O diretor David Leitch (“Deadpool 2“, “Trem-Bala“), que também foi dublê e coordenador de dublês, dispensa sutilezas no seu mais novo filme que é parte carta de amor aberta aos heróis “invisíveis” do cinema, parte cobrança à indústria que valorizem mais esses profissionais e parte sátira dos filmes de ação que o próprio fez para construir sua carreira.
A história é uma adaptação de uma série de TV americana que chegou ao Brasil como “Duro Na Queda” em 1981, mas tendo nascido em 1992 eu nunca a assisti, portanto não sou capaz de julgar seu valor como tal. Porém, como filme de ação e comédia ele é espetacular! Na trama, Colt Seavers (Ryan Gosling) é um dublê que tem um caso de amor com a operadora de câmeras Jody Moreno (Emily Blunt) até que um acidente de trabalho o leva a abandonar a carreira e se afastar de Jody. Um tempo se passa até que a produtora Gail Meyer (Hannah Waddingham) o contata com a notícia de que Jody está dirigindo seu primeiro filme e ela o quer envolvido na produção, mas na verdade isso é isca para que ele se envolva na busca pelo astro de ação Tom Ryder (Aaron Taylor-Johnson) que desapareceu durante as filmagens, o que coloca em risco a primeira oportunidade de Jody como diretora.
As decisões dos nomes de alguns personagens me deixaram com uma pulga atrás da orelha, como Tom, o astro de ação que adora se gabar de realizar suas próprias cenas de ação, e Gail, uma produtora nojenta e falsa que representa o estereótipo dos executivos que exigem mudanças em produções das quais eles nada entendem. Fico pensando se existe animosidade por trás dos bastidores entre o diretor e Tom Cruise e Gale Anne Hurd (produtora de grandes sucessos comerciais) ou se não passa de uma piada inofensiva. De qualquer forma, a história faz graça com grandes produções de ação da atualidade, como “John Wick“, “Duna” e “Rebel Moon” tanto que não pode ser coincidência a data de estreia vir tão próxima do lançamento de dois novos capítulos de duas dessas franquias.
Para além da sátira, a história de Colt e Jody é muito legal. É a clássica “casal que nunca conseguem ficar juntos mas que todos torcem para que fiquem” e Leitch usa de fotografia nada sutil para comunicar os sentimentos entre os dois. Destaco aqui a cena do telefonema entre Jody e Colt, apontada pela personagem de Blunt como uma ferramenta de roteiro datada e difícil de ser usada corretamente, na mesma cena em que a tela se divide e une os dois personagens que estão distantes, tanto emocionalmente quanto fisicamente, no mesmo quadro. As cores usadas no ambiente em que cada personagem está vão mudando entre tons frios e quentes à medida que a conversa entre eles modifica seus sentimentos um pelo outro. É tão sutil quanto um soco na cara, algo do qual o diretor entende bem.
O resultado é um filme pipoca muito engraçado, com trilha sonora com hits desde Kiss até Taylor Swift, ação grandiosa e exagerada que fazem a experiência de assistir na telona com um bom som surround valer o ingresso.