The Bear mais uma vez prova o porque é uma das melhores séries já feitas na história da TV, continuando o excelente trabalho feito nas duas últimas temporadas. É desafiador, alegre, estressante do tipo que faz a ansiedade que você não tem aparecer. Essa temporada é muito focada na transição que o restaurante faz de um simples lugar que vende sanduíches para alto gastronomia e como isso tem um preço a se pagar, como poucas horas de sono, cansaço, estresse e desenvolver transtornos que vão aparecer principalmente na Sydney, vivida maravilhosamente por Ayo Edebiri.
A série poderia ser uma história linear sem nenhum problema: há uma recompensa simples, porém rica, em passar tempo com essas pessoas – um sentimento que o próprio show afirma em um dos novos episódios. Se Christopher Storer nos desse 10 episódios de desenvolvimento de receitas e personagens, seria satisfatório, porque suas escolhas de fotografia são lindas, seus personagens são calorosos, seus roteiros são engraçados e precisos mesmo em momentos simples, com tensão derramada para finalizar. Mas Christopher Storer vai além disso.
O episódio de abertura é um deleite artístico, desafiando corajosamente o formato dos 18 episódios anteriores e se recusando a confortar a audiência faminta com mais do que funcionou. E apesar da mudança de estilo, não há compromisso com o que torna The Bear tão emocionante: é implacável em sua emoção, mesmo enquanto aumenta a audácia. Para não prolongar a analogia, mas este é o refinamento da receita em ação quase perfeita. Com poucos diálogos damos um passeio pelas memórias de Carmy de uma forma linda e triste, e isso nos prepara para o que está por vir nessa temporada.
A coragem é um ponto importante aqui. As amplas escolhas criativas são uma coisa, mas a escrita é completamente diferente. À essa altura, os fãs de The Bear já sabem esperar diálogos afiados e trocas entre personagens que parecem sugar todo o ar do ambiente, mas o panorama geral da temporada 3 é algo distinto das anteriores.
A temporada é impulsionada por três tramas principais entrelaçadas, todas parecendo caminhar para conclusões, mas The Bear é corajosa o suficiente para não responder tudo. E não há truques baratos para fazer você querer mais (apesar da tela preta de”Continua…”), porque o verdadeiro prazer está na jornada da narrativa. Como boa comida, The Bear é sobre o sentimento, não sobre a conclusão.
Há também o mesmo compromisso alegre com humor e distração que categorizou de forma improvável The Bear como uma comédia para alguns. O equilíbrio é impecável: você não pode ter pressão alta incessante sem algum alívio, ou então você sacrifica toda a capacidade de assistir novamente. Em resumo, você não pode se empanturrar sempre com Carmy: você precisa de um pouco de Richie, Neil Fak e Sidney para ter um respiro.
Muitos diriam que a história de Carmy é o fio mais envolvente, mas o programa explora a ideia de família e trabalha bem com seu incrível elenco. Alguns dos momentos mais memoráveis nas três temporadas pertencem aos personagens secundários, e neste mundo, a categoria de personagens “secundários” parece menos uma indicação de menor status e mais uma confirmação de importância.
Tina (Liza Colón-Zayas) ganha um episódio inteiro para se destacar, que está entre os melhores e é o episódio que marca a estreia de Ayo Edebiri na direção, um episódio comovente para conhecermos um pouco do passado da Tina; um episódio especial para Nat que é o melhor dos 10 trazendo Jamie Lee Curtis de volta ao papel de Donna Berzatto ela e Abby Elliott fazendo quase um monólogo sobre sua relação de mãe e filha, onde mesmo com os problemas entre elas percebemos que tem um amor genuíno. Todos que ainda não tinham tido espaço para o desenvolvimento receberam nesta temporada. Richie de Ebon Moss-Bachrach é um pouco mais contido do que eu gostaria, mas é em nome do drama, e é um compromisso aceitável considerando o grande espaço que ele tem na primeira e segunda temporada.
Jeremy Allen White como Carmy é ridiculamente bom, como sempre, em sua atuação, provando entrar pro Hall de maiores atores de sua geração. Ele está tenso; um nervo exposto de energia ansiosa cuja atuação física é tão convincente que ele mal precisa falar às vezes. Este é, como sempre, um programa sobre o peso do trauma e a ideia de legado, e o retrato convincente de ambos por White é uma dádiva.
No panorama geral The Bear não cai de nível do que já foi entregue, e arrisca coisas novas que são muito bem vindas, talvez tenhamos já a melhor série do ano, e vamos esperar ansiosos pela quarta temporada.