estrelado por Dave Turner, Ebla Mari, Claire Rodgerson, além da participação de muitos atores não profissionais. A história de “O Último Pub” gira em torno de TJ Ballantyne, dono de um pub ameaçado de fechamento após a chegada de refugiados sírios, enquanto o vilarejo enfrenta diversas questões oriundas de suas próprias políticas.
Neste grupo de refugiados, TJ conhece a jovem síria Yara, que tem uma câmera. A partir desse momento, nasce uma amizade inesperada entre os dois personagens, apesar das tensões e preconceitos que pesam sobre a vila. A direção utiliza o mais simples para refletir o que há de mais orgânico nas questões sociais abordadas no filme, apresentando uma visão realisticamente dura e nada romantizada de temas históricos e atuais.
“O Último Pub” não prepara o espectador para o cerne da história de forma gradual; ao contrário, o empurra diretamente para a reflexão sobre o que está acontecendo. É um filme totalmente focado nos diálogos, o que traz um ritmo lento, sempre bem-vindo em contraponto às muitas experiências cinematográficas frenéticas.
Mesmo sendo mais cadenciado, o filme não deixa de proporcionar o impacto devido com um roteiro que mostra muitas perspectivas sobre o seu tema principal, evitando uma visão utópica ou romantizada. Em “O Último Pub”, vemos um lado mais orgânico da sociedade, que é preconceituosa e, ao mesmo tempo, busca acolher aqueles que vêm de fora, enquanto lida com suas próprias questões.
Ken Loach é conhecido por abordar questões sociais em seu país de origem, de uma forma que não é tão crítica em outras produções, mostrando como esses problemas afetam as pessoas mais pobres. Em seu último filme, a relação desse tema com a questão da imigração intensifica o retrato dessas pessoas, além do ponto em comum que ambas as realidades têm e que pode ser visualizado em qualquer nação. Afinal, qual lugar no mundo trata sua classe trabalhadora com o mínimo de respeito e empatia?
As diferenças culturais também se destacam no filme, simbolizadas na relação entre TJ e Yara, uma amizade que conduz toda a reflexão em torno dos temas que o filme pontua. Esse simbolismo é bem representado por Dave Turner e Ebla Mari, que mostram uma grande compreensão de seus papéis, entregando uma atuação muito boa.

Neste balanço de contrastes, o filme explora também a jornada das figuras centrais, mostrando como o encontro os ajuda a encarar suas realidades de forma um pouco mais suportável. A conclusão do filme não é chocante, mas considero um desfecho positivo que respeita o trabalho de Ken Loach como um diretor respeitado em seu meio. “O Último Pub” é uma visão crítica, fria e orgânica sobre uma correlação de temas que muitas vezes não é abordada com a sensibilidade que merece, podendo se adequar a qualquer realidade.