Um menino começa a ouvir a voz de uma menina o chamando de dentro de sua parede toda noite, mas seus pais não acreditam. Depois de um acidente na escola que o menino diz ser culpa da voz, sua professora, preocupada, resolve conversar com os pais o que desperta nela uma suspeita de que talvez eles escondam um segredo sinistro.
Novo terror da Lionsgate faz mistério sobre se sua trama é sobrenatural, devaneios de uma mente adoecida ou o acobertamento de um crime real. Essa mistura faz a experiência de assistir e desvendar a verdade um jogo prazeroso entre audiência e filme, mas a satisfação depende do público estar aberto a errar e descobrir que talvez esteja assistindo uma história que não era a esperada.
Desde o início fica claro que o protagonista Peter (Woody Norman), um menino de 8 anos, não está confortável na escola. Vítima de bullying violento e da negligência de seus pais, ele ganha a atenção de sua professora substituta, Srta. Devine. Depois que Peter dá ouvidos à menina da parede e causa um acidente envolvendo seu bully, ele é expulso da escola e é posto de castigo por seus pais. Preocupada com seu aluno, ela visita os pais e percebe que algo no comportamento deles é estranho, seja nas escolhas de palavras ou na maneira como se vestem, ela sente que talvez Peter também tenha problemas em casa. Ela está mais certa do que pensa.
A atmosfera criada dentro de casa é de um conto de horror infantojuvenil ao estilo “João e Maria” ou “Coraline”. Por fora, uma casa feia e sem cuidado, com uma plantação de abóboras no quintal. Por dentro, tudo é organizado, colorido e quieto, como seus pais bem querem. Lizzy Caplan e Antony Starr estão perfeitos como os pais estranhamente polidos e alienados de Peter. Parecem um casal fora de seu tempo. Mas à medida que Peter dá mais ouvidos à voz na sua parede, ele descobre cada vez mais sobre o passado de seus pais e suspeita que eles escondam um segredo terrível. Daqui em diante entrarei em território de spoilers. Se não quiser saber pontos chave da conclusão, pule para o último parágrafo.
O primeiro e segundo atos são construídos lentamente, como um suspense. Pela maior parte do filme, não fica claro com o que estamos lidando até que Peter resolva seguir as instruções da voz, que diz ser sua irmã, e envenenar seus pais. Essa virada de roteiro é de tirar o fôlego e deixa a tensão no teto. Chegou a hora de Peter libertar quem quer que esteja presa na parede. Ao mesmo tempo, o bully e seus primos mais velhos empunhando tacos de beisebol chegam para se vingar de Peter, seguidos da srta. Devine. É nesse momento, em que todas as linhas narrativas convergem, que o filme mais erra. A irmã de Peter, uma figura deformada tanto por nascença quanto pelos anos vividos dentro da parede, emerge e sua voz muda para uma envelhecida que gargalha malignamente e aniquila os agressores com facilidade e brutalidade, matando o primeiro em poucos segundos. Sua demonstração de força é tamanha que você pensa “não tem como vencê-la!”. A única chance de defesa se encontra num artefato chamado “escudo de roteiro”. Perdão pela piada, mas é o que acontece. A maneira como srta. Devine e Peter sobrevivem e a derrotam é banal, com um puxão de cabelo de um menino de 8 anos que ela inexplicavelmente não consegue suportar depois de desmembrar 3 jovens adultos. Assim, ela cai em um poço profundo feito pelos pais anos antes para escondê-la, é trancafiada, jura vingança e a história termina assim.
Após um início e meio pacientemente construídos, que levantam hipóteses e diferentes suspeitas, a resolução parece desmerecida e desencontrada do todo. As lacunas na história deixam espaço para um prelúdio focado nos anos antes do nascimento de Peter, mas espero que não sigam essa moda. É como disse no início do texto: sua satisfação será condicional. Espero que seja o tipo de terror que você está buscando.
Toc Toc Toc: Ecos do Além chega aos cinemas dia 31 de agosto.