A mais nova ficção científica do diretor Gareth Edwards (Star Wars: Rogue One e Godzilla 2014) chega aos cinemas essa semana com uma divulgação que promete conflitos épicos, debates filosóficos e a caçada pelo responsável anônimo que continua a programar novas IAs para perpetuar a guerra. O que recebemos é uma história com viradas de roteiro previsíveis e um debate muito menos sobre inteligência artificial e muito mais sobre a natureza humana.
A história se passa em 2065, um futuro próximo onde androides portadores de inteligência artificial são parte normal da sociedade até que um ataque nuclear em Los Angeles faz com que os Estados Unidos banem sua presença em seu território e decretem uma guerra combatida na Ásia onde essas máquinas ainda são desenvolvidas e aceitas. Em meio a tudo, Joshua (John David Washington de Tenet), um soldado reformado após uma missão infiltrada falha, é enviado anos depois de volta ao conflito em busca do programador anônimo que continua a criação de novas IAs. Mas Joshua tem um objetivo próprio: reencontrar Maya (Gemma Chan de Os Eternos), sua esposa perdida durante sua última missão. Ele aparentemente é a escolha perfeita, pois além de estar investido emocionalmente para retornar também odeia as máquinas por perdas familiares no atentado de Los Angeles. Porém, seu tempo como agente infiltrado na resistência dos androides pode representar um risco à sua lealdade.
A história se assemelha com o atentado de 11 de Setembro e suas consequências: tragédia que gera ódio a nível nacional usada para justificar missões de guerra no Oriente que colocam em risco inocentes que moram lá. Já se passaram anos desde o atentado, não há nada que indique intenção das máquinas de estarem nos Estados Unidos, mas só a possibilidade é o suficiente. A história fica ainda mais política considerando que civis podem doar suas feições para que androides tenham rostos humanos, dando assim rostos asiáticos ao inimigo.
A equipe de Joshua recebe informações momentos antes da incursão de que existe uma arma secreta desenvolvida pelo programador anônimo que pode significar a vitória das máquinas. Aqui vemos a brutalidade dos soldados humanos invasores contra a população humana local – que servirá de contraponto mais tarde quando virmos o tratamento misericordioso que as máquinas dão à Joshua. A missão não vai como esperada, mas ele consegue chegar à tal arma: uma androide criança. Vale ressaltar aqui que androides são feitos já adultos e não envelhecem ou crescem. Logo entendemos que a criança tem a habilidade de controlar eletrônicos – com gestual extremamente simbólico, juntando as palmas das mãos como que em prece. Daí em diante tudo é bem previsível: o ódio de Joshua é desfeito quanto mais tempo ele passa com a criança, apelidada por ele de Alphie; A jornada dos dois é recheada de discussões religiosas e sociais; A revelação de quem programa novas IAs. O problema aqui não é ser óbvio, e sim ser tão parecido com as referências que servem de inspiração para a história que você pensa “eu já vi isso antes” e consegue prever os próximos acontecimentos. Talvez a intenção fosse repaginar esses debates clássicos da ficção científica e apresenta-los a um novo público.
A história tem potencial que seria melhor explorada em uma série de alto orçamento. Com pouco mais de 2 horas de duração, tudo se desenrola de maneira apressada, principalmente no terceiro ato, onde personagens chegam aos seus objetivos com muita facilidade. O interessante de acompanhar a jornada de heróis é ver como eles superam obstáculos e ganham por parte do público o senso de merecimento da vitória e aqui esses momentos de superação são eliminados pela edição. Eles simplesmente chegam aonde tem que chegar para a história ter o final épico de explosões e efeitos impressionantes com um melodrama pesado que depende totalmente de você acreditar no sentimento entre personagens que não tiveram tempo suficiente para te convencer.