Hayao Miyazaki, diretor do Estúdio Ghibli, é notório por contar histórias que necessitam de reflexão. Porém, além disso, existe para nós ocidentais a barreira cultural de assistir uma história sobre a vida no Japão durante a Segunda Guerra Mundial. Admito que assim que terminei o filme tive minha interpretação sobre algumas coisas, porém nem tudo fez sentido e precisei pesquisar sobre simbolos e até mesmo ler interpretações de outras pessoas. Para alguns isso já seria um ponto negativo, o clássico “preciso fazer uma faculdade para entender o filme?” Mas um outro ponto de vista é o de que assisti-lo é ser atiçado a saber mais da perspectiva dos civis japoneses durante a guerra através dos olhos de sua juventude.
A história segue Mahito, um menino de 11 anos classe alta, cujo pai é dono de uma fábrica de aeronaves de guerra – assim como o pai de Miyazaki. Já fazem 3 anos desde que ele perdeu sua mãe, Himi, em um incêndio no hospital onde ela estava internada e ele e o pai estão se mudando para as terras da família dela no interior do Japão. Mahito agora está conhecendo a nova esposa de seu pai: sua tia Natsuko, irmã de sua falecida mãe. Elas são muito parecidas e Mahito se sente conflitado quanto a gostar dela. Desde sua chegada, uma garça cinza o segue e a cada dia se aproxima mais, até que ela diz a Mahito que sua mãe não está morta e que ele pode levá-lo até ela, atraindo Mahito para uma torre abandonada na propriedade onde ele entra num mundo paralelo em busca de sua mãe. Ao mesmo tempo, Natsuko desaparece na floresta próxima à torre.
A partir daí, Mahito passa por situações fantasiosas envolvendo aves antropomórficas que refletem muito do que foi a guerra para a população japonesa: bombardeios, a ameaça que vem do céu, escassez de comida que faz com que as pessoas cometam maldades entre si para sobreviver, por sua vez impedindo a renovação da sociedade e a existência de gerações futuras em meio a uma forte presença militar que só sabe repetir palavras de ordem de um líder que só está em busca de mais poder. Existem diversos outros símbolos pela história, mas o cerne é a busca de Mahito por sua falecida mãe que o leva a encontrar sua tia e abraça-la como sua nova mãe.
Para você que está achando tudo muito complicado, fique tranquilo. Tanto sua arte quanto sua trilha sonora são lindas, além de ser repleto de bom humor, fazendo desse filme uma experiência prazerosa para além dos simbolismos e independente da compreensão.