Dá pra dizer que Five Nights At Freddy’s (ou FNAF) é uma das mais bem sucedidas franquias de jogos de terror da atualidade. Desde seu primeiro e simples jogo repleto de sustos até continuações e spin offs que ampliam a história por trás dos mascotes assassinos da pizzaria do Freddy Fazbear. Era questão de tempo até que fosse adaptado para a telona – e demorou tanto que Nicolas Cage protagonizou uma cópia descarada há alguns anos – e agora que está entre nós, posso dizer que ela falha no mais básico e entrega algo muito abaixo do esperado.
A trama é simples: Mike (Josh Hutcherson) precisa se manter empregado para continuar sendo o guardião legal de sua irmã, Abby (Piper Rubio). Porém, isso tem sido um desafio para ele por carregar o trauma de perder seu irmão mais novo em um sequestro pelo qual ele se culpa. Logo no início vemos como esse trauma o afeta, numa situação em que ele suspeita que esteja acontecendo um sequestro no local de onde faz a segurança e acaba atacando um pai de família por engano. Logo depois ele passa por um conselheiro de carreira que lista suas diversas demissões – difícil acreditar que todas elas tenham relação com o trauma – e diz que não tem como ajuda-lo até que se assusta com seu sobrenome – de maneira nada sutil – e de repente lembra de uma vaga para ser o segurança de uma pizzaria fechada há décadas. Fica difícil curtir um mistério quando as pistas são arremessadas na sua cara – e mais ainda quando a explicação é a mais óbvia.
Mike começa sua jornada de trabalho sendo segurança noturno. As regras são explicadas, parecido com o que temos nos jogos: o equipamento de vigilância não é atualizado desde o fechamento e a parte elétrica não é confiável, então nem sempre todas as câmeras vão funcionar. Esse recado do recrutador sobre a montagem que revela o interior da pizzaria é muito legal por justamente ser fiel aos jogos – com destaque à recriação do interior da pizzaria que está igualzinha – mas devo dizer que as similaridades param por aí. Em vez de tentar simular, por uma noite que fosse, a rotina que os jogadores têm de verificar câmeras, tentar se manter trancado em segurança e tomar sustos de qualidade, temos uma recriação fraca da movimentação deles pelo restaurante e passamos mais tempo nos sonhos de Mike. Sim, é exatamente isso que falei: nos sonhos de Mike. Ele se droga para dormir e reviver toda noite de propósito a memória do momento em que seu irmão foi raptado para tentar identificar algo novo que o leve ao sequestrador. Por mais de 1 hora de filme só vemos isso e alguns personagens descartáveis sendo mortos pelos mascotes de maneiras pouco criativas e sempre fora da cena. O filme é tão feito para atender a classificação de 14 anos que uma personagem é partida ao meio e nós vemos isso pela sombra dela e sem uma gota de sangue.
SPOILERS DA TRAMA A SEGUIR! PULE PARA O ÚLTIMO PARÁGRAFO.
Em seus sonhos, Mike começa a ver mais 5 crianças lideradas por um menino loiro de blusa amarela que quer negociar a vida de Abby por informações sobre o sequestrador. Cada uma dessas crianças foi vítima de sequestro e todos aconteceram na pizzaria que por isso foi fechada. Após uma investigação rasa e um monte de diálogo expositivo, ficamos sabendo que o sequestrador era o único dos mascotes – o Coelho Amarelo – que era uma pessoa fantasiada. O que ele fez para não ser pego foi esconder seus corpos dentro dos mascotes animatrônicos. Como ele fez pra omitir o cheiro dos cadáveres? Ninguém lembrou disso pro roteiro e simplesmente você precisa aceitar que esse foi um plano genial que deu certo. Mas daí as almas das crianças possuíram os robôs mascotes e elas, sob a influência maligna do Coelho Amarelo, matam aqueles que ousam passar a noite na pizzaria. Porém, quando não estão sob sua influência, eles se comportam como crianças brincalhonas, como fazem com Abby. Mas então se esses seres sobrenaturais sofrem influência do Coelho Amarelo e o próprio consegue invadir os sonhos de Mike e se passar por um menino loiro, ele também deve ser um ser sobrenatural, não? E aí temos a revelação mais óbvia de todas: o Coelho Amarelo é o conselheiro de profissão que mandou Mike trabalhar lá. Está vivinho da Silva e vestido de Coelho Amarelo. Como ele tem habilidades sobrenaturais? Ninguém se importa em questionar. Então, assim como em O Rei Leão, os personagens convencem os mascotes possuídos a trair o Coelho Amarelo e assim ele é levado e Mike e Abby escapam.
FIM DOS SPOILERS.
Esse é o resultado de 8 anos de desenvolvimento: um roteiro que parece ter sido escrito às pressas depois de uma noitada, uma direção que mal liga para construção de suspense e uma classificação etária que não permite nem que exista terror num filme que no Brasil vem com o subtítulo “O Pesadelo Sem Fim”. Tenho pena dos fãs que vão bancar o primeiro fim de semana da bilheteria, mas não tenho pena do filme que sofrerá suas críticas duras – e merecidas – nas redes.