Então, essa semana terminou de sair todos os episódios de Percy Jackson e os Olimpianos no Disney+. Após uma longa espera, os fãs fervorosos que há muito clamavam por essa nova adaptação, viram seus desejos atendidos (ou não). Vale ressaltar que antes disso, tivemos outra adaptação por meio dos filmes, O Ladrão de Raios (2010) e O Mar de Monstros (2013), os quais, apesar de conquistarem alguns fãs, divergiram consideravelmente dos conceitos dos livros, gerando descontentamento devido a suas incoerências.
Após o cancelamento da franquia e a aquisição dos estúdios 20th Century Fox pela Walt Disney, a expectativa por um reboot cresceu. Quando a Disney assumiu, o anúncio de uma nova série para o Disney+ trouxe entusiasmo aos fãs. A notícia de que Rick Riordan, o próprio autor da série de livros, estaria envolvido na produção, supervisionando e escrevendo, finalmente se concretizou.
Eu gostei da série, mas reconheço alguns problemas. Primeiro, destacarei os aspectos positivos, pois desejo que a série prospere. Acredito que ela possui grande potencial para evoluir e espero ansiosamente por uma renovação para uma segunda temporada, com melhorias ao longo do tempo. A escolha de elenco, por exemplo, apesar das discussões sobre mudanças étnicas. Mas é importante notar que a maioria das decisões que diferem do livro para a série são feitas pelo próprio autor, que reconhece que faria algumas coisas de maneira diferente hoje, considerando que o livro tem mais de 15 anos. Destaco a qualidade do elenco, com crianças carismáticas e desempenho sólido do elenco adulto.
No entanto, a direção deixa a desejar ao não ser muito criativa ou inventiva, muitas vezes seguindo uma abordagem básica que não torna as cenas tão memoráveis quanto no livro ou mesmo desperdiça o talento dos atores juvenis. A sensação é de uma obra infantilizada, o que pode ser problemático para os leitores adultos que mantêm um apego à obra original. A abordagem mais simplificada pode ter agradado ao público infantil e aos adultos que têm filhos, mas desapontou aqueles que leram os livros durante a adolescência e agora são adultos, especialmente devido à longa espera pela adaptação.
Ainda assim, fico satisfeito com a adaptação do livro, seguindo a divisão em oito episódios, como era esperado. Aliás, essa mesma divisão foi algo que eu antecipei em um artigo que escrevi há algum tempo, especulando sobre como seria adaptado para uma série de streaming com oito episódios por temporada. No entanto, alguns cortes abruptos me desagradaram. A sensação de intervalos bruscos entre cenas prejudica a imersão, como se estivessem apenas representando a divisão entre capítulos, o que não é necessário em um formato de streaming.
A edição impactou momentos de transição entre cenários, deixando a sensação de falta de extensão ou crescimento do mundo. A ausência de transições visuais dos personagens indo de um lugar para outro cria um vazio e confusão, especialmente para quem não está familiarizado com o livro. A falta de narrativa também contribui para a dificuldade de compreender onde os personagens estão durante essas transições, algo que é mais evidente no audiovisual, onde o princípio ‘mostrar, não contar’ é valorizado. Seria benéfico suprir essa lacuna com elementos visuais, mostrando de forma mais clara as transições entre cenários, mesmo que de maneira aérea, para melhorar a imersão do espectador.
Apreciei algumas das mudanças feitas em relação ao livro, especialmente os flashbacks da infância de Percy com sua mãe foram muito bem-vindos. Eles proporcionaram uma explicação mais profunda sobre a formação do personagem, destacando o papel fundamental de sua mãe e a presença, ainda que distante, de seu pai ausente em sua vida. A série conseguiu transmitir de maneira eficaz as nuances da personalidade de alguém com TDAH, diferentemente do filme, que, em minha opinião, retratava essa característica de forma exagerada e caricata.
Entretanto, ao abordar as alterações, destaco que meu episódio preferido foi o sétimo, centrado em Hades. Toda a execução foi excepcional, desde o conceito até o cenário, proporcionando uma experiência vislumbrante. Parece que o orçamento da série foi especialmente alocado para este episódio. Se houve limitação financeira para efeitos visuais nos capítulos anteriores, isso foi superado nesse episódio. A série até apresentou elementos que não constavam no livro, enriquecendo a narrativa de forma fenomenal.
Em relação ao episódio final, embora tenha sido uma adaptação fiel, senti que, onde poderia ir além do convencional, ficou um pouco limitado. A conclusão deixou um vazio, sem o impulso para continuar. Embora eu deseje explorar mais esse universo, questiono se aqueles que não tinham interesse prévio na série sentirão o mesmo apelo por uma segunda temporada. O desfecho pareceu um tanto insatisfatório, carente de empolgação e de um gancho convincente. Até a cena pós-créditos pareceu um tanto vazia. Nesse aspecto, o filme, apesar de seus defeitos, conseguia criar cenas mais fenomenais e envolventes, enquanto a série muitas vezes pareceu apática. Isso pode ter prejudicado a experiência de muitos no final. No entanto, espero que a série seja renovada e que haja melhorias nesse aspecto nas próximas temporadas.