O cinema é uma expressão artística que possui uma infinidade de camadas, recursos para enviar a sua mensagem e até em seus gêneros isso ocorre tornando a sétima arte muito especial como no caso de A Estrela Cadente (E toile Filante).
O filme é dirigido e roteirizado por Fiona Gordon e Dominique Abel que trabalham juntos desde L’iceberg lançado em 2005 sendo este o segundo filme com a direção e roteiro sendo realizado apenas pela dupla.
Além da direção e roteiro ambos estrelam o filme que também conta no seu elenco com Kaori Ito, Philipe Martz, Bruno Romy que já co-dirigiu algumas produções de Gordon e Abel.
A Estrela Cadente chegou aos cinemas nacionais em 16 de maio distribuído pela Pandora Filmes e já foi exibido no Festival de Locarno e foi ganhador do prêmio de júri no Beaujolais Meetings of French-speaking Cinema.
O enredo do filme é sobre Boris, um ex-ativista que trabalha como barman no A Estrela Cadente evitando estar em evidência até que uma vítima o encontra querendo vingança. Mas graças ao surgimento de um sósia chamado Dom ele e sua esposa encontram um plano de fuga, porém não contavam com uma detetive ex-esposa em busca do seu paradeiro.
Este é um filme de comédia muito diferente do que o mainstream produz quando trata-se do gênero, tendo diálogos quase que monossilábicos e utilizando-se muito dos elementos de cena e uma atuação muito física de todo o elenco.
A direção da dupla me agradou bastante por trazer um aspecto mais intimista ao contar a história remetendo a experiência como um todo, sendo algo muito mais teatral do que cinematográfico e as atuações do elenco harmonizam perfeitamente com a estética proposta pelos diretores.
Aliás, essa estética de direção faz muito sentido pela base de ambos no teatro, tornando as cenas muito mais abertas ao interpretativo do espectador do que ser apenas o que está acontecendo naquele momento. Mas os co-diretores não se prendem apenas a uma expressão um pouco mais crua para sua narrativa, adicionando música e até um elemento musical muito bem coreografado para tornar tudo muito mais atrativo.
Provavelmente para uma pessoa muito mais acostumada com um humor muito mais expositivo, falado e até com um texto um pouco mais forte vai estranhar a um primeiro momento, porém é nesse estranhamento que a experiência de A Estrela Cadente se torna interessante.
A respeito do trabalho de atuação achei excelente porque traz o elemento da comédia para algo muito mais voltado aos primórdios desse gênero, sendo a ação combinada com os elementos em cena o que torna tudo mais engraçado, acontece todo o tipo de situação incomum e isso sempre acontece com os participantes da cena com expressões mínimas ou quase neutras.
A expressão é o que considero o elemento mais em destaque para o desenvolvimento dessa trama pois nela se simboliza toda a jornada realizada pelo protagonista e sua esposa como, por exemplo, uma cena de ambos correndo na cama significando que Boris é um fugitivo.
Outros elementos com montagem e trilha sonora são muito bem aproveitados mesmo que sendo muito simples por se tratar de uma produção de orçamento mais modesto, porém não deixa a desejar em relação a proposta do filme como um todo.
Além da comédia a história abre o espaço para uma interessante reflexão social que espalha-se de forma muito charmosa ao longo dos 98 minutos de todo o longa, lembrando que a arte da comédia também se trata disso.
A Estrela Cadente é um ótimo lembrete que o cinema é um espaço para o que é grandioso, deslumbrante e épico mas também para o simples, íntimo e reflexivo sendo uma produção que vale a pena assistir.