“Clube dos Vândalos” adapta o livro “The Bikeriders” (“Os Motociclistas” em tradução livre) que narra os dias de um moto clube de Chicago chamado “Vândalos” entre 1965 e 1973 através de entrevistas gravadas com diversos membros, principalmente com a esposa de um deles interpretada por Jodie Comer (“Killing Eve”).
O fio condutor é Kathy (Jodie Comer), esposa de Benny, personagem de Austin Butler (“Elvis”) que é considerado pelo presidente do clube seu braço direito. Através dos seus olhos conhecemos cada membro do clube e aprendemos que suas origens são de trabalhadores de colarinho azul entusiastas de moto que almejam uma vida bandida de televisão. Aqui devo chamar atenção ao verdadeiro personagem do filme: o clube. Todos os membros são memoráveis graças aos seus grandes intérpretes – o filme está recheado de atores reconhecíveis. Suas histórias individuais são importantes para sabermos que essas pessoas não vieram de criações repletas de violência e descaso. Me lembrou uma fala memorável da série “Mayans MC” (sequência da aclamada “Sons of Anarchy”): “[O moto clube] é uma escolha. Esse é o privilégio de ser Americano. Enquanto o resto de nós luta tanto para sobreviver, você flerta com a morte por hobby.”

A história do clube serve de espelho da cultura americana durante a época: a idolatria aos “bad boys” arruaceiros, a hipocrisia de famílias conservadoras, a situação precária dos veteranos da Guerra do Vietnã e bastante privilégio branco – o clube incendeia um bar inteiro e fica horas parado em frente admirando sua vingança rodeados por policiais e bombeiros sem coragem de interrompê-los na mesma época em que a luta contra segregação racial apenas começava a ter resultados significativos.
Visualmente é um filme bonito, com alguns momentos de destaque. A trilha sonora não decepciona, porém é bastante previsível dada a temática. O desenho de som também é de se elogiar, especialmente nos momentos em que as motos servem de intimidação. Mas o destaque vai para a construção dos personagens, incluindo roteiro, atuações, maquiagem e vestuário. Todos os personagens lembram pessoas reais, com diálogos naturalistas que rendem interpretações verossímeis – fotos das pessoas reais do clube durante os créditos mostram o empenho da produção em representá-los. Pode não ser um filme que mude a história do cinema ou que tenha os melhores resultados na bilheteria, mas suas performances ficarão em minha memória como referência por um tempo.