Uma mulher é suspeita de ter assassinado seu marido e seu filho cego enfrenta um dilema moral como a única testemunha.
Vencedor da Palma de Ouro no Festival de Cannes e indicado a 5 Oscars, incluindo Melhor Filme, nova obra da diretora Justine Triet faz jus à fama, provoca tensão e desconforto, ao mesmo tempo cativa e desperta a curiosidade de fofoqueiro que habita todos nós com a pergunta “será que foi ela?”
Vou focar em três das cinco indicações aos Oscars: Melhor Direção, Melhor Atriz e Melhor Roteiro Original.
Desde a primeira cena somos surpreendidos pela atuação de Sandra Hüller (intérprete de Sandra) que está sendo entrevistada por uma jovem mulher sobre seu novo livro e percebemos claramente que há uma tensão sexual entre as duas, ou que pelo menos Sandra está interessada em dominar a entrevista e descobrir mais sobre a entrevistadora. É a cena de abertura e fala muito sobre as relações familiares que vamos conhecer por todo o filme, com diálogos mínimos e interações à distância que dizem o suficiente para termos uma imagem do que está rolando entre o casal foco da história. Aqui todos os envolvidos em seus postos – à frente e atrás da câmera – executam suas funções de maneira impecável e isso se mantém até o final do filme.
A forma como a audiência vai descobrindo detalhes do passado íntimo do casal junto do júri que se forma após Samuel, o marido de Sandra, ser encontrado morto embaixo da janela do segundo andar funciona muito bem, pois gera a sensação de que a opinião de quem está assistindo importa para o resultado do julgamento. É uma quebra indireta da quarta barreira que, por 2 horas e meia, te prende e te cansa, mas não acidentalmente. O cansaço sentido por quem assiste o filme equivale ao sentido pelos personagens que passam mais de 1 ano sendo questionados frente ao júri popular, tendo sua intimidade exposta para todo o público.
Independente do veredito dado ao final da história, ainda é possível ter a discussão sobre o que cada um acha após o filme acabar. Afinal, vereditos não são necessariamente sobre a verdade, mas sim sobre o que se pode provar.